Lusofonia | Entrevista a João Caboz Santana

Dirigente garante que a presença das entidades locais na associação lusófona de comunicações traz-lhes grandes benefícios, através das sinergias resultantes do contacto permanente com os mercados internacionais que falam português

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Texto Nuno G. Pereira | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

Como define a importância da Associação Internacional das Comunicações de Expressão Portuguesa (AICEP) no universo da lusofonia?

A AICEP acompanha as comunicações lusófonas (Macau e os oito países de expressão portuguesa) há 25 anos, estudando a sua convergência no contexto de evolução e importância crescente do sector. Temos na nossa associação os operadores de correios e de telecomunicações, os respectivos reguladores e, desde o ano passado, também as televisões. Em qualquer economia as comunicações desempenham um papel fundamental. Sendo alguns dos países representados na nossa associação grandes motores de crescimento mundial, veja-se bem a importância que o sector tem, e cada vez mais terá, no seu desenvolvimento.

 

E onde entra a língua portuguesa, já que no sector das comunicações há uma presença avassaladora do inglês?

Tudo o que disse é relevante no mundo da lusofonia, na medida em que o português é também, a par das comunicações, um dos eixos estruturantes da nossa associação. É a quinta língua mais falada do mundo, a terceira na Internet e a primeira no hemisfério sul. Portanto, os negócios – e neste caso as comunicações em português – têm um peso muito importante. Nesse pressuposto, se todos os países da lusofonia fossem uma só economia seria a quarta mundial, o que dá uma ideia da importância das comunicações da lusofonia como factor de coesão social e de criação de emprego nas respectivas economias.

 

Como é que a associação é motor da convergência das comunicações no espaço onde se fala português?

A acção da AICEP é sobretudo de estímulo ao desenvolvimento, com um vasto plano anual de actividades, presente nas diferentes geografias de onde são oriundos os cerca de 40 membros associados. Procuramos contribuir para o seu crescimento enquanto organizações fundamentais num sector de grande dinâmica, tendo por base as tecnologias de informação. Quanto mais trabalharmos nessa valorização, através de formação, networking e inserção em projectos de cooperação, mais lhes criamos competências. Esta é a nossa missão, contribuindo assim para a consolidação das comunicações em língua portuguesa.

 

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De que forma é que associados com contextos tão diferentes podem encontrar uma união proveitosa para todos?

A AICEP tem uma característica singular: actua em geografias muito distintas, em diversas valências. E todos os membros aprendem uns com os outros, graças à partilha de experiências. Estas sinergias permanentes fazem com que os resultados sejam de grande criação de valor para cada associado. Haver países com um estado de evolução mais acentuado não é um problema, mas uma mais-valia para o exercício da actividade da AICEP. A troca de experiências é muito mais rica, aprendemos com os erros uns dos outros e valorizamos aquilo de bom que cada um está a fazer. No final do dia temos grandes resultados e saímos com muito mais competências.

 

Ao promover essas sinergias, a AICEP também gera negócio entre os seus membros?

Não é esse o objectivo da associação, mas pôr todos os envolvidos a falar entre si permite que desenvolvam parcerias. E é fantástico que surjam assim novas oportunidades de negócio.

 

Há muitos casos desses?

Sim, já há várias parcerias formadas.

 

Macau é uma porta privilegiada para os países de língua portuguesa entrarem na China. Como é que a AICEP olha para esta oportunidade?

Procura aproveitar da melhor forma possível. Macau tem representação na nossa associação desde 1996, através dos sectores postal (Correios de Macau) e de telecomunicações (CTM) e, desde 2013, da Direcção dos Serviços de Regulação de Telecomunicações. Só falta o outro grande operador, a TDM, mas há contactos nesse sentido e esperamos boas notícias em breve. Temos muito orgulho em ter estes membros. É uma presença que demonstra a consolidação do português falado em Macau e dá aos associados locais a oportunidade de estarem em permanente contacto com todos os mercados lusófonos. Ao mesmo tempo, os outros associados podem acompanhar o desenvolvimento do sector das comunicações, também muito acelerado, na Ásia, concretamente em Macau e no resto da China.

 

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Líderes reúnem em Macau

“Um Futuro em Rede: Oportunidades e Desafios” foi o tema do Encontro de Altos Dirigentes da AICEP que se realizou no final de 2014, decorrendo pela primeira vez em Macau. Em dois dias de “intenso trabalho”, como sublinhou João Caboz Santana, “ousou-se pensar o futuro do sector”. A base dos debates esteve em quatro pilares – banda larga, mobilidade, digitalização e virtualização –, mas as conversas debruçaram-se sobre as incertezas que o futuro das telecomunicações enfrenta, em aspectos como consolidação dos mercados, papel da regulação, mudanças sociais, evolução das economias, avanços tecnológicos. “Vivemos a era do digital, da convergência, da mobilidade. Falamos por isso na era do consumidor, que nunca teve tanto poder como agora – é ele que dita as regras. É este debate e as suas múltiplas ramificações que destaco. De privacidade, de segurança, de como os modelos de negócio têm de ser adaptados, tornando-se cada vez mais digitais, entre outras questões que se colocam nesta nova era.”