De pedra e cal

O Banco da China, em actividade desde 1912, é um dos dez grandes bancos do mundo e o maior em Macau. Consolidou agora a sua presença em países de língua portuguesa, com a abertura recente de um escritório de representação em Angola e de uma sucursal em Portugal. Moçambique será o próximo destino. Em Macau, o banco está enraizado desde há 63 anos. Hoje mantém-se de pedra e cal na cidade, detendo mais de 40 por cento da quota de mercado, 30 agências e 1300 funcionários

 

Banco da China_GLP

 

Texto Cláudia Aranda | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

O edifício sede da sucursal de Macau do Banco da China, com 38 andares e 160 metros de altura, inaugurado em 1991, já foi um dos mais altos a destacar-se no horizonte da península. Hoje, a paisagem encontra-se dominada pelos mais de 300 metros de altura da Torre de Macau e uma linha quase cerrada de arranha-céus que albergam os hotéis e casinos que começaram a surgir a partir de 2001. O edifício mantém a sua imponência e, ao fim de mais de 20 anos, continua a destacar-se na arquitectura que rodeia a Praça de Ferreira do Amaral. No entanto, são inúmeras as outras referências que fazem com que o Banco da China e a respectiva sucursal na RAEM se evidenciem na cena financeira local e internacional.

Em Macau, o Banco da China, cuja sede é em Pequim, conseguiu em 63 anos de presença no terreno estabelecer “uma base sólida de clientes, constituída sobretudo por residentes locais, ganhando uma posição de liderança no mercado”, descreve um porta-voz da sucursal do banco na RAEM à revista MACAU. É o maior banco da cidade dos 29 autorizados pela Autoridade Monetária de Macau (AMM), detendo uma quota de mais de 40 por cento do mercado. O banco tem como lema “Enraizados em Macau – Firmes em servir” e orgulha-se em servir, não apenas o sector empresarial (o chamado corporate) mas, também, clientes individuais, assim como retalhistas e pequenas e médias empresas, integrando na sua carteira de clientes praticamente “todos os segmentos da comunidade local”.

No final de 2012, a sucursal do banco em Macau operava através de uma rede de “30 filiais distribuídas no território, que empregavam acima de 1300 funcionários, dos quais mais de 90 por cento eram residentes locais”, refere a instituição. Em 2012, a sucursal registou um lucro de 2,41 mil milhões de patacas, um aumento de 30 por cento em relação ao ano anterior. Naquela mesma data, o banco na RAEM detinha activos perto de 350 mil milhões de patacas e mais de 620 mil contas activas. Ou seja, detinha mais contas bancárias do que a população da cidade, que totaliza 552.500 indivíduos, de acordo com os Censos de 2011. O Banco da China em Macau é também desde 1995, um dos dois bancos emissores de moeda na RAEM, a par do Banco Nacional Ultramarino.

 

Cidade de oportunidades

Nos últimos anos, a sucursal na RAEM do Banco da China tem vindo a prestar especial atenção “às oportunidades oferecidas pelo rápido desenvolvimento económico de Macau”, refere o porta-voz. O banco “apoia o Governo da RAEM no seu posicionamento estratégico de construção de um centro mundial de turismo e lazer”. Neste contexto, a instituição tem estado “activamente envolvido no financiamento da construção de infra-estruturas na cidade”, prestando apoio ao desenvolvimento da indústria de entretenimento através do “financiamento de projectos de grandes hotéis”. Um dos acordos de financiamento mais mediatizados foi aquele estabelecido com a empresa Macau Cable TV. O Banco da China em Macau assinou com aquela companhia, em 2012, um acordo para um empréstimo – em consórcio com o Banco Tai Fung – no valor de mil milhões de patacas para investimento em infra-estrutura e equipamentos.

O apoio às pequenas e médias empresas (PMEs) é outra das apostas do banco. A instituição criou um segmento de prestação de serviços orientado para o desenvolvimento daquele tipo de negócios, com fornecimento de linhas de crédito e modos de pagamento de empréstimos hipotecários ajustados às PMEs. Uma boa parte dos beneficiários são retalhistas e pequenos e médios empresários com actividade no sector da restauração.

Em resultado da aceleração do crescimento económico local, liderado pela indústria do jogo e de entretenimento e com base na confiança que esse boom se manteria por mais dez a 20 anos, o Banco da China em Macau foi mandatado pela sede em Pequim para abrir um segmento de private banking, o qual inaugurou em Março de 2008. O Banco da China foi o primeiro banco chinês a fornecer serviços de private banking no Interior do país, abrindo as suas primeiras unidades de private banking em 2007 em Pequim e Xangai. Não foi todavia pioneiro, uma vez que outros bancos estrangeiros já haviam introduzido o private banking na China antes. Em Macau, os serviços desta linha posicionam-se no sentido de captar clientes de altos rendimentos, empresários com negócios na região do Delta do Rio das Pérolas, assim como, e sobretudo, a nova geração de milionários da China.

 

Rota da lusofonia

Os países de língua portuguesa fazem parte da estratégia recente de expansão da rede mundial de atendimento do Banco da China. Depois do Brasil, onde uma sucursal foi aberta em São Paulo em 2009, chegou a vez de abrir um escritório de representação em Angola, em Dezembro de 2012, e de uma sucursal em Portugal, em Julho de 2013. Espera-se que o negócio venha também a “irradiar para Moçambique”, afirmou o porta-voz da sucursal do banco em Macau.

“O desenvolvimento económico e comercial entre a China e Angola nos últimos anos trouxe uma crescente demanda por serviços financeiros”, justificando-se uma presença permanente do banco naquele país africano, refere um comunicado do banco publicado no website da instituição.

A China é o principal parceiro comercial de Angola, país que exporta sobretudo petróleo. É neste contexto que, em Dezembro de 2012, o banco inaugurou oficialmente um escritório de representação em Luanda, a quarta organização permanente do Banco da China no continente africano, depois da Zâmbia, África do Sul e Quénia. Este novo escritório destina-se sobretudo a prestar serviços de consultoria em termos de financiamento e de investimentos, podendo “realizar, localmente, levantamentos preliminares de avaliação” e “fazer a ligação dos mercados interno (chinês) e externo, de modo a ajudar as empresas (chinesas) a estabelecerem negócios”, explica o banco.

Também a sucursal do banco na RAEM tem procurado beneficiar do posicionamento de Macau enquanto plataforma estratégica para a relação entre o Banco da China e os países da lusofonia. Nos últimos anos, a instituição tem apostado no “reforço da cooperação com organizações e entidades financeiras de Portugal e de outros países de língua portuguesa”, afirma o porta-voz. Neste contexto, foram assinados protolocos de cooperação com bancos, tais como o português BPI (Banco Português de Investimento) e o angolano BFA (Banco de Fomento Angola). Estes acordos remetem a 2006 e incidiram sobre o financiamento do comércio externo através de uma linha de crédito de apoio às exportações da China e de Macau para Angola e transferências de imigrantes chineses em Angola. A sucursal do Banco da China em Macau estabeleceu ainda acordos com o Moza Banco, de Moçambique, e outros bancos com filiais em Macau.

 

Top 10 mundial

O Banco da China estabeleceu-se em Macau através da aquisição e integração em 1986 do Banco Nan Tung, fundado em Junho de 1950 pelo empresário chinês Chuang Shih-Ping, uma figura eminente em Macau e Hong Kong, fundador do Banco Nan Tung e do Banco Comercial Nanyang. A nova instituição bancária herdou assim os respectivos negócios bancários e base de clientes, conseguindo que toda a actividade até então desenvolvida pelo Banco Nan Tung prosseguisse sem quebras. Por essa razão, a data geralmente considerada como a de instalação do Banco da China em Macau é o ano de 1950.

O Banco da China, fundado em 1912 em Xangai, é a única entidade bancária na China a operar de forma contínua desde há 100 anos. Actualmente é uma das cinco maiores entidades financeiras estatais da República Popular da China e um dos dez maiores bancos do mundo.

O banco está na nona posição em termos mundiais, de acordo com a lista anual dos 1000 maiores bancos do mundo publicada pela instituição britânica The Banker. Esta publicação inclui quatro instituições estatais chinesas nos dez primeiros lugares da tabela mundial, entre os quais o novo número um do ranking, o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC, na sigla inglesa). O China Construction Bank e o Agricultural Bank of China são os outros bancos chineses que fazem parte daquele grupo. O quinto maior banco chinês é o Bank of Communications, que o The Banker coloca na 30.ª posição da tabela mundial.

O Banco da China opera em toda a China Continental através de uma rede de mais de 10 mil agências. Está presente em, pelo menos, 36 países, para além de Hong Kong, Taiwan e Macau. Emprega mais de 302 mil pessoas, colocando-se no top 50 dos maiores empregadores do mundo da lista Fortune Global 500. Esta tabela estabelece o ranking anual das 500 maiores corporações do mundo em termos de receitas e é elaborada pela revista norte-americana Fortune. Em 2012, o Banco da China surgiu nesta lista na 70.ª posição.

 

Banco e comunidade 

O Banco da China em Macau faz questão de cumprir aquilo que considera suas obrigações em termos de responsabilidade social da empresa. O objectivo das empresas em cumprirem voluntariamente essas responsabilidades é o de contribuir para a sociedade local de forma positiva e gerir o impacto das suas operações quotidianas em termos sociais e ambientais, por forma a assegurar a sua competitividade. No caso do Banco da China em Macau essas actividades têm se centrado na organização de eventos para a recolha de fundos destinados a instituições de caridade locais, assim como ao apoio às vítimas de catástrofes naturais na China.

O Banco da China em Macau atribui ainda anualmente bolsas de estudos a alunos locais. Em 2012 “mais de 78 estudantes de diferentes instituições de ensino superior de Macau beneficiaram da Bolsa de Estudos do Banco da China, cujo valor correspondeu a um total de quase um milhão de patacas”, refere o porta-voz do banco.

A instituição vai continuar a apoiar a sociedade local com actividades de beneficência, afirma o director-geral da sucursal de Macau do Banco da China, Ye Yixin, também presidente da Associação de Bancos de Macau, no Relatório de Actividades, publicado em Boletim Oficial em Maio de 2013. Ye Yixin refere ainda o objectivo do banco de continuar a envidar esforços para aumentar a qualidade da prestação de serviços, priorizando uma maior conveniência e adequação às necessidades dos clientes através, nomeadamente, do aperfeiçoamento dos serviços electrónicos.