Taotologias

Rui Rocha
Editora Labirinto, 2016


Em Taotologias, o segundo livro de Rui Rocha, o autor volta a declarar-se próximo da tradição poética do zen. No centro desta obra encontra-se Macau.

 

Texto Catarina Domingues | Foto Gonçalo Lobo Pinheiro

 

É uma poesia de silêncios, uma reverência à natureza, ao instante e a Macau. Em Taotologias, segunda obra poética de Rui Rocha, o autor mantém-se ligado à tradição poética do zen. É a que leva no peito. “É para mim a mais agradável de ler e sinto-me efectivamente mais próximo por várias razões, primeiro porque desde muito cedo comecei a ler poesia chinesa e poesia japonesa por via da minha mãe e, em segundo lugar, porque efectivamente tenho uma identificação pessoal com essa forma de escrita poética”, diz o poeta, também director do Departamento de Língua Portuguesa e Cultura dos Países de Língua Portuguesa da Universidade da Cidade de Macau.

A viver em Macau há mais de três décadas, este descendente de antigas famílias macaenses por via materna assume-se próximo da poesia da Dinastia Tang e de poetas como Wang Wei, Li Bai, Du Fu e Bai Juyi. Também dos instantes dos haiku japoneses de Matsuo Basho ou de Issa.

Sobre esta nova obra, Victor Oliveira Mateus, poeta, crítico e autor do blogue A Dispersa Palavra escreveu: “[A poesia de Rui Rocha], recusando todo o tipo de narratividade bem como uma lógica formal de cariz ocidental, baseia-se fundamentalmente nas filosofias do Oriente, sobretudo na zen, assim, é intento desta escrita a apreensão do resplendor dos instantes simultaneamente belos, completos e absolutos”.

Este zen poético, sublinha Rui Rocha, é um pensamento que se encontra além-oriente. O autor de Taotologias fala de um zen universal, que existe em muitos outros poetas que lê: Wordsworth, Thomas Hardy, Alberto Caeiro, Ezra Pound. “Há ali uma forma contemplativa de observar a vida e momentos da vida que eu diria que são quase que homólogos entre o Ocidente e o Oriente, simplesmente enquanto que no Ocidente toda a poética é claramente argumentativa, de uma densidade eloquente, eu diria que os poemas chineses e japoneses são mais intuitivos, minimalistas e apreciam mais o momento do que propriamente escalpelizam o momento.”

É na Casa da Rocha, negócio que abriu há poucos meses, que Rui Rocha fala à MACAU. É entre bules de chá e doçaria regional portuguesa que o poeta se volta a dividir entre dois mundos. No centro, é certo dizer que permanece Macau, a cidade retratada nas linhas do autor.

No quarteirão da Seng Tou/ a esquina fragmenta-se/ em dezenas de passadas/ as duas bocas do polícia/ encostam-se à parede. O caminho que Rui Rocha atravessa para escrever Taotologias tem tantas outras referências à cidade ou à vida na cidade: o jardim Lou Lim Ioc, o templo de Na Tcha ou o Beco de São Domingos.

Sobre Taotologias, o autor diz ainda que se trata de uma sequência da obra anterior, Oriente de Silêncio, lançada em 2012. “O percurso está mais contextualizado numa época mais presente e o outro foi uma colectânea ao longo de alguns anos de poemas que fui guardando. Este, diria, tem mais uma uniformidade temporal do que o outro.”

Por enquanto Taotologias encontra-se só à venda em Portugal. O autor admite que gostaria que fosse lançado também aqui. Afinal de contas são instantes de Macau.

 

 

TAOTOLOGIAS
RUI ROCHA
EDITORA LABIRINTO, 2016