Manual de português que vai ser distribuído na China será lançado em Outubro em Macau

O manual de ensino “Português Global”, publicado pelo Instituto Politécnico de Macau (IPM), vai ser lançado oficialmente no próximo mês e depois distribuído na China graças a um inédito acordo com uma editora de Pequim.

O lançamento vai ter lugar por ocasião da V conferência ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau), marcada para 11 e 12 de Outubro, embora a data em concreto ainda esteja por decidir, adiantou à agência Lusa o presidente do IPM, Lei Heong Iok.

O acordo alcançado no ano passado com a Commercial Press constitui o primeiro do tipo em que uma editora chinesa vai difundir manuais de ensino de português produzidos fora do interior da China, como explicou, em Abril, o coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do IPM, Carlos André.

O manual é essencialmente o mesmo, com ligeiras variações, a fim de o moldar ainda mais ao público-alvo.

Em princípio, no mesmo dia do lançamento oficial do manual, vai ser lançado um outro livro, editado pelo IPM, da autoria de Carlos André, adiantou Lei Heong Iok. “Uma língua para ver o mundo: olhando o português a partir de Macau” é o título da “colectânea de ensaios”, todos inéditos à excepção de dois, escritos ao longo do tempo, em particular nos últimos dois anos.

À Lusa, Carlos André explicou que a obra oferece “reflexões”: “É de natureza ensaística, mas não é um livro académico no sentido clássico da palavra. São reflexões”.

Essas “reflexões” incidem principalmente sobre o actual ponto de situação, mas “apontam obviamente perspectivas ou caminhos”.

Para Carlos André, do ‘boom’, que fez com que de quatro universidades a China passasse a ter hoje 33 com ensino do português – 23 das quais em licenciatura – resulta um problema: a “escassa preparação dos docentes e “a falta de materiais”. “Eles falam muito bem português porque se formaram em boas escolas, quase todas na China, muitas vezes com um ano passado em Portugal – às vezes mais – muitos deles até têm mestrado, (…) mas aprenderam português, não a ensinar português”, explicou Carlos André.

Sobre o futuro do ensino português na China, o académico rejeita uma estagnação: “O sistema está em crescimento ainda – não a um ritmo vertiginoso, mas está em crescimento, o que significa que estes problemas vão perdurar por pelo menos uma dúzia de anos até chegarmos a um ponto em que haja pelo menos dois doutorados já nesta área em cada universidade”.

Até lá, “temos de ser nós a fazer o que é necessário para apoiar este corpo docente cheio de vontade e generosidade. Nós, não digo portugueses apenas, mas nós a partir de Macau que tem uma missão específica que a História lhe confere”, argumentou.

Entretanto, adiantou, o Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do IPM prepara-se para lançar, até ao final do ano, pelo menos quatro livros, na área da escrita ou fonética, e o quarto volume do “Português Global”.

Em curso, encontra-se “uma história das literaturas de língua portuguesa para não especialistas”, obra a cargo de José Carlos Seabra Pereira, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra que esteve como docente convidado no Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do IPM, que venceu o Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho/Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão pela obra “O delta literário de Macau”.

O lançamento está previsto ainda para o final deste ano ou início do próximo. “A questão da edição ainda não está devidamente definida, ou seja, se vai ser edição exclusiva do IPM ou uma co-edição, uma vez que não é um livro só para Macau, mas que se pretende para um universo que ultrapassa largamente as fronteiras de Macau e da Ásia”, explicou Carlos André.