Zhongshan | Terra de e para empresários

A terra que viu Sun Yat-sen nascer, Zhongshan, é hoje um parceiro incontornável de Macau. Além da curta distância que separa as duas cidades, potencial não falta para fazer a cooperação crescer. Na área das indústrias culturais e criativas, já estão lançadas as cartas na mesa.

 

 

Texto Kitty Lee

 

Foi aqui, mais precisamente em Cuiheng, que Sun Yat-sen nasceu e viveu até aos 12 anos. A casa que construiu na cidade e um grande museu em sua memória fazem parte da lista das atracções mais importantes da China, com milhares de visitantes domésticos e internacionais a cada ano. A área era antes chamada de Xiangshan (Montanha Perfumada) e depois da morte de Sun Yat-sen, em 1925, passou a chamar-se Zhongshan (中山) em sua honra, uma vez que também era conhecido como Sun Zhongshan (孫中山).

Localizada a cerca de 30 quilómetros de Macau, Zhongshan é hoje um dos motores da economia chinesa. Aliás, durante grande parte da sua história, a cidade esteve dedicada ao desenvolvimento comercial e tecnológico e esteve na vanguarda dos contactos comerciais entre chineses e ocidentais. Além de uma grande produção de têxteis e vestuário, Zhongshan também tem uma forte indústria de aço, móveis, papel, plásticos e electrodomésticos.

Ao longo das últimas décadas, inspirada pelo espírito de Sun Yat-sen, Zhongshan tem se desenvolvido rapidamente e passou a ser uma das cidades de referência do Delta do Rio das Pérolas e uma peça essencial da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, projecto-piloto de integração económica do Sul da China, que quer aproveitar o melhor destas regiões e tornar-se numa “zona metropolitana de nível mundial”. A cidade aposta cada vez mais na área do desenvolvimento tecnológico: segundo dados do Comité Municipal do Centro de Administração de Publicidade de Zhongshan, havia, em 2016, 882 empresas de alta tecnologia em Zhongshan, e em 2017 já se registavam quase 1400 empresas.

A cidade tem-se transformado através da cooperação com Macau. O maior projecto de sempre da história de Zhongshan é a Zona Piloto de Cooperação Guangdong-Macau, que está a ser construída dentro da Nova Zona de Cuiheng, a cerca de 30 quilómetros de Macau. Esta ambiciosa zona consta do 13.º Plano Quinquenal do Governo Central (2016-2020). No espaço de 230 quilómetros quadrados, vai nascer um grande parque industrial que albergará as mais variadas áreas, da farmacêutica à maquinaria, passando pelos (informática, tecnologia ou componentes electrónicas?) electrónicos, finanças, cultura e turismo. Dentro da Zona Piloto a prioridade são as políticas amigas do ambiente, por isso metade do território será ocupado por vegetação e é obrigatório reciclar o lixo e a água. Outro atractivo da zona é a construção de condomínios residenciais que podem servir de alternativa aos reformados de Macau, levando um deputado da RAEM sugerir até que, no futuro, se avance com a construção de uma pequena Macau dentro da zona piloto, como forma de tornar o local ainda mais atraente para os residentes da RAEM.

O acordo que foi firmado, em 2014, com Macau prevê que numa área de cinco quilómetros quadrados sejam desenvolvidos negócios em parceria entre as duas cidades que inclui, por exemplo, um parque industrial, uma plataforma internacional de serviços comerciais, um parque de educação e formação, uma zona de cooperação turística e de intercâmbio cultural.

Além da proximidade de Macau, outro potencial atractivo de Cuiheng é o preço dos terrenos. “Esta cooperação rompe limitações de um modelo tradicional de cooperação no âmbito de um ‘parque industrial’. O foco aqui é nas pequenas e médias empresas e o grande objectivo é transformar as suas operações e aliviar a demanda por serviços de saúde, entretenimento e habitação em Macau”, aponta um comunicado oficial divulgado na altura em que o acordo com a RAEM foi assinado.

Segundo os planos para a Nova Zona de Cuiheng, até 2020 a população atingirá os 550 mil habitantes, com cerca de 60 por cento da mão-de-obra dedicada ao sector dos serviços. A área dedicada à construção residencial ocupará então cerca de 60 quilómetros quadrados – mais da metade será ocupada por parques e jardins. Em 2030, prevê-se que a população chegue aos 850 mil habitantes, criando uma nova ‘cidade’ dentro de Zhongshan, com tudo planeado ao pormenor. Até ao momento, 30 das maiores empresas do mundo já investiram na nova zona, entre elas a farmacêutica Novartis’ Sandoz e a tecnológica ThyssenKrupp.

Espaço para a criatividade

Nos últimos anos, um dos caminhos para a diversificação económica da RAEM tem sido o das indústrias culturais e criativas. Há cada vez mais espaços e apoios financeiros para os criativos locais, e as oportunidades que começam agora a despontar vão já além das fronteiras de Macau. A 25 minutos da cidade chinesa de Zhuhai, com a qual Macau faz fronteira, nasceu um dos mais dinâmicos parques culturais e criativos do sul do País, o 760 de Zhongshan.

A zona interactiva de Macau no 760 – Parque Criativo de Zhongshan abriu ao público em Maio do ano passado e oferece espaços de trabalho para jovens que queiram expandir ou até iniciar os seus negócios no Interior do País. No parque cultural já estão a funcionar cerca de 200 estúdios e lojas que versam sobre as mais variadas áreas criativas, da caligrafia ao artesanato, da multimédia à fotografia. O grande objectivo é ser uma plataforma para a inovação e o empreendedorismo jovem one-stop, com uma série de serviços de apoio disponíveis. Segundo o Instituto de Promoção de Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), “este projecto, além de um novo modelo de parceria entre Macau e Zhongshan em termos de apoio ao desenvolvimento dos jovens dos dois territórios, ao abrigo do enquadramento da cooperação Guangdong-Macau, constitui ainda o primeiro programa inovador dos dois lados no quadro de construção da Zona Piloto de Cooperação Geral Guangdong-Macau”.

O espaço dedicado exclusivamente a jovens de Macau conta com 20 estúdios, duas salas de reunião, uma sala de eventos, zona de exibição para produtos, cozinha e casas de banho. Pequenas e médias empresas registadas na RAEM e detidas por residentes com menos de 44 anos podem associar-se ao 760, bastando apenas comunicar a sua intenção à administração. Além de poderem ter um espaço físico, os criativos de Macau são convidados a participar em eventos promocionais regulares, tal como feiras e mercados com obras dos artistas abrangidos pelo espaço. As participações de artistas de Macau têm sido bastante “frutíferas”, como assinala Teresa Ng, membro da administração do 760. “Temos visto que o simples facto de ajudar artistas de Macau e do Interior do País a comunicar, trocar ideias e estabelecer parcerias tem ajudado imenso os jovens de Macau. Um dos aspectos mais importantes é conhecer aquilo que o público chinês quer para que os nossos criativos possam ajustar-se às demandas do outro lado da fronteira”, aponta Teresa Ng, que em Macau também gere o CCentre, um espaço de estúdios e apoio logístico a empresas das indústrias culturais e criativas com a mesma alma do 760.

Um dos pontos que este Parque Criativo está a tentar dinamizar é a relação com os países de língua portuguesa. Segundo Teresa Ng, o 760 está aberto a promover intercâmbio entre jovens de Zhongshan, Macau e dos países do universo lusófono. “Nós sabemos que, infelizmente, não são todos os criativos que conseguem viver dos frutos que colhem nesta área. Muitos dos jovens têm um outro emprego a tempo inteiro e tentam pôr o seu talento artístico em prática como um hobby. Mas com esta nova montra para a China, muita coisa na vida deles pode mudar”, enfatiza a responsável, acrescentando que com a concretização do projecto da Grande Baía potencial não falta para os criativos de Macau brilharem no Interior do País.