Online vai-se longe

São pequenos negócios, têm recursos limitados e estão a apostar no mundo virtual. A Macau Love Nest, Mine Yeah e Lazy Bee são empresas locais de comércio electrónico que encontraram na Internet uma forma de contornar os elevados custos de se manter um negócio com uma loja física

dreamstime_xxl_44905065

 

Texto Catarina Domingues | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

Macau_Love_Nest_GLP_02

 

MACAU LOVE NEST

A Macau Love Nest está a dar os primeiros passos. Nasceu em Novembro do ano passado e surgiu por necessidade: em Macau é difícil encontrar artigos de decoração para a casa diferenciados, de boa qualidade e a bons preços. “Nas pesquisas que começámos a fazer encontrámos uma série de fornecedores localizados aqui próximos e muitos deles produziam e forneciam [artigos] para casas de relevo em Portugal”, começa por explicar Rita Andorinho, que se juntou nesta aventura ao gestor Pascoal Junior. “Achámos que com a nossa localização faria todo o sentido comprarmos aqui”, revela.

Neste contacto com fornecedores do Sudeste Asiático, os dois sócios acabaram por tropeçar num mundo novo de artigos de decoração para a casa: candeeiros, almofadas ou colchas de Inverno são alguns dos produtos que disponibilizam agora na plataforma virtual. “A grande diferença do conceito da Macau Love Nest é que os produtos que nós lançamos, testamos”, diz Rita Andorinho, ao explicar que o controlo de qualidade de todos os produtos é feito pelos dois sócios.

Por enquanto, os responsáveis estão presentes em todo o processo de compra – desde a recepção da encomenda até à entrega ao cliente final. Mas querem ir mais longe. “A ideia é expandir, mas por agora queremos continuar a verificar todos os produtos, a fazer os embrulhos e as entregas”, sublinha.

Só nos primeiros três meses de negócio, a empresa vendeu cerca de 1500 produtos a mais de cem clientes. Na página do Facebook, onde já se juntaram perto de 6000 pessoas ao grupo, a Macau Love Nest também dá dicas de vestuário e decoração e partilha outras informações como técnicas de restauro e de reciclagem. “Gostávamos de poder contribuir para a sociedade de Macau, mostrando que há muitas coisas que uma pessoa pode fazer em casa com poucos elementos e instrumentos e com uma facilidade enorme”, refere Rita Andorinho.

www.macaulovenest.com

 

Miu Keng Seng_Mine Yeah_GLP_02

 

MINE YEAH

Num edifício industrial da Rua Um do Bairro da Concórdia, no Fai Chi Kei, está situada a Mine Yeah, outra empresa de comércio electrónico de Macau que está a apostar no mundo virtual. Um armazém, uma página de Internet e dez funcionários é o que basta para esta empresa funcionar. De portas abertas há pouco mais de um ano, a Mine Yeah foi buscar o nome à palavra cantonense “mai ye”, que em português significa “comprar coisas”.

Miu Keng Seng, um dos cérebros deste projecto, contava já com experiência na área do comércio tradicional. A aposta no mundo virtual é recente. “Costumava participar em feiras e exposições, mas os custos eram muito elevados”, diz o empresário de 25 anos. “Entretanto, apercebi-me que Macau não tinha plataformas de comércio online para a venda de produtos.”

Neste mercado online “com um estilo mais ocidental” e que está direccionado para um público “jovem, maduro, com cartão de crédito e que utiliza a Internet” é possível comprar artigos de 80 empresas e pessoas singulares. Comida, artigos de beleza ou produtos para casa chegam a Macau de vários países, como o Japão, Coreia e até Portugal.

Com o objectivo de apostar no comércio regional, Miu Keng Seng espera nos próximos dez anos ter uma plataforma semelhante em Taiwan e Hong Kong, os mercados prioritários da empresa. “Neste momento esta é a plataforma de comércio online mais visitada em Macau”, refere Miu, revelando que em períodos de grandes promoções, o website da empresa já chegou a ter 80 mil visitantes e a fechar perto de 700 vendas num dia.

www.mineyeah.com

 

Albee Chong_GLP_03

 

LAZY BEE

Entre as dez e as três da tarde, Albee Chong anda de um lado para o outro pela cidade a fazer entregas. Carrega uma mochila grande e pesada para o corpo pequeno. Lá dentro, encontra-se um pouco de tudo: roupa para mulher, produtos de cosmética, até postais para os mais novos pintarem.

Originalmente da Província de Guangdong, Albee é a fundadora e a única funcionária do Lazy Bee, o mais pequeno destes três negócios que fomos conhecer. A loja, que está aberta no Facebook e no WeChat (outra rede social), ganhou vida quando esta ex-jornalista engravidou e decidiu deixar de trabalhar. “Pensei que seria uma forma fácil de fazer dinheiro”, explica, ao retirar da mochila umas leggings compradas a uma empresa coreana. “Fazem com que as pernas pareçam mais magras”, diz Albee, sublinhando que “os produtos coreanos têm muita saída em Macau”.

A pequena empresária, que compra os artigos a distribuidores e revende na Internet, conta já com “algumas centenas” de clientes. Por mês, diz, chega a facturar dez mil patacas. “Não vejo este negócio como uma carreira, mas como algo temporário”, sublinha.

Albee acredita que negócios familiares semelhantes têm-se multiplicado na RAEM nos últimos anos devido aos preços altos do arrendamento de espaços comerciais. A actividade da Lazy Bee não está registada, mas segundo a empresária este não é um problema. “Desde que a qualidade seja boa, não há com que nos preocuparmos”.

Facebook: Lazy bee 生活雜貨

 

Macau ainda compra pouco na Internet

O mundo virtual resolve um problema real, realçam as sócias da Macau Love Nest. “A única hipótese de trazermos um custo baixo aos produtos é não termos uma loja física”, admite Rita Andorinho, explicando que, apesar de ser “difícil as pessoas não verem o produto”, o preço de uma renda “aumentaria o custo dos artigos em 30 ou 50 por cento”.

“Sinto que muitas lojas não conseguem vender produtos suficientes para pagar a renda e o pequeno empresário que tem um negócio há 20 ou 30 anos está a ver-se forçado a fechar as portas. O facto de não haver custos elevados na nossa empresa é o que nos faz poder entrar neste negócio”, conclui.

Também Miu Keng Seng, responsável pela Mine Yeah, afirma que, com a entrada no mundo virtual, “conseguiu reduzir os custos laborais e os custos das rendas”. O empresário lamenta, porém, que o comércio online em Macau ainda se encontre numa fase inicial. “Em comparação com Taiwan e Hong Kong, aqui os residentes não têm por hábito fazer compras na Internet.”

De acordo com os últimos dados oficiais, existem em Macau cerca de 420.500 utilizadores de Internet. A população local utiliza o mundo virtual sobretudo para comunicação (365.600), entretenimento (317.800) e pesquisa de informação (281.400). Apenas 58.200 utilizadores fizeram compras através da Internet em 2014, segundo o Inquérito à Utilização da Tecnologia Informática dos Agregados Familiares divulgado pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC).