Moçambique no Fórum de Macau: “Através do Fórum podemos alcançar largos horizontes”

Francisca Reino, delegada de Moçambique, realça que o Fórum tem países membros de quatro continentes. Por isso, defende que a instituição deve levar mais longe a dinamização económica, criando espaço para fomentar a internacionalização das empresas dos países de língua portuguesa

 

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Texto Nuno G. Pereira | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

 

“A República de Moçambique atribui uma importância especial ao papel de Macau, por possuir um legado e valores históricos, linguísticos e culturais comuns aos seus.” Francisca Reino, delegada de Moçambique no Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau), acrescenta que o seu país espera que a RAEM intensifique o seu papel de plataforma, nomeadamente através do Fórum. “Para Macau impulsionar a plataforma de serviços entre a República Popular da China e os países de língua portuguesa, entre o tecido empresarial de Macau e as instituições, deve haver mais diálogo entre as partes. Assim, em conjunto, poderão definir a melhor estratégia para que as empresas e as instituições de Macau se envolvam cada vez mais, optimizando o papel de plataforma da RAEM.”

Sobre o Fórum, expressa grande satisfação. “A avaliação que Moçambique faz do Fórum é positiva, pois os objectivos que nortearam a sua criação estão a surtir resultados tangíveis. Como resultado desse sucesso, há um salto qualitativo do Fórum, com o desenvolvimento de outras áreas de acção: cooperação no domínio de construção de infraestruturas, recursos naturais, educação, recursos humanos, turismo, rádio, cinema, televisão e desporto, entre outras. Nos dez anos da sua existência notou-se um crescimento assinalável e o reforço das relações entre a China e os países de língua portuguesa, além de uma notável consolidação da sua identidade e maturidade, rumo a um patamar de relevo no domínio económico e de investimento.”

Para a delegada, contudo, há ainda imensos desafios pela frente. Até porque com o crescimento da importância e raio de acção do Fórum geram-se também novas oportunidades para agir em prol dos seus países membros. “Poderia fazer mais a nível económico, no sentido de encontrar um espaço onde as associações ou empresas dos países de língua portuguesa pudessem fazer a sua internacionalização. O Fórum é um organismo que tem países em quatro continentes, isso significa que através dele podemos alcançar largos horizontes.”

Francisca Reino fala também da criação do conceito “uma plataforma e três centros” como um avanço com muito potencial, que precisa de ser aproveitado. Recorde-se que foi na 4.ª Conferência Ministerial do Fórum, em Novembro de 2013, que o vice-primeiro-ministro da China, Wang Yang, endossou a Macau a construção de um “Centro de Serviços Comerciais para as Pequenas e Médias Empresas da China e dos Países de Língua Portuguesa”, um “Centro de Distribuição de Produtos Alimentares dos Países de Língua Portuguesa” e um “Centro de Convenções e Exposições para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa”. Macau ficou assim com uma plataforma de partilha de informações bilingues em chinês e português e o intercâmbio, interacção e cooperação empresarial – “uma plataforma e três centros”. “É um grande desafio para os países membros, incluindo a China. Para que esta iniciativa funcione é preciso que a nível dos países de língua portuguesa, nomeadamente Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor-Leste, haja uma base de oferta de produtos diversificados. Para que isso aconteça, a prioridade é o investimento nos sectores produtivos (pesca, agricultura, agroprocessamento, agro-indústria), caso contrário corre-se o risco de estes países serem apenas consumidores.”

 

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Olhar de futuro

Sobre as expectativas de Moçambique em relação ao que o Fórum pode fazer no futuro, Francisca Reino tem muito a dizer. Por exemplo, como “superar a visão retalhista” no intercâmbio económico, para adoptar uma visão estratégica que se “consubstancie com uma visível presença nos países de língua portuguesa”. E explica em concreto como isso deve ser feito. “Através de identificação e implementação de projectos concretos para a promoção de parcerias entre as empresas chinesas e dos países de língua portuguesa, aliando, por outro lado, o investimento directo e a formação de recursos humanos, condição indispensável para sustentabilidade e desenvolvimento social.” Condições indispensáveis, sublinha, de sustentabilidade e desenvolvimento social, colaborando para a diversificação económica da relação entre a China e os países de língua portuguesa.

A acção de dinamização económica do Fórum está sempre presente no discurso da delegada, que a vê como algo cada vez mais abrangente. “O Fórum deve oferecer uma plataforma fundamental a toda uma vasta gama de serviços nos diversos sectores que movimentam a relação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa. No campo das engenharias e da indústria farmacêutica, por exemplo, muitas empresas chinesas têm difícil acesso aos mercados nos países lusófonos, por falta de conhecimento e incapacidade de adaptação a normas, regulamentos e diversa legislação (o que, aliás, também acontece noutras áreas). O Fórum poderia abraçar estas oportunidades envolvendo os seus muitos quadros lusófonos com qualificação reconhecida, para dar a ajuda indispensável aos mais variados investimentos comerciais.”

A formação é outro domínio onde Francisca Reino salienta a importância da instituição. “Tanto de curta duração como a nível universitário, temos tido sucessos, mas ainda há muitos desafios no que concerne a áreas técnicas fundamentais para os nossos países.” No geral, acrescenta, o Fórum tem passos concretos que deve concretizar a curto prazo. Como a institucionalização do Estatuto Operacional do Secretariado Permanente do Fórum de Macau. “Para garantir uma melhor dignificação no desempenho das suas actividades, tendo em conta os objectivos para os quais foi criado.”

Ser delegada no Fórum é para Francisca Reino uma grande responsabilidade, mas também um cargo muito estimulante, pois permite-lhe contribuir para realizar um sonho que leva no coração: ver Moçambique passar de “país menos avançado para país em desenvolvimento”. O que só acontecerá se o seu país produzir mais, tiver mais escolas e construir mais hospitais. “A minha responsabilidade não se limita a divulgar as potencialidades económicas nas áreas de infra-estruturas, indústria ou recursos minerais. Devo, igualmente, olhar para as áreas sociais, que são parte do desenvolvimento humano, que vai permitir mão-de-obra qualificada para projectos económicos.”

 

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Projectos realizados pela China em Moçambique

Construção

Edifício do Conselho de Ministros, dois edifícios da Procuradoria-Geral da República.

 

Agricultura

Centro-piloto de técnicas agrícolas em Umbelúzi, complexo de processamento de produtos agrícolas de Chokwé.

 

Saúde

Centro para a prevenção e tratamento da malária.

 

Educação

Quatro escolas técnico-profissionais, projectos de ensino à distância.

 

Economia

Ampliação e modernização do Aeroporto Internacional de Maputo – Fase I e II, processamento de plantas e aquisição de equipamento e maquinaria do Vale do Zambeze

 

Telecomunicações

Projecto de cobertura das sedes distritais pela rede de telefonia fixa – TDM

 

 

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Onde estão os investimentos

Quais os investimentos mais importantes da China em Moçambique?

A participação de Moçambique no Fórum de Macau tem facilitado a sensibilização das autoridades chinesas para o incremento e consolidação da cooperação, tanto a nível bilateral como no próprio Fórum, no domínio económico e de investimentos. Nos últimos anos, mercê desta cooperação frutuosa, foram implementados com sucesso muitos projectos de desenvolvimento, em inúmeras áreas, da agricultura às telecomunicações.

 

Quais só foram possíveis devido à existência do Fórum?

Praticamente todos os projectos são no âmbito bilateral. No entanto, temos a destacar uma empresa chinesa que está a implementar a construção de seis mil casas de baixo custo.

 

Moçambique tem investido na China?

Não existe investimento de Moçambique na China. Esta é uma das metas a que nos propomos alcançar, de forma a dar maior substância a este intercâmbio económico que se pretende com a China. E a Plataforma Macau é um ponto estratégico para esse efeito.

 

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Irmã mais nova

Francisca Torcida Reino representa Moçambique no Fórum desde de Fevereiro deste ano, mas diz-se muito satisfeita. “Sou a delegada mais nova em termos de nomeações. Destaco o bom ambiente de trabalho, a muita cumplicidade entre os delegados. Trocamos experiências em diferentes áreas, alguns países apresentam vantagens competitivas nas suas políticas, a tendência de cada um de nós é procurar saber qual a estratégia que cada um utiliza para obter resultados positivos. No seu verdadeiro sentido, somos amigos e irmãos.”

Funcionária no Ministério da Indústria e Comércio do seu país desde 1995, formou-se em Relações Internacionais e Diplomacia pelo Instituto de Relações Internacionais de Moçambique, tendo também uma pós-graduação em Direito do Comércio Internacional pela Universidade Eduardo Mondlane. O seu percurso profissional inclui instituições como Comunidade do Desenvolvimento da África Austral, Conferência da Nações para o Comércio e Desenvolvimento, Organização Mundial do Comércio e Direcção de Relações Internacionais no Ministério da Indústria e Comércio. Como docente universitária, deu aulas de Comércio Internacional, Relações Económicas Internacionais e Integração Regional.

Com a sua ainda curta estadia no Oriente, confessa-se em fase de muita aprendizagem. “Admiro a cultura chinesa e, nesta minha missão em Macau, há muita coisa que irei aprender. Apesar de estar ainda na fase integração, vejo que a cultura chinesa é muito rica e diversificada, com características singulares.”

 

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