Negócios | Quatro estrelas de Macau para Bissau

Numa altura em que muito se fala da cooperação entre a China e os países de língua portuguesa, há quem passe das palavras aos actos. É o caso do empresário de Macau John Lo, que volta a apostar na Guiné-Bissau, desta vez no ramo da hotelaria

 

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Texto Sofia Jesus | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

É num terreno de cerca de 1500 metros quadrados que vai nascer a mais recente aposta de John Lo na Guiné-Bissau. O empresário de Macau planeia começar a construir ainda este ano um hotel de quatro estrelas no centro da capital do país africano. Um investimento que está avaliado em 30 milhões de euros, ou seja, o equivalente a mais de 291,7 milhões de patacas.

A ideia de erguer uma unidade hoteleira na capital do país, Bissau, existe “há já alguns anos”, conta o presidente da Sociedade Internacional Grupo Excelente, mas a instabilidade política no país levou ao adiamento da sua concretização. Agora, alega, estão reunidas as condições para avançar com o plano: “Acredito que o novo Governo [liderado por Domingos Simões Pereira e que tomou posse em 2014] pode ser estável.”

O projecto, explica John Lo, consiste na construção de um hotel de cinco andares, que incluirá também uma cave, e que deverá disponibilizar “entre 80 e 100 quartos”, além de uma sala de conferências com capacidade para 200 a 300 pessoas. A unidade hoteleira deverá ter ainda dois restaurantes, um de comida chinesa e outro de gastronomia ocidental, “provavelmente cozinha portuguesa”.

O empresário reconhece que a Guiné-Bissau não é um país virado para o turismo, mas não se mostra preocupado. “Na Guiné-Bissau, as infra-estruturas não são muito boas. Os visitantes estrangeiros são geralmente pessoal das organizações não governamentais, empresários ou pessoas que participam em conferências. Este é o alvo”, revela, dizendo acreditar que haja mais congressos no país no futuro.

Além de engenheiros e outros técnicos especializados, que poderão vir da China ou de Portugal, a construção do hotel contará com mão-de-obra local, já que, argumenta John Lo, há muitos trabalhadores guineenses com boa experiência na área da construção civil que desempenharam funções em Portugal ou noutros países europeus. Mais tarde, quando o hotel estiver em funcionamento, a ideia é também oferecer emprego aos locais, o que poderá passar pela contratação de “entre 100 e 150 trabalhadores guineenses”. Estes profissionais poderão vir a receber formação especializada por parte de Macau, um território que, lembra o empresário, é “muito forte” na área da hotelaria.

 

Mais projectos

As ligações de John Lo à Guiné-Bissau remontam ao ano de 2000. O também cônsul-honorário do país em Macau reconhece que de início os investimentos no país africano o fizeram “perder dinheiro”, mas garante que a iniciativa começou a dar lucro a partir de 2005. Hoje, dispõe de alguns terrenos no país e sonha já com outros projectos.

Um dos possíveis negócios está relacionado com a construção de um prédio residencial na Guiné-Bissau, o que implicará ainda negociações com os bancos locais. Outra das ideias é a construção de um edifício comercial com escritórios para alugar, por exemplo, a eventuais investidores chineses ou de outros países asiáticos. Na calha está também a construção de uma fábrica que produza águas engarrafadas. Por outro lado, há já uma parceria com a cidade chinesa de Zhuhai para a exploração de viveiros de camarões e que tem como alvo o mercado europeu.

 

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Novos investidores

O empresário acredita que talvez tenha sido um dos primeiros de Macau a avançar com este tipo de projectos na Guiné-Bissau, mas adianta que hoje em dia há algumas empresas da RAEM que poderão estar interessadas em avançar também, inclusive da área da banca.

De acordo com John Lo, em termos gerais o número de investidores estrangeiros na Guiné-Bissau tem vindo a crescer nos últimos anos. Uma tendência que justifica com o facto de os custos associados aos investimentos neste país não serem muito altos e com a falta de uma concorrência agressiva.

John Lo considera que apesar da grande distância que separa os continentes africano e asiático, no futuro, mais empresários vindos do Oriente deverão apostar em África, onde lhes será mais fácil rentabilizar os investimentos, já que gozam de uma “maior experiência” e da possibilidade de “apresentar novas ideias” em locais onde os negócios “não são muito fortes”. Por outro lado, lembra, a China é um país-fornecedor de enorme dimensão, o que faz com que os empresários chineses possam comprar “produtos ou equipamentos [na China] a custos muito baixos”.

 

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Estender a mão

Mas será que a Guiné-Bissau e outros países africanos vêem com bons olhos este tipo de investimento proveniente do outro lado do mundo? John Lo está convicto de que sim. “Dão as boas-vindas [a este tipo de projectos]. Precisam de investidores estrangeiros. Estes podem ajudá-los a melhorar as técnicas ou a melhorar a sua experiência. [Este tipo de relações] permite dar-lhes a ver mais”, afirma, lembrando que em África “há muita gente que nunca saiu do seu país” e, apesar de a Internet ser hoje em dia “muito popular”, há realidades que podem ser fáceis de “ver”, mas onde não se chega a “tocar” directamente.

Relação de 15 anos, a cooperação entre John Lo e a Guiné-Bissau tem sido visível também a nível das doações que o grupo empresarial de Macau tem feito para o país africano. Arroz, material hospitalar e carros de combate a incêndio são alguns dos produtos e equipamentos fornecidos nos últimos anos à Guiné-Bissau. Para 2015, está previsto o envio de cerca de 200 computadores e outro tipo de material informático para o parlamento guineense, estando também aberta a possibilidade de mais tarde se enviar um conjunto de computadores usados em bom estado para dar resposta às necessidades dos estudantes.

Em Macau vivem actualmente “entre três e cinco dezenas” de guineenses, estima o empresário, que lhes presta apoio na qualidade de cônsul-honorário, um cargo que exerce desde 2008. Entre estes guineenses estão bolseiros da Fundação Macau e outros estudantes universitários.