China sugere a Portugal estabelecimento de “faixa económica”

O embaixador da China em Portugal desafiou Portugal a estabelecer com o seu país uma “faixa económica” na Europa, nas celebrações do décimo aniversário da parceria estratégica bilateral.

 

“Acreditamos que Portugal, posicionado no centro da rota marítima do Atlântico, poderá ter um papel imprescindível na realização de faixas de uma rota na Europa”, referiu o embaixador Huang Songfu numa intervenção em português, na presença do chefe da diplomacia portuguesa, Rui Machete.

“Convidamos Portugal a aproveitar esta oportunidade e a explorar juntamente com a China a possibilidade de cooperação no quadro de uma faixa e uma rota, promovendo assim a nossa cooperação pragmática em benefício dos dois povos e elevando a parceria estratégica global sino-portuguesa para um novo patamar”, acrescentou, após também manifestar o interesse em aprofundar a cooperação “no domínio do mar”.

O diplomata chinês foi um dos convidados na sessão inaugural do Colóquio institucional para assinalar os 10 anos de parceria estratégica Portugal-China que decorreu esta manhã na Sala do Senado da Assembleia da República. “As relações sino-portuguesas encontram-se num novo ponto de partida, com novas oportunidades. A parte chinesa está disposta a desenvolver de forma dinâmica a cooperação em todas as áreas”, insistiu o representante de Pequim, após recordar que a China apresentou recentemente à comunidade internacional a “iniciativa da faixa económica da rota da seda e da rota da seda marítima do século XXI”.

Uma faixa e uma rota, explicou, para intensificar a “cooperação entre a Ásia e a Europa e nas áreas da construção, infra-estruturas, transportes, investimento, comércio, cultura, e outras áreas.”

Na sua intervenção, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros (MENE), Rui Machete, tinha já sublinhado a “excelência do relacionamento político e diplomático entre Portugal e a China”, a “bem sucedida transferência da administração do território de Macau, e onde a “dimensão económica” assume um peso crescente.

Para além destas celebrações em torno do décimo aniversário da parceria estratégica global, os dois países assinalaram em 2014 o 35.º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a China.

O chefe da diplomacia destacou os “grandes investimentos de companhias chinesas no processo de privatizações de empresas portuguesas” nos sectores da energia e segurador, com o reforço das relações económicas bilaterais “em forte medida igualmente sustentado pelo notável papel das empresas portuguesas” e que tornou a China o 12.º parceiro comercial do país em 2014.

O ministro português apontou ainda o interesse das duas partes em desenvolverem “experiências de cooperação triangular, em particular nas esferas da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] e do Fórum para a Cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa”.

Esta plataforma, designada Fórum Macau, afirmou-se como um “ponto de ligação privilegiado entre a China e os Países de Língua Portuguesa, potenciando uma cooperação estratégica com relevância política e comercial crescente”, sublinhou.

O “grande potencial económico da língua portuguesa, reconhecido pela China, e o “impressionante crescimento” das trocas comerciais, uma progressão de mais de 300 por cento em seis anos, e que tornou a potência asiática num dos principais investidores estrangeiros em Portugal “quer por parte de corporações estatais, quer por parte de grupos privados” não deixou também de ser assinalado pelo ministro, numa comprovação do crescente peso da diplomacia económica.

“Com efeito, Portugal foi, em 2014, o país da UE com maior peso do investimento directo chinês face ao PIB, e, em termos absolutos, ficou em quarto lugar no mercado europeu, apenas atrás do Reino Unido, Itália e Holanda”, precisou, sem deixar de sustentar o “papel relevante” que o investimento e os investidores chineses presentes em Portugal poderão desempenhar no mercado de capitais.

Rui Machete recordou que o número de turistas chineses que visitaram Portugal em 2014 “superou os 113 mil, tendo crescido mais de 50% em comparação com 2013”, destacando que as relações políticas e económicas bilaterais atingiram “um patamar sem precedentes”.

Os “10 anos da parceria estratégica global Portugal-China” e “O presente o futuro das relações entre Portugal e a República Popular da China” foram os temas abordados antes da sessão de encerramento, com a intervenção de diversos convidados.