Breve antologia dos escritores de Macau

Uma viagem pelos vários autores que nos deixaram a sua visão e descrição de Macau, nos seus mais variados aspectos, permitindo-nos reconstituir a história e descobrir o “sentir” de Macau

 

Luis Gonzaga Gomes

 

Texto Maria de Lurdes Nogueira Escaleira

Professora-Adjunta da Escola Superior de Administração do Instituto Politécnico de Macau

Doutorada pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto

 

Macau tem servido de inspiração e de mote a escritores e poetas que aqui nasceram ou que por aqui passaram e se apaixonaram pelo exotismo de um pequeno pedaço de mundo, onde o Oriente e o Ocidente se encontraram e têm coexistido durante mais de quatro séculos. São muitas as páginas que trazem até nós o pulsar de Macau, o viver e o sentir das suas gentes, mais parecendo peças de um puzzle que nos levam de volta à Macau antiga. Estudar todo este legado é, quanto a nós, do maior relevo, contudo, por questões de tempo e, até, de metodologia, iremos centrar-nos nos escritores que nasceram e viveram em Macau e retratam as suas vivências e a história da sua terra na língua de Camões. A vida destes autores e a sua obra encontram-se dispersas por páginas de jornais (Ponto Final, Tribuna de Macau, Hoje Macau), artigos variados e nos prefácios dos livros dos autores, ou mesmo, em sites da Internet, como é o caso do site de António Conceição Júnior sobre a vida e a obra da mãe, Deolinda da Conceição ou, mais recentemente, nas redes sociais.

Assim, iremos, de forma sumária, fazer uma viagem pelos vários autores que nos deixaram a sua visão e descrição de Macau, nos seus mais variados aspectos, permitindo-nos reconstituir a história e descobrir o “sentir” de Macau.

É nossa opinião que, apesar da dispersão dos elementos, é necessário desenvolver estudos profundos e sistemáticos sobre os autores de Macau, não devendo, quem por ventura o fizer, negligenciar os autores que apenas publicaram um ou poucos livros, porque a intensidade das palavras, das personagens e dos factos irão, por certo, absorver o espírito atento e aberto a novas visões do mundo e do homem.

Para além disso, estes parecem-nos ser o tempo e o lugar certos para falar dos autores de Macau, visto que o recente desaparecimento de Henrique de Senna Fernandes e de Leonel de Barros despertaram consciências para a necessidade de divulgar as obras de autores de Macau e, por outro lado, para sensibilizar académicos e estudiosos de várias partes do mundo que podem contribuir para o estudo e divulgação da escrita de Macau, em língua portuguesa.

Iremos, assim, apresentar cinco ilustres “macaenses” que se atreveram a escrever em Língua Portuguesa, o que é, sem dúvida, um número muito reduzido, no entanto, como o próprio Senna Fernandes afirma:

 

Os autores macaenses foram sempre muito esporádicos. Em Macau nunca houve condições para desenvolver uma verdadeira literatura macaense. A pequenez do território e, por conseguinte, da comunidade portuguesa, aliada ao facto de Macau ter uma parca importância para Portugal, não proporcionava a existência de uma comunidade literária”. (…) Sempre me senti solitário nessa senda da escrita em português, na Ásia. A falta de incentivo e a indiferença do público desencorajavam sobremaneira quem tivesse o sonho de singrar pela escrita. Atrevo-me a dizer que escrever em português neste canto do mundo é puro desporto, que só a paixão o pode justificar. Quem tenha pretensões para voos mais elevados, a escrita em português não lembraria ao diabo!

Senna Fernandes, Henrique em entrevista inédita para O Globo

 

Após estas breves considerações, passamos, então, a apresentar os seguintes escritores de Macau: Luís Gonzaga Gomes, Deolinda da Conceição, Adé dos Santos Ferreira, Henrique de Senna Fernandes e Leonel de Barros.

 

Luís Gonzaga Gomes (Macau, 1907-1976)

Personagem plurifacetada e autor de uma obra diversificada, a qual  representa um importante contributo para os estudos e a história de Macau. Desde novo se assume como detentor de um bom conhecimento da língua e da cultura chinesas e como tradutor e intérprete, traduzindo tanto do Português para o Chinês como no sentido oposto. Na sua faceta de tradutor dedica-se à tradução de obras chinesas, consideradas importantes para o entendimento da história de Macau, das quais se destaca a tradução, em 1945/6, do livro Ou Mun Kei-Leok, de Tcheng U Lám e Jan Kuong Iâm, dois altos funcionários chineses que, no século XVII, visitaram Macau e procederam a um detalhado levantamento sobre a administração, os usos e os costumes dos residentes estrangeiros.  É, ainda, a sua vertente de tradutor que o leva a coligir e publicar, em 1941, o Vocabulário Cantonense-Português e, em 1942, o Vocabulário Português-Cantonense. Para a língua chinesa traduziu Os Lusíadas, contados às crianças.

É autor de vários artigos nos quais regista memórias e descreve aspectos da vida e da história de Macau e que, posteriormente, foram reunidos em Chinesices, Macau: factos e lendas, Curiosidades de Macau antiga, Lendas Chinesas de Macau e Efemérides da História de Macau. Desenvolveu um grande número de estudos etnográficos[1] e integrou a direcção de revistas especializadas e de instituições culturais, tendo desempenhado um papel activo na sociedade de Macau e sendo, ainda, reconhecido como um  musicólogo de relevo.

Através da sua vasta obra tenta contribuir para o intercâmbio entre portugueses e chineses dando a conhecer, aos portugueses de Macau, os usos e costumes chineses:

 

Há muita gente que, de vez em quando, sonha em voz alta, facto este que os chineses consideram como uma doença mas de pouca importância, por não afectar sensivelmente nenhum dos cinco principais órgãos da estrutura humana que para eles são: o ouvido, o olho, o nariz, a boca e o tronco.

Porém, se o caso se repete com mais frequência, a medicina chinesa classifica-o com o nome de LEI-UÂN-PÈANG, isto é “doença do afastamento da alma”, quando a não atribuam a travessuras de súcubos, e amaldiçoado será aquele que padece de tal doença, pois será tido como portador de impendentes infortúnios e de calamidades iminentes para a sua família. 

Gonzaga Gomes, L. Chinesices

               

Luís Sá Cunha, num artigo intitulado Luís Gonzaga Gomes: filho-rei-da-terra, descreve-o como a “mais misteriosa personagem nascida e vivente em Macau durante o século passado”, um homem que amava a sua terra e que teve como lema da sua vida “dedicação e serviço”.

 

Com serena dedicação tenaz, foi sendo tudo, em tudo intervindo, participando, influenciando, repuxando em mãos os fios de manipulação de todas as  peças de uma cidade como num teatro de fantoches: ele foi professor, investigador, historiador, etnógrafo, jornalista, tradutor, poliglota, sinólogo, escritor, bibliotecário e arquivista, coleccionador de arte e museólogo. Ele foi tudo e em toda a parte: filho-rei-da-terra.

 Sá Cunha, Luís in revista Macau

 

É ainda Sá Cunha que realça uma importante faceta do Gonzaga Gomes quando nos refere que:

 

Luís Gomes nasceu em Macau, pequeno ponto amuralhado no mapa do globo terrestre; teatro de encontro de dois grandes universos culturais, ainda tão distantes e desconhecidos. E logo pensou lançar pontes, transcender limites, ir respirar mundo para o trazer intra-muros. Para tanto foi antena de recepção  e transmissão de notícias, novidades, de informações, fontes documentais e memórias, da herança musical da humanidade.

 

Homem de cultura e sinólogo, participou no Círculo Cultural de Macau, criado em 1950 com a finalidade de “promover a divulgação da cultura artístico-literária, especialmente a portuguesa… e tornar Macau, sob todos os seus múltiplos aspectos, melhor e mais perfeitamente conhecida na Metrópole, nas restantes colónias portuguesas e em todos os pontos do mundo onde se fale a língua-pátria”. Para além de um variado leque de actividades (actuações em palco, organização de debates e exposições, promoção de actividades desportivas e emissões radiofónicas, etc) o Centro Cultural de Macau publicava, mensal ou trimestralmente, a revista trilingue Mosaico, português, chinês e inglês (último número data de Dezembro de 1957), e na qual participaram vários escritores, entre os quais, Graciete Batalha, Luís Gonzaga Gomes e Henrique de Senna Fernandes.

 

Deolinda da Conceição  (Macau, 1914-1957)

Primeira escritora e jornalista de Macau, professora e tradutora. A sua vida está marcada pelo sofrimento causado pela Guerra do Pacífico, facto que está bem presente na sua obra, repleta de descrições de quadros de extrema pobreza e de luta pela sobrevivência.

 

Que lhe importavam os preconceitos, as tradições, a decência e a dignidade e tudo quanto faz parte da vida normal se aquela que viviam fugia a todas as regras que conhecera até ali? Se ele não conseguia trabalho ela saberia prover os meios para ao sustento da família, ainda que para isso tivesse que vender a alma e o próprio corpo.

Conceição, Deolina. (1995). Cheong-Sam,18

 

Deolinda da Conceição viveu numa Macau onde o preconceito predominava e a mulher era subjugada ao homem, trazendo para a escrita muita da sua vivência de mulher  divorciada, que luta para sustentar dois filhos e que se afirma num mundo de homens. Brookshaw identifica-a como uma mulher do seu tempo e, também, uma mulher à frente do seu tempo, apesar de ter vivido as consequências da guerra e numa cidade pequena e conservadora como era a Macau daquela época. “She was the lone female voice among a group of Macanese intellectuals which emerged after the austere war years and flourished during the 1950s”.

A mulher é o tema central e recorrente em toda a sua escrita e, em quase todas as suas crónicas, a mulher assume, directa ou indirectamente, o lugar central, quer na luta contra o preconceito, quer  no sofrimento devido à pobreza que grassava na época ou ainda como a alma que sofre por amor.

 

Estamos perante uma  escritora que mergulha até ao limite nesse pulsar plural que é Macau escolhendo para as suas histórias mulheres que, pela sua determinação, pelo sua força, pelo modo como lidam com o sofrimento, saem do anonimato para se transformarem em heroínas, sujeitos principais de um mundo onde aparentemente apenas se podem mover nos bastidores.

Laborinho, Ana Paula in Conceição, Deolinda. (1995). Cheong-Sam

 

Tendo vivido em Macau, Hong Kong e Xangai revela um profundo conhecimento dos usos e costumes chineses e portugueses, bem como, da teia de sentimentos que assola os que nasceram do cruzamento entre portugueses e chineses. Ao lermos o conto “A Esmola” ficamos atónitos ao perceber que a escritora, em apenas 3 páginas, nos transporta para uma Macau dos tempos antigos e, de forma simples mas densa, nos fala de um turbilhão de sentimentos vividos por personagens características da Macau da época.

 

O pai, sabia-o ele, tinha vindo de longe, da velha Europa, (…). A mãe era aquela pobre mulher chinesa, ignorante, de pé descalço,  (…) que o pai levara para casa um dia e que ali se encontrava ainda numa situação indefinida (…) a mãe que ele amava no seu íntimo e de quem se envergonhava na sociedade.

Conceição, Deolinda. (1995). Cheong-Sam, 27-28

 

O amor tem lugar na sua obra mas, também, este é abalado pelas consequências da guerra, como por exemplo, no conto Cheong-Sam, A-Chung mata Chan Nui, a esposa que ele ama e admira, mas a autora vai dando ao leitor uma justificação para os actos das personagens, mesmo para o crime, pondo na boca de A-Chung a justificação para aquele terrível acto: “Maldita guerra! Maldita guerra, que tudo lhe levara e que fizera dele um criminoso, um assassino, um pai sem coração, um homem sem raciocínio”. O amor entre os homens portugueses, normalmente soldados, e as mulheres chinesas (O Calvário de Lin Fong) falam da felicidade do encontro, das dúvidas e incertezas, dos choque de costumes e da submissão da mulher chinesa que obedece à vontade do homem e que, quando este parte para a sua terra natal com promessas de regresso, fica à espera que ele regresse de Sai Iong (Portugal) para poderem viver a felicidade prometida.

Deolinda colaborou com os jornais Voz de Macau, Diário Popular e  Notícias de Macau onde publicou vários artigos e, neste último, trabalhou de forma regular tendo integrado  a redacção e orientado o suplemento feminino. É enquanto responsável pelo suplemento feminino que reflecte sobre a situação  da mulher que (Conceição:19-12-1949)…

 

(…) vivera condenada durante muitos séculos (… ), que só saía de casa aos domingos, acompanhada pela sua ama, para ir à Missa ou à procissão onde ia expor uma piedade muitas vezes forçada e que não tinha senão o brilho do verniz da capa do livro que ela folheava distraidamente a fim de esconder a sua abstracção de momento

 

… e apela para que a mulher use a sua liberdade e dê o seu contributo em “quase todos os ramos da vida onde o homem imperava sem rival”  sem que, no entanto, perca “ (…) a sua sensibilidade feminina ou tornem o homem isento das suas responsabilidades que lhe eram impostas pelo código social até então”.

Em 1949, num texto visado pela censura, a autora afirma que …

 

A liberdade, sobretudo quando é usada excessivamente, não liberta verdadeiramente a mulher. Prende-lhe aos pés uma grilheta, e toda a mulher de bom senso sabe que o seu uso discreto e limitado a colocará em situação não só de superioridade perante o homem, como fará dele o seu mais dedicado servidor.

 

Deolinda da Conceição, mulher, escreve sobre mulheres, dando a conhecer essa ignorada metade do  céu que na sombra ajuda a construir o infinito” (Laborinho:1995), uma mulher que enfrenta o preconceito, assume a sua liberdade e chama a si a responsabilidade de dar a conhecer a Macau de então através do sentir no feminino.

A autora, quer através das personagens que vão desfilando nas suas crónicas, quer nos artigos publicados nos jornais, tece uma lúcida crítica à sociedade da época, revelando uma profunda reflexão sobre o contexto social e político de Macau e do mundo. Em 1952, num artigo intitulado A época do Carnaval e o Carnaval da época! escreve:

 

A Humanidade, vivendo constantemente escondida por detrás duma máscara imposta pelas convenções e pela praxe, descansa durante os dias do Entrudo (…) Mas a época do Carnaval passa célere. Porém o Carnaval da época, esse que preside a tantos actos sérios da vida, esse que domina até as nações e impera como déspota na Sociedade, esse jamais passará, descansa apenas durante três dias, porque o mundo teria de ser outro e bem outro para que ele desaparecesse completamente. O carnaval de todos os dias, o carnaval das relações de conveniência, o carnaval das mentiras ditas com serenidade, o carnaval da hipocrisia mascarada de virtude, do vício vestindo o hábito da santidade, da intriga e da inveja, o carnaval dos apertos de mão escondendo intenções reservadas, dos sorrisos a encobrir projectos maldosos, da honestidade a disfarçar ambições ilegais, enfim o carnaval que a época presente vive, esse é que é o verdadeiro carnaval. Olha-se em roda e o cortejo carnavalesco não tem fim. (…)
A época do carnaval não é senão uma pausa feita para tomar fôlego, para que o carnaval de todos os dias possa continuar sem interrupção forçada.

Conceição, Deolinda. (1952). Jornal “Notícias de Macau”

 

Deolinda da Conceição dedicou a sua vida à crítica literária e artística, escreveu crónicas, editoriais e alguns ensaios de ficção. Contos e crónicas da escritora foram reunidos em Cheong-sam. A cabaia, livro publicado em 1956, em Portugal, e reeditado, em Macau, em 1995, pelo Instituto Cultural de Macau[2].

As suas crónicas, publicadas nas páginas do Notícias de Macau, são (Brookshaw) “(…) a popular genre widespread in the press of the Portuguese-speaking world given its focus on a moral theme or contemporary issue, illustrated by the narration of an incident drawn from everyday life”. A simplicidade, intensidade e a riqueza das suas (Brookshaw) “(…) stories, and the role she played in the rebirth of the Portuguese-language press after the War, make her a unique figure in the literatures of Macau, China and the Portuguese-speaking world”.

 

Deolinda da Conceição era uma Macaense de identidade portuguesa, transportando em si, como a maioria dos seus conterrâneos, a capacidade de, desde o berço, conviver e falar o cantonense, e bem assim o inglês. A condição de macaense permitia-lhe compreender o Outro, pois desde pequena se habituara à multiculturalidade desta cidade, aos odores e sons característicos que povoavam Macau do seu tempo.

Júnior, António C. (2008)

 

José dos Santos Ferreira ou Adé  (Macau, 1919 – 1993)

Funcionário público e, mais tarde, secretário da STDM (Sociedade de Turismo e Diversões de Macau) foi, ainda, professor e, na sua faceta de escritor, colaborou em vários periódicos portugueses editados em Macau, foi co-fundador de alguns e Chefe de Redacção de O Clarim, Diário Popular, Diário do Norte e da revista Volante.  A sua colaboração com a imprensa passa, também, pelo China Mail de Hong Kong e pela agência Associated Press.

O nome Adé transporta-nos, contudo, para uma Macau de tempos antigos que se teme venham a desaparecer e para memórias guardadas por quantos tiveram a felicidade de ouvir o doce embalar do   dóci papiaçám di Macau (dialecto de Macau). De facto, a simbiose entre o dóci papiaçám e Adé é, por um lado, o resultado de uma vida em defesa do patuá e, por outro, o reconhecimento do valor e do esforço de um homem que se multiplica em desvelos e traz para as luzes da ribalta a voz  que está a esvair-se e que é preciso revitalizar, dar uma nova vida e um carinhoso alento. Autor de peças teatrais, contos e poesia, é também ele que toma a seu cargo o ensaio e a direcção das peças em patuá.

Embora  tendo dedicado uma grande parte da sua vida a  defender e divulgar o patuá, abraçou, também, outras causas, sociais, culturais e desportivas, e colaborou em programas de rádio.

Poeta e prosador, Adé escreveu, na língua maquista, Poéma di Macau (1983) e Macau, Jardim Abençoado (1988), tendo a Fundação Macau editado, em 1996, as obras completas do autor. Alguns dos poemas, escritos em patuá, foram musicados e reunidos em CD.

Sobre a sua obra Macau: O Jardim Abençoado – Dialecto Macaense o autor, na dedicatória aos leitores, na Edição do Instituto Cultural de Macau – 1988, refere que se trata de…

 

(…) um livrinho simples e despretensioso, como o são, afinal, a terra de sonhos e o bom povo de quem fala. Tudo que há nele, página a página, de verso em verso, foi ditado pelo coração, escrito com o amor que Macau nos inspira em todos os momentos e actos da nossa vida”. E acrescenta que a maior parte “(…) é apresentado na doce “língua maquista “, esse aliciante dialecto antigo criado pelos nossos maiores e que constitui, sem dúvida, uma das mais características tradições desta terra repassada de glórias e sentimentos cristãos, bem orgulhosa da Pátria que jurou amar para todo o sempre.

 

É ainda Adé que, na referida dedicatória, nos fala do objectivo que pretendia atingir ao escrever o “livrinho”:

O mavioso dialecto entrou em vias de completa extinção. Dentro de escassos anos, dele nada mais restará senão uma pálida lembrança, como o tanger nostálgico duma suave melodia cheia de reminiscências. Será então talvez, que este livrinho e outros pequeninos trabalhos por nós trazidos a lume começarão a ser acolhidos como coisa útil deixada à posteridade. É com este pensamento que hoje nos damos por felizes com a oferta que fazemos a Macau. Jardim Abençoado, terra de encantos que nos foi berço, de mais um contributo nosso para a divulgação do seu fascinante dialecto antigo.

Ainda na dedicatória de Macau: Jardim Abençoado, Adé deixa transparecer a sua preocupação com a transferência de soberania: “Enlevo do nosso coração, Macau, pequenina e graciosa, gentil e acolhedora, está prestes a perder algo de muito importante que religiosamente guardou através da sua existência quatro vezes secular – a sua própria identidade como filha de Portugal”. Dirigindo-se aos leitores dá conta da sua visão sobre a atitude dos homens que aqui nasceram ou passaram algum tempo:

A Cidade do Nome de Deus foi sempre olhada com carinho por muitos dos que tiveram o ensejo de compartilhar as suas alegrias, nas horas felizes, e sentir os embates das suas vicissitudes, nos transes difíceis. É certo, é triste ter ela sido também, e não poucas vezes, tratada com assomos de arrogância e insinceridade, levianamente lograda por espíritos interesseiros que dela se têm servido para alimentar ambições desmedidas. Os espíritos mesquinhos vêm movidos pela ganância, colhem avidamente os frutos cobiçados e regressam fartos, falando, ainda por cima, mal da terra e das suas gentes. Desses, porém, nos devemos esquecer, diligenciando por apagar da memória laivos de façanhas repugnantes.

 

Macau é o tema central da obra de Adé, uma Macau pequenina, Filha de uma Pátria grande!  a que o autor chama “berço” e por quem nutre um “Amor ardente”. (Poema: Macau Pequinino/Macau Pequenina)

Macau cristám, Iou-sa único riquéza, Minha tudo ancuza na vida.Tera di Nómi Santo

Qui Mai di Deus, co ternura,

Cubrí co Su quimám di séda.

Macau cristã, Minha única riqueza, Meu tudo na vida; Urbe de Nome Santo

Que a Mãe de Deus, com ternura,

Cobriu com o Seu manto de seda

 

O mesmo amor é dedicado a Portugal a quem reconhece a valentia e a coragem de cruzar os mares e vir a terras longínquas trazer a fé cristã.

 

Portugal, Di más grándi na Estória di Mundo,Di más cristám na Mundo Cristám…Pátria di gente corajoso,

Qui cruzá mar medonho,

Já vai tera estranho,

Cavá, vêm estuhga vánda,

Assi lóngi,

Criá vôs,

Fazê vôs cristám,

      Portugal,       Dos maiores na História do Mundo,      Dos mais cristãos no Mundo Cristão…      Pátria de gente destemida

      Que, cruzando mares temerosos,

      Demandou terras estranhas,

      Veio a estas paragens longínquas,

      E te criou e te fez cristã,

 

A lealdade de Macau a Portugal, mesmo nos momentos mais difíceis, é exaltada e louvada dando a Macau e às suas gentes, que amam Portugal, uma nobreza de carácter e uma amor inabalável pela Pátria distante.

 

Macau qui na mau tempo,Na ora di calmaria, Sempri têm na su coraçámAcunga quirido di tudo nôs:

PORTUGAL!

Macau, que na tempestade, No tempo de bonança, Jamais deixou de aconchegar no coraçãoO querido de todos nós:

PORTUGAL!

 

O sonho de que Macau conserve as suas características e continue a sua ligação a Portugal estão presentes nos versos que Adé dedica à  Macau, “beleza dos meus olhos, Sol da minha vida…”  quando a questiona…

 

Qualunga di nôs dôs Lôgo vai más aZinha, iou nom sabe: Si iou, Di estunga váli di lágri, Co tudo iou-sa pecado,

Si vôs,

Di grándi Família Lusitano,

Co vôsso obra meo-ramatado.

       De nós os dois,       Qual abalará primeiro, não sei dizer: Se eu,       Deste triste vale de lágrimas,       Com todos os meus pecados,

      Se tu,

      Da grande Família Lusitana,

      Com a tua obra inacabada.

 

… e humildemente lhe faz um pedido …

 

Intrestánto, Macau, Bérço abençoado, Farol alumiado di iou-sa fé;Dessá iou vêm pedí co vôs:

Qui na chuva, qui na dia bonito,

Na alegria, Ó na tristéza,

Guardá sempri na vôsso coraçám,

Quente, respetado,

Nómi di nôsso quirido Portugal.

Entretanto, Macau, Berço abençoado, Farol luminoso da minha fé; Deixa que te implore:

Quer chova, quer faça tarde linda,

Na alegria ou na tristeza,

Guardarás sempre no teu coração,

Aquecido, respeitado,

O nome do nosso querido Portugal.

 

 

Henrique de Senna Fernandes  (Macau, 1923-2010)

Advogado, bibliotecário, professor e escritor é, sobretudo, recordado como um exímio contador de histórias e um homem comprometido com os desafios do seu tempo, de Macau e dos “macaenses”.

 

Ensinou-nos a estudar com prazer a disciplina que para muitos não passava de uma grande chatice ou mesmo um mero soporífero! Ele empolgava-nos com as suas discrições das guerras, das invasões francesas, até mesmo da pormenorizada escalpelização ou discrição anatómica da estatua da Deusa Venus de Milo que de facto nunca ouvi tão perfeita e tão rigorosa apresentação! (…)  estas aulas que para nós eram melhores do que sessões de cinema nos Teatros Apolo, Nam Van, Vitória , Império ou Lido (…).

Luís Machado “Ao meu grande Mestre Henrique”, Jornal Tribuna de Macau, 06-10-2010

 

É com grande naturalidade que Henrique de Senna Fernandes vai dando a conhecer a sua história de vida, os seus amores e desamores, os seus encantos e desencantos, como se tudo fosse surgindo ao acaso e ele fosse aproveitando o melhor de cada momento da vida.  É esse acaso que o leva a escrever desde os 11 anos quando o comentário do professor à sua redacção, “tinha ideias, continua… e que era preciso ler mais”, o motivam e lhe dão confiança para se aventurar no mundo da escrita.

A incursão pelo romance surge (Tai Chung Pou, 30-09-2007) de um desencontro daqueles que decidem a vida de uma pessoa:

 

Como todas as histórias que realmente merecem ser contadas, foi uma história de amor que esteve no início de tudo. Andava no liceu, adolescente, tinha começado então o primeiro ano da década de quarenta do século passado. Ela era “tão bonita, tão realmente bonita”, uma das mulheres mais bonitas de Macau, e ele apaixonou-se. Ao contrário dos filmes, a história não teve um final feliz. “Foram desencontros e mais desencontros, más compreensões” e aquele “amor platónico” nem sequer vivia das palavras, que não se falavam. Mas há um dia no liceu em que desceu do primeiro andar para o rés-do-chão e cruzaram-se. “Deitou-me um olhar rápido, mas tão perturbador. Mas este parvo não fez mais nada, não soube actuar”, recorda. “São esses pequenos desencontros que decidem a vida das pessoas”. Este foi, talvez, o mais decisivo.
As aulas acabavam às 4h30, antes das seis já estava em casa. “Estava tão inspirado, já estava na minha mente fazer uma história. Fui para a sala de jantar, papel branco almaço e lápis, escrevi ‘capítulo primeiro’. E fiz uma história, o meu primeiro volume”
.

 

Os primeiros escritos não foram publicados, nem restam manuscritos ou cópias “O livro acabou por se perder, juntamente com outros”, “Deu-se na vizinhança um incêndio (…). O baú apanhou água. Quando fui tirá-lo, bem como os livros que lá estavam, já não se aproveitava nada”. “Cheguei a publicar nos anos 40 do século passado no semanário diocesano O Clarim três contos, infelizmente não fiquei com nenhuma cópia[3]”.

Desempenhando um importante papel no panorama cultural e na esfera social de Macau, era um  defensor da cultura macaense e do patuá, tendo o seu recente desaparecimento desencadeado várias iniciativas, entre as quais a homenagem, organizada pela Universidade Nova de Lisboa e, no âmbito da qual realizámos um inquérito por questionário (11-10-11 e 10-11-11, total de 319 respostas) do qual iremos destacar alguns dos aspectos mais significativos sobre o autor e a sua obra.

H. de Senna Fernandes é uma figura amplamente conhecida e, simultaneamente, reconhecido como escritor, no entanto, no que concerne à questão relativa ao nível de conhecimento da sua obra, deparámo-nos com um cenário diferente, visto muito poucos terem lido todos os livros e cerca de metade dos inquiridos nunca ter lido nada que consiga identificar como sendo deste autor. Sem dúvida que as obras mais lidas são Amor e Dedinhos de Pé e Trança Feiticeira sendo que este facto se deve, em nosso entender e em grande parte, à influência dos filmes baseados nestas obras, os quais foram filmados e, posteriormente, exibidos em Macau, o que despertou o interesse pela leitura destas duas obras. Os contos Nam Van – Contos de Macau e Mong-Há – Contos de Macau são pouco conhecidos e os artigos publicados pelos jornais raramente são referidos.

Através dos vários relatos de entrevistas ao autor, transparece uma certa mágoa por não ter conseguido publicar nenhuma das suas obras em Portugal e é devido a esse desencanto que passa a identificar-se como um escritor de Macau sem, no entanto, deixar de afirmar o seu amor a Portugal.

Em Macau, foram editados e traduzidos, para chinês e inglês, Amor e Dedinhos de Pé, Trança Feiticeira, Nam Van – Contos de Macau e Mong-Há – Contos de Macau. A colectânea de fascículos  sobre cinema, publicadas na década de 70 do século passado na revista Confluência, e reunidos no livro Cinema em Macau, publicado em 2010 pelo Instituto Internacional de Macau, revelam-nos a sua paixão pelo cinema, uma das suas facetas menos conhecida, e dão-nos a conhecer o estilo de vida da época.

No prelo um livro que reúne fascículos publicados no jornal Ponto Final, A Noite Caiu em Dezembro.

O Instituto Cultural de Macau “(…) editou e co-editou várias obras do escritor nas línguas chinesa, portuguesa e inglesa, a saber, Amor e Dedinhos de Pé (em chinês), A Trança Feiticeira (em chinês e inglês – The Bewitching Braid), Nam Van (em português), Mong-Há (em português).

Fora de Macau, (Rangel, 2009) o nome do escritor tomou algum destaque na sequência da rodagem dos dois filmes baseados nas suas obras “Amor e Dedinhos de Pé” e “Trança Feiticeira” e com o lançamento, no Brasil, em 2009, das obras “Amor e Dedinhos de Pé” e “Nam Van-Contos de Macau” sendo anunciada a publicação, ainda no decurso do mesmo ano, de “Trança Feiticeira[4]”.

Colaborou com os jornais A Voz de Macau, Notícias de Macau, O Clarim e Gazeta Macaense, e com as revistas O Mosaico e a Revista de Cultura de Macau. A sua colaboração com a rádio é-nos referida por Luís Machado (JTM:06-10-2010) que nos dá conta da presença de H. Senna Fernandes na Rádio Macau onde gravou “(…) muitas horas com as suas crónicas (…) relatadas em encontros mensais de uma hora nos estúdios, e depois passadas em episódios de 10 minutos (…) ” .

A sua obra revela-nos um autor profundamente conhecedor da sua terra, que o inspira e lhe serve de cenário e de tema para os seus romances, indo buscar as  personagens às memórias de pessoas reais com as quais se cruzou nos seus inúmeros passeios por Macau, que são a mistura de várias pessoas ou, apenas, fruto da sua imaginação. Os seus livros falam de histórias de amor, das diferenças sociais e dos preconceitos que transformavam os amores vividos entre diferentes etnias, macaenses e chineses, numa complicada trama de sentimentos. O amor e a mulher são sempre o foco da sua escrita revelando uma profunda admiração pela figura feminina e cantando o amor que afirma ter uma enorme influência na vida das pessoas, que leva a cometer imensos erros mas que, por vezes, é a salvação.

Sobre o autor, Isabel Castro, no artigo As palavras que queremos não morrem, jornal Ponto Final, do dia 5 de Outubro de 2010, escreve:

 

Quero acreditar que Henrique é imortal, que não foi embora, que os livros dele vão mesmo ser reeditados, que as obras que deixou por publicar vão ser dadas à estampa e que o esquecimento que o marcou em vida vai dar lugar à maior homenagem que pode ser feita a um escritor: os seus livros estarem nas livrarias, nas mãos dos leitores, nas estantes das pessoas que gostam do passado que vai além do que está nos livros de História, de perceber como chegámos aqui. Senna Fernandes era uma casa, uma cidade, várias cidades, um mundo grande que merece ser lembrado na lusofonia.

 

Este facto relembra-nos que, apesar de existirem já alguns estudos, embora raros, como é o caso dos artigos publicados por José Carlos Venâncio e David Broockshaw, bem como a obra de Yao Jingming e Lúcia Lemos, existem ainda muitos cantos da “casa”, da “cidade”,  das “várias cidades” e do “mundo grande”  à espera de serem descobertos e revelados .

 

Leonel de Barros (Macau, 1924-2011)

Escritor, pintor, desenhador, músico, escreve sobre as histórias de Macau, as lendas e as tradições que a sua curiosidade e memória foram descobrindo e arquivando e que, a partir de 1980, saltam para as páginas da Tribuna de Macau (mais tarde JTM, com quem manteve uma  colaboração regular desde 1982 a 2011) e, posteriormente, são reunidas e  publicadas em livros.

Apaixonou-se pela escrita e afirma escrever, à mão, diariamente porque a escrita é um vício e uma paixão que partilha com outros dois grandes amores: o desenho e os animais. O seu interesse por animais levam-no a tirar um curso de veterinária, por correspondência, e a adquirir bons conhecimentos, tanto de botânica como de ciências médico-veterinárias, o que lhe permitiu ter um importante papel na instalação do Museu Marítimo, no Mini-Zoo do Jardim da Flora e na antiga Granja do Parque de Seac Vai.

A fauna e a flora são retratados em vários desenhos e pinturas tendo-lhe dado, também, a oportunidade de, num livro[5] sobre aves e cobras de Macau, aliar a escrita ao desenho sendo, simultaneamente, autor do texto e das ilustrações.

Os usos, costumes e as lendas chinesas são contados para dar a conhecer aos portugueses a cultura e as tradições chinesas.

Leonel de Barros vai desfiando as suas memórias e, pouco a pouco, as peças vão-se amontoando e alinhando, dando forma a uma parte da história vista a partir de Macau:

 

Portugal declarava-se assim um país neutro. Macau, porém, não ficou indiferente. Logo após a ocupação japonesa das três províncias do Nordeste da China, os habitantes de Macau reuniram apoios materiais e espirituais. (…) Foram criadas associações de assistência que enviaram para o interior da China várias equipas para reforçar a resistência chinesa e dar apoio às vítimas da guerra.

Barros, Leonel, JTM 01-09-2011

 

Publicou, com o apoio da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), em 1999, Macau-Coisas da Terra e do Céu e, posteriormente, editados pela Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM) Templo, Lendas e Rituais –Macau  e Memórias Náuticas, em 2003, Tradições Populares, 2004, Memórias do Oriente em Guerra-Macau 2006, Homens Ilustres e Benfeitores de Macau, 2007, Igrejas de Macau e Cerimónias Religiosas, 2010.

 

Conclusão

Em jeito de conclusão gostaria de deixar algumas das ideias que apresentei relativamente a H. de Senna Fernandes e que, em nosso entender, se estendem a todos os autores que acabamos de citar, bem como a todos os outros que escreveram em e sobre Macau.

A presença em Macau do português e do chinês, como línguas oficiais, e do inglês como língua de comércio e de comunicação no quotidiano social e de trabalho, obrigam a um esforço acrescido para que todos possam ter acesso a estas obras. Se bem que a tradução para chinês e, também, para inglês seja já uma realidade em alguns casos, pensamos que esta deve contemplar todos os escritores sendo esta uma tarefa que se nos afigura urgente e necessária para que Macau, onde a maioria da população não domina a Língua Portuguesa, possa “ler” sobre Macau e conhecer pedaços da sua história. Tudo o que vier a ser publicado deveria seguir a estratégia de pensar sempre nas duas línguas, em Português e em Chinês, porque, desta forma, fomenta-se a convivência cultural e “convidam-se” os leitores de Língua Chinesa a conhecer as “estórias” de Macau.

O Instituto Cultural de Macau tem um importante papel a desempenhar, cabendo-lhe, em nossa opinião, a tarefa de reeditar tanto as obras que se encontram esgotadas como as restantes, bem como editar as que, eventualmente, possam sair do fundo das gavetas e conhecer a luz do dia.

Às instituições governamentais e não governamentais de Macau e de Portugal cabe a missão de desenvolver e apoiar iniciativas de divulgação, dos autores e das suas obras, nos Países de Língua Portuguesa (PLP). Uma das iniciativas do governo de Macau poderia passar pela oferta às bibliotecas escolares dos livros destes autores, acompanhando esta iniciativa com a organização de seminários sobre a vida e a obra dos mesmos.

A introdução da leitura dos escritores de Macau nas escolas é uma iniciativa que nos parece adequada por parte das instituições de ensino, públicas e privadas, onde se ensina o/em Português aconselhando-se o recurso, para além dos livros, a meios audiovisuais, à internet, documentários, filmes, etc. de forma a motivar os jovens

As instituições competentes devem promover e apoiar o debate e estudos sobre a literatura de Macau mas, em nosso entender, os investigadores têm que chamar a si a tarefa de dar os primeiros passos e de  se assumirem como “guardiões” e difusores de um importante legado para a história de Macau.



[1]Incansável na curiosidade e na investigação, escreveu mais de cento e cinquenta estudos de temática etnográfica para dar a conhecer à cultura portuguesa e à comunidade portuguesa de Macau as tradições, contos, lendas, memórias, costumes, festividades e mundividência chinesas”. Luís Sá Cunha em http://www.revistamacau.info/index.php/cultura/luis-gonzaga-gomes-filho-rei-da-terra.html (07/03/2011).

[2] O livro “Cheong-Sam” está traduzido em  Chinês e vai na 5ª edição e alguns dos contos foram traduzidos para Inglês.

[4] Informações retiradas da página online do ICM http://www.icm.gov.mo/pt/News/NewsDetail.aspx?id=9108 (24-10-2010)

[5] Barros, Leonel.  Guia ilustrado de cobras venenosas de Macau e das ilhas, da Taipa e Coloane com recomendações para os primeiros socorros sobre mordeduras / por L. Barros  Macau : Centro de Informação e Turismo, 1978.