1.500 pessoas estudam português em Goa

Independentemente da sala de aula ou da idade, todos os anos há cerca de 1.500 estudantes a aprender português em Goa. Difícil mesmo é saber por quantos é falado naquele pequeno estado indiano, outrora pertença de Portugal.

 

“Falantes de português em Goa? Não sei, e duvido que alguém saiba. Em números redondos, anualmente, estudam português cerca de 1.500 alunos divididos pelos vários níveis de ensino”, afirma, à agência Lusa, o responsável pelo Centro de Língua Portuguesa do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua – e leitor na Universidade de Goa.

Segundo Delfim Correia da Silva, há “um aumento gradual e consistente” do número de alunos em Goa, “numa tendência que se tem verificado sensivelmente nos últimos oito a dez anos”. “Depois daquele interregno, que foram os acontecimentos de 1961, houve, de facto, um impasse muito complicado: o português deixou de ser língua obrigatória e praticamente só com o reatamento das relações diplomáticas entre Portugal e a Índia (1974) e nomeadamente com a instalação das instituições portuguesas – como o Consulado, o Camões e a Fundação Oriente – é que se verificou um novo reacendimento e procura pelo português”, observou.

Delfim Correia da Silva exemplifica: “No nível secundário os números há uns anos eram relativamente reduzidos – entre 200 e 300 alunos – e segundo informações que obtive recentemente, há uma tendência, embora pequena, de crescimento. Na universidade, isso é muito mais evidente: os números dispararam”.

“Costumo dizer que se houvesse mais professores qualificados poderíamos ter aqui uma situação verdadeiramente surpreendente em termos da procura pelo português”, realçou o docente, cuja “experiência indiana” começou em 1996 em Nova Deli e continuou em Goa, onde vive desde 2008.

Actualmente, cerca de 800 alunos estudam português no ensino secundário – do 8.º ao 12.º ano de escolaridade -, enquanto no ensino superior há aproximadamente uma centena, com 70 inscritos em cursos opcionais que o Departamento de Português da Universidade de Goa oferece (língua, cultura portuguesa, cinema e arte) e dez alunos do Mestrado em Estudos Portugueses no mesmo estabelecimento de ensino – o único em toda a Índia que disponibiliza esse nível.

E na Índia, como assinala o cônsul-geral de Portugal em Goa, António Sabido da Costa, “há uma percepção grande de que Goa pode ser uma mais-valia em termos do ensino do português”.

Prova disso mesmo, revelou, é que “várias multinacionais indianas abordaram instituições portuguesas com a perspectiva de que havia muito mais gente a falar português em Goa do que há na realidade”.

No plano dos cursos livres, além do Centro de Língua do Camões – que conta anualmente com cerca de cem alunos -, há outros polos, como o Chowgule College, em Margão, com o qual existe um protocolo, e instituições como a Indo-Portuguese Friendship Society e a Communicare, a somar a um grupo de associações que ensinam a língua de Camões um pouco por todo o estado indiano, explica Delfim Correia da Silva.

O Departamento de Português é o mais pequeno figurando como “uma espécie de Goa dentro da própria universidade”, pelo que se debate com “alguns problemas de infra-estruturas e sobretudo ao nível do corpo docente”, observa o leitor, optimista, porém, em relação ao futuro. “A Universidade abriu um programa de oferta de postos e estou muito confiante que, com a contratação de professores qualificados, o Departamento de Português possa dar o salto que toda a gente espera, ou seja, poder responder de forma mais eficiente às solicitações não só do mercado de trabalho, mas também da área académica”, indicou Delfim Correia da Silva.

O Departamento de Português da Universidade de Goa conta, neste momento, com dois professores a tempo inteiro e com a colaboração de outras duas docentes, que asseguram duas cadeiras.

Apesar de o rácio professor/aluno ser semelhante ao de outros departamentos, Delfim Correia da Silva reconhece a dificuldade em contratar docentes. “É complicado. Desde o século XVI que era difícil convidar portugueses para virem para a Índia, porque não é propriamente fácil viver nesta zona do planeta”, acrescendo a isso as dificuldades burocráticas, a adaptação à vida e aos valores culturais, concluiu o mesmo responsável.