Cozinheiros juntam-se para criar uma nova gastronomia comum aos países lusófonos

A criação de uma "nova linguagem gastronómica", comum aos países lusófonos, aproveitando os produtos locais para desenvolver novas receitas, é o "desafio inédito" a que pretende responder o Observatório da Gastronomia da Lusofonia.

“Estamos a trabalhar na criação de uma linguagem que seja o resultado da influência das linguagens já existentes. Queremos fazer uma linguagem da gastronomia da lusofonia, em que seja possível termos pratos que podem reproduzir-se em Portugal e em Angola, em Moçambique e em Macau, em Cabo Verde e no Brasil”, explicou à Lusa Paulo Amado, que trabalha na área da gastronomia há 20 anos e um dos mentores do projecto, a par do especialista em marcas João Baluarte.

O objectivo da iniciativa é “puxar elementos dos países lusófonos para o prato, na construção de uma nova língua, acima das línguas existentes”.

Paulo Amado afirmou que a ideia é “reunir representantes dos vários países”, sempre com um “profundo respeito por cada cultura”, com o intuito de “colocar as pessoas em contacto umas com as outras, e que, sentadas à mesa, são como um todo”.

Além disso, a ideia passa por incentivar a criação de novas marcas e o conhecimento de “produtos de excelência de vários países e que podem ser mais conhecidos”.

O arranque do projecto ocorre, em Lisboa, num jantar cujo menu foi concebido por cinco chefes de cozinha: Viriato Pã (Guiné-Bissau), William Ferro Melo (Cabo Verde), Rui Manuel (gastronomia de Angola, Brasil e Portugal), António Alexandre (Portugal) e Celestino Grave (influência de Macau). “Os produtos autóctones das várias regiões são estrela”, explicam os organizadores.

A apresentação do Observatório marca o início da segunda edição da Lisbon Food Week, iniciativa da Edições do Gosto que decorre até dia 13 de Novembro, com uma programação que inclui o Congresso dos Cozinheiros e o Encontro com Vinhos, Encontro com Sabores.

O programa sugere uma rota de restaurantes “escolhidos a dedo pela equipa das Edições do Gosto, responsável pela revista de gastronomia Inter Magazine e, portanto, com vasto conhecimento na área”, anunciou a organização.

À cozinha de autor juntam-se 22 sugestões de refeições em outras tascas lisboetas, da responsabilidade do jornalista Tiago Pais, autor do livro “As 50 Melhores Tascas de Lisboa”.

De um “grande pequeno-almoço australiano” ao “Jantar do Ano”, com Henrique Sá Pessoa (uma estrela Michelin no restaurante Alma, em Lisboa), João Rodrigues, Justa Nobre e Vítor Sobral, são vários os momentos de degustação e de debate, durante a Lisbon Food Week.
Um desses momentos de discussão da classe é o Congresso dos Cozinheiros (de 11 a 13), este ano sobre “Produtos e Produtores”.

“Cada vez mais a cozinha se faz da atenção dada ao produto, das histórias dos produtores e do quilómetro zero”, refere a organização do encontro, que reunirá mais de 40 chefes e profissionais de cozinha.

A 18.ª edição do Encontro com Vinhos, Encontros com Sabores, organizado pela Revista de Vinhos, decorre no Centro de Congressos de Lisboa de 10 a 13 de Novembro, apresentando mais de 2.500 vinhos em prova aberta e contando com mais de 300 marcas presentes.

Durante o evento, haverá mais de 20 provas comentadas por especialistas, que incluem vinhos raros e exclusivos, como os Crus Classés de Bordéus (dos mais famosos vinhos do mundo), Portos e Madeiras antigos, alentejanos de várias décadas e vinhos naturais, segundo a organização.

Se o mundo da comida e dos vinhos ainda é dominado pelos homens, há sete “Mulheres com Tomates” que têm uma palavra a dizer e, no dia 9, apresentam “a sua visão sobre o lugar que têm vindo a conquistar”.