Palanquim chinês (轎, jiao)

Criado para transportar velhos e doentes, o palanquim chinês reinou até ao século XX, fazendo as preferências de ricos e poderosos. Aberto ou fechado, como cadeirinha ou liteira, este meio de transporte vingou nos quatro cantos do mundo e entrou na Europa pela mão dos portugueses

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Em Macau, o palanquim foi o primeiro meio de transporte local e era fundamental para a harmonia da paisagem social do século XVII, sobretudo a feminina, cuja presença era esmagadora em Macau. Como descreveu o viajante inglês Peter Mundy, que aqui se demorou cerca de seis meses em 1637, as mulheres mais abastadas usavam palanquins ricamente decorados, o que era de todo conveniente pois era norma não serem vistas em público.

Os homens de Macau também eram fãs da cadeirinha mas na temporada de negócios que passavam em Cantão, não estavam autorizados a usar o palanquim. Eram ordens dos chineses que também os impediam de levar mulheres ocidentais para a China, aprender chinês ou negociar com outros mercadores que não os hongs.

Apesar de rapidamente se renderem aos seus encantos, dado o acidentado do terreno e a falta de saneamento das ruas, os ocidentais não se perdiam de amores pelo palanquim à chegada a Macau. Muitos consideravam que implicava um esforço desumano para os carregadores, que podiam ser homens ou mulheres, entre dois a oito para se revezarem se a viagem fosse longa ou difícil.

Quanto maior fosse o número de carregadores e mais aprumados estes se apresentassem, mais elevado era o estatuto do seu dono. O palanquim dos ricos e poderosos era assim como um automóvel de luxo que se faz notar à passagem e imediatamente dá nota da importância do passageiro.

A cadeirinha manteve-se útil até ao século XX, quando atingiu o pico de popularidade em Macau, apesar do riquexó – que só tomou conta das ruas após a II Guerra Mundial – ser hoje a imagem de marca destas terras exóticas. Em Hong Kong era igualmente importante, tanto que o advogado português Leo D’Almada e Castro acreditava que, por alguma razão, no século XX “andar a pé implicava perder a face”.

Na China o palanquim teve um percurso acidentado e o registo mais antigo da sua presença no Império do Meio data dos primórdios da Dinastia Qin (221 a.C. – 206 a.C). Como na Índia e no Egipto, transportou os mais importantes e alguns palanquins eram de tal forma elaborados que chegavam a incluir uma cama e uma tenda. Mas consta que foi banido das ruas chinesas no tempo de Mao Tse-tung (anos 50 do século passado), ainda que haja quem alegue que apenas caiu em desuso graças aos avanços tecnológicos. Apesar de ter perdido lugar de destaque na China, a verdade é que a liteira continuou bem presente nas cerimónias religiosas ou de grande importância para a família, como os casamentos, sobretudo nas zonas rurais. A tradição do palanquim da noiva manteve-se bem viva até aos anos 60 do século passado. Hoje em dia, as cadeirinhas são sobretudo utilizadas por turistas em busca de uma experiência diferente nas suas visitas aos locais de eleição da China, como é o caso das Montanhas Huangshan, na província de Anhui.

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Etimologia

A palavra “palanquim” é de origem malaia (palāgki) e só entrou no vocábulo português por volta de 1530. O termo foi depois adoptado noutros países europeus, como palanquin em Inglaterra e em França, ou palankin na Alemanha. Mas há quem discorde desta teoria e estabeleça uma relação entre esta palavra e o latim phalanga que significa “bastão de carregador”. A acreditar nesta versão, terão sido os portugueses a levar o termo para Malaca e não ao contrário.