Entrevista | Uma parceria saudável

Em exclusivo à MACAU, Nazira Abdula, ministra da Saúde de Moçambique, fala da parceria que aproxima dois países e duas culturas distantes, mas unidas cada vez mais pela cooperação conjunta em várias áreas. E a saúde é uma das grandes apostas de ambos os governos.

 

 

Texto Pedro Cativelos | Fotos Ricardo Franco, em Moçambique

 

Em exclusivo à MACAU, Nazira Abdula, ministra da Saúde de Moçambique, fala da parceria que aproxima dois países e duas culturas distantes, mas unidas cada vez mais pela cooperação conjunta em várias áreas. E a saúde é uma das grandes apostas de ambos os governos

 

Qual é a importância desta parceria entre Moçambique e a China ao nível da saúde?

A parceria que o Ministério da Saúde (MISAU) tem com o Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa para a Cooperação entre Guangdong e Macau é muito importante para Moçambique, porque vem apoiar aquilo que é um dos principais pilares do nosso Plano Estratégico do sector da Saúde, que aponta para a necessidade de mais e melhores serviços. A nossa cobertura sanitária está a crescer e, por isso, precisamos de ampliar o leque de serviços das nossas unidades de saúde. A Medicina Tradicional Chinesa oferece técnicas básicas de tratamento que podem ser desenvolvidas em qualquer unidade de saúde, desde que haja pessoal capacitado. É isso que estamos a fazer.

 

Em que fase de desenvolvimento se encontra a Medicina Tradicional Chinesa em Moçambique? É uma área que desperta o interesse dos utentes moçambicanos?

Temos uma relação de cooperação com a China desde a independência, e a vinda de médicos chineses faz parte desse pacote de cooperação, daí que sempre tenhamos tido grupos de médicos especializados em Medicina Tradicional Chinesa. Posso dizer que as pessoas também conhecem o valor desta medicina e podemos observar que a sua utilização tem ganho evidência nas grandes cidades de Moçambique, através do aumento do número de clínicas chinesas ou dos produtos medicinais chineses à venda no mercado. Isto mesmo apesar de, da nossa parte, ainda termos de aprovar regulamentos em relação a estas práticas. As técnicas da Medicina Tradicional Chinesa que estamos a implementar vêm melhorar as técnicas de reabilitação de algumas condições neurológicas, ortopédicas, cirúrgicas, musculares que se fossem levadas a cabo pelas técnicas da medicina moderna sairiam demasiado onerosas ao Estado.

 

Quantos medicamentos tradicionais chineses já têm utilização aprovada em Moçambique?

Temos oficialmente sete empresas que importam cerca de 50 produtos autorizados.

 

E quantos técnicos moçambicanos já exercem recorrendo a técnicas da Medicina Tradicional Chinesa?

Neste momento 61 e destes quatro estão neste momento em cursos avançados de aprofundamento de conhecimentos, dois deles na China. Temos ainda dez especialistas chineses connosco que estão cá a fazer o curso avançado que se iniciou a 17 de Junho, e que irá perdurar até Setembro.

 

De que forma a Medicina Tradicional Chinesa pode ser integrada no Sistema Nacional de Saúde?

Através da formação de técnicos de saúde, que irão aplicar o que estão a aprender nos serviços de Hospital Central, Medicina Geral, e Hospitais Provinciais e Distritais, até às unidades de medicina física e reabilitação de todo o país.

 

Esta parceria com o Parque Científico e Industrial é para continuar?

Sem dúvida. E inclusivamente estamos a planificar as actividades que devem continuar este e no próximo ano. Este ano vamos iniciar o desenho da planta para a construção de um espaço no Hospital Central de Maputo [o maior do país] para que tenhamos até ao próximo ano uma Clínica de Medicina Tradicional Chinesa a funcionar. Estamos também a estudar a melhor forma de orientação para a prática de medicinas alternativas no país e, porventura, incluir a obrigatoriedade de formação nestas técnicas em todos os cursos relacionados com medicina física e reabilitação. No próximo ano, iremos continuar com a formação dos nossos técnicos nestas práticas, para além de iniciar o projecto de controlo de qualidade do Instituto de Medicina Tradicional.

 

Quantos alunos foram formados nos últimos dois anos?

No ano passado foram 24 profissionais, este ano já temos 76. E em Setembro, no curso avançado, teremos mais 12 jovens com formação.

 

Como é feita a selecção dos participantes nestes cursos?

É feita com base na formação prévia dos candidatos. São técnicos médios ou superiores de medicina física e de reabilitação, fisiatras, pediatras, fisioterapeutas e enfermeiros do nível superior.