“Viagem por Macau” revela olhar estrangeiro durante quatro séculos

A obra "Viagem por Macau", que reúne relatos de cerca de 100 autores estrangeiros que passaram pelo território entre os séculos XVII a XX, foi lançada pelos autores e editores Cecília Jorge e Rogério Beltrão Coelho.

“Viagem por Macau” tem mais de 1.600 páginas distribuídas em quatro volumes e é uma co-edição da Livros do Oriente e do Instituto Cultural de Macau. A obra é fruto de um trabalho de investigação iniciado há 30 anos e surge depois de, em 1997 e 1999, terem sido lançados dois volumes até ao século XIX, que foram em parte o resultado de uma biblioteca que os autores construíram sobre a China e Macau.

A antologia, lançada em Macau, deverá ser publicada posteriormente em Portugal, disse Rogério Beltrão Coelho à agência Lusa, sem avançar uma data. “Esta obra amplia os conteúdos do século XVII até ao século XIX, e introduz o século XX até aos anos 70. Além disso, nas edições de 1997 e 1999 havia biografias incompletas e, nalguns casos, nem sequer existiam, e nesta edição há notas biográficas de todos os autores”, acrescentou.

Os autores internacionais – navegadores, missionários, escritores e jornalistas – que escreveram crónicas, livros, cartas e diários sobre Macau, são apresentados nesta obra nas suas línguas originais (francês, inglês, italiano, espanhol, alemão e neerlandês) e com respectiva tradução em português.

Até ao século XIX “há duas grandes componentes, que são as viagens à volta do mundo e as embaixadas à China: embaixadas dos franceses e sobretudo dos ingleses, que enviaram várias missões até conseguirem Hong Kong”.

Nos primeiros séculos da investigação conjunta com Cecília Jorge, Rogério Beltrão Coelho nota “arrogância e racismo” nos relatos dos viajantes, que traduzem o desejo das potências ocidentais de dominarem a China.

Já no período referente ao século XX encontram-se “turistas, homens e mulheres que vêm a Macau em excursões próprias – como uma baronesa austríaca que veio num veleiro com a família toda e com a tripulação de 40 pessoas – e jornalistas europeus”, cujo interesse por Macau é despertado e acentuado com o período da Revolução Cultural e implantação da República Popular da China.

O facto de terem passado vários jornalistas e escritores por Macau “faz com que algumas descrições tenham um conteúdo literário de muita qualidade e de muito interesse”, salientou.

Desse tempo ficou o olhar de figuras ligadas à indústria do cinema de Hollywood e de autores de renome como o britânico Ian Fleming, mais conhecido pelas histórias de espionagem de James Bond, ilustrou Beltrão Coelho.

A antologia termina propositadamente na década de 70 para “dar um distanciamento de 50 anos à investigação e deixar uma margem de reflexão”, concluiu.