Ser português na Malásia

Quase quinhentos anos após a conquista de Malaca por parte dos exércitos de Afonso de Albuquerque, sobrevive na cidade uma comunidade que se soube reinventar à luz da nostalgia. Uma comunidade que se diz portuguesa e que teima em manter vivos o papia kristang e a identificação com um Portugal a quatro séculos e oito mil quilómetros de distância
Ser português na Malásia

 

As cores que vestem Malaca Dia se encontram no arco-friso Pacata e quase esquecida da grandiosidade de outros tempos, a cidade esconde sob a tonalidade salmão-velho que cobre grande parte das edificações do centro histórico o registo de quase seis séculos de convulsões, de entrosamento cultural e de uma convivência não apenas multi-étnica, mas também multi-secuJar.

Salmão-velho, a lembrar o rosa murcho e ocre da carne de um peixe de grande pane, são as paredes da Stadthuis. da Christ Church holandesa e de uma mão cheia de outros edifícios. Muitos deles alojam museus e salas de exposição que lembram aos visitantes O passado glorioso da cidade.
O ar denso dos dias finais de Março, pejado de uma humidade que se entranha, deixa adivinhar a proximidade ao Equador. Conhecida hoje pelo seu nome inglês ou pela sua variante local (Melaka), cidade devo à sua localização privilegiada, o estatuto de cidade berço da Identidade malaia e um percurso histórico marcado por encontros, desencontros e sobretudo muita cobiça.

Situada a meio caminho entre as lides marítimas da Índia e da China, da canela e da seda, Malaca foi fundada no início do século XV num torrão de terra que depressa se revelou como o porto de abrigo ideal para os que procuravam fugir à ira dos ventos sazonais da época das monções.
Quando os navios portugueses navegaram pela primeira vez, em 1509, as águas do Estreito homónimo, a cidade era não apenas o centro do poder político de um sultanato malaio emergente, mas também um porto de veniaga onde acorriam comerciantes e mercadores da China, da índia e dos reinos das ilhas de Java, Banda e Solor.
Mil e duzentos homens e uma armada de oito embarcações bastaram a Afonso de Albuquerque para tomar a cidade em 1511 e transformar o porto de Malaca no mais importante entreposto comercial entre Goa e as paragens longínquas do Cataio (China) e do Cipango (Japão).
Centro e trinta anos foi quanto perdurou a soberania portuguesa na região. Em 1641, depois de meses de cerco e de décadas de assédio, a cidade caiu para as mãos dos holandeses e de uma organização que viria a alterar radicalmente o modo como as coroas europeias exploravam o comércio ultramarino.
Fundada em 1602, a Companhia Holandesa das índias Orientais era dirigida por um conselho de regedores e financiada por investidores privados que procuravam beneficiar com a campanha ultramarina potenciada pelas autoridades das Províncias Unidas.
A tonalidade salmão-vermelho com que palpita o coração da cidade não se deve, no entanto, nem à colonização portuguesa nem à colonização neerlandesa. A ideia de matizar num rosa ocre o centro da velha praça de comércio, tiveram-na os ingleses, que administraram Malaca entre 1824 e 1957, ano em que a Federação Malaia (depois Malásia) se tornou uma nação independente.
Pejado de turistas, de vendilhões e de riquexós enfeitados com uma profusão de luzes, de fitas e de flores plásticas e baças, o centro de Malaca é como que um postal vivo e ilustrado de quase cinco séculos de interacção entre o Oriente e o Ocidente.
A fachada curvilínea e falso-abobadada da Igreja de Cristo – o mais antigo templo protestante de toda a Malásia – é a que mais se destaca no arranjo do coração da cidade. Com a mesma incandescência, a amplitude apalaçada da Stadthuis conforma a alçada oriental da praça. Plantadas no meio do recinto, duas outras construções um chafariz singelo e a Torre do Relógio mandada construir em 1886  por Tan Beng Chui, homem de negócios chinês nascido na península – lembram o jubileu de diamante da rainha Vitória, a última grande soberana do último grande império colonial do mundo.
A escassos passos, do outro lado de um rio mirrado e pardacento, desperta o casario cerrado do bairro chinês, as ruas enfeitadas ainda com lanternas alusivas ao Ano do Porco recentemente entrado.
Na vertente oposta, encimando-se ao telhado da Stadthuis e à copa das árvores que a rodeiam, a fachada escurecida e um tanto melancólica da antiga Igreja de Nossa Senhora do Monte coroa a elevação que os holandeses baptizaram com o nome de São Paulo.
O templo, reduzido à  os satura despida das paredes e a uma dúzia de aras funerárias de antigos jazigos senhoriais, é, com a Porta de Santiago, tudo o que resta do património construído da antiga Malaca portuguesa.

Modernos diplomatas

 

“Ni hao xiansheng, ni hao!”, Kudush, quarenta e dois anos incertos, não tem uma voz extraordinária e não é, sequer, um guitarrista fenomenal. Dois minutos bastam, no entanto, para perceber que por detrás dos óculos escuros de artista da rádio e da cassete pirata se esconde um diplomata hábil.
Encostado à parede nua do interior da Igreja de São Paulo, entalado entre duas pedras funerárias onde se alçam ainda pomposos brasões de tempos idos, Kudush dedilha na guitarra acordes que não são de todo estranhos aos ouvidos daqueles que têm a grande China como casa.
Trocou as redes e a faina do mar pela viola e, garante, nos últimos três anos, poucas foram as manhãs que não passou naquela mesma nave descoberta da outrora Igreja de Nossa Senhora do Monte a entreter quem chega de longe para conhecer Malaca.
De tal forma assim é que se gaba de saber ler, nos traços do rosto dos visitantes, o lugar de onde são originários. “Há muitos turistas da China e do Japão. Vietnamitas, alguns. E depois há americanos, como vocês”, diz confiante.
Renegada a origem e apontado o erro, Kudush encolhe os ombros mas não perde a oportunidade de provar que a sua capacidade de dedução é quase infalível.
O ónus da culpa recai, desta feita, sobre uma família – um casal e duas crianças – de máquina fotográfica em riste, acabado de entrar no vão da antiga igreja.
“Ni hao xiansheng, ni hao!” O mandarim de Kudush resumese quase apenas aos votos de boas vindas e aos monossílabos, bem delineados, da letra de The Moon Represents My Heart, a música que tornou conhecida por todo o mundo a diva taiwanesa Teresa Teng.
Mandlrim reduzido mas ainda assim bastante para prender a atenção do casal e colocar as duas meninas a trautear o refrãoda canção.
O esforço e os malabarismos diplomáticos renderam a Kudush uma nota de cinco ringgit e uma pequena salva de palmas entusiástica.
“Xièxie. Xièxie ni, xiansheng”. Numa manhã de boa conheita, Kudush consegue entre setenta e oitenta ringgit. Na parte da tarde cede o lugar a um colega, com o mesmo reportório estilizado e a mesma habilidade para o negócio, o que lhe garante outro tanto dinheiro.
“Canto em bahasa melayu, chinês, inglês, japonês e sei uma ou duas em vietnamita”, assegura. “As pessoas sentem-se bem recebidas ao ouvirem cantar na língua delas”.
O português, não faz, como é óbvio, parte do repertório de Kudush. “Portugeses só conheço os de Ujung Pasir e a música deles não é grande coisa”, desabafa.
A música não é, ainda assim, o único produto que se vende no que outrora terá tudo solo sacro e consagrado. A dois passos do local onde o corpo de São Francisco Xavier esteve sepultado durante algum tempo, a meio caminho entre Sanchoão e Goa, uma banca improvisada vende assobios, porta-chaves, postais e ímanes para o frigorífico: “MELAKA, A Famosa”.
Ao fundo Kudush, o artista, muda de registo e tenta agora agradar a dois calmeirões americanos estacionados a olhar o céu azul que se levanta para além das quatro paredes da ermida. Hotel Califórnia é a música em que aposta.
Kudush é um bumiputra ou filho do solo. O eufemismo é utilizado pelas autoridades de Kuala Lumpur para diferenciar os cidadãos de etnia malaia dos restantes grupos que compõem o espectro racial da moderna Malásia. Para além dos bumiputras, as autoridades federais distinguem ainda as etnias chinesa e indiana e definem como o grupo dos “Outro”um conjunto amorfo e pouco definido de cidadãos que inclui tribos nativas do Sabah e de Sarawak e descendentes das antigas comunidades euro asiáticas que sobejaram quando findo o período colonial. É neste último grupo que se incluem os “portugueses” de Malaca.

 “Chang di Padri” e outros milagres

 

O “Bairro Português” dista quase três quilómetros do centro da cidade, mas a julgar pela transmutação cromática que a paisagem sofre à medida que o autocarro se afasta da Stadthuis, dos riquexós e dos turistas, podia muito bem situar-se noutro continente.
As cores afogueadas que enchem de vida e de carisma o coração de Malaca vão-se diluindo e amenizando até não restar mais do que ruas suburbanas sem brilho nem brio. Há revoadas de pó levantadas do chão sempre que um automóvel passa e uma película fina e baça de poeira cobre casas, plantas e sinais de trânsito.
“Jalan d’Albuquerque”, a letras gordas numa tabuleta rudimentar. Esta é a primeira indicação de que a homogeneidade da paisagem é, afinal, mais aparente do que factual. A rua, que honra a memória do segundo vice-rei da Índia e conquistador das paragens do Estreito, é como que o cordão umbilical que liga o kampung portugis à multi-cultural Malaca.
A cidade existe e é impossível ignorá-la, mas o bairro rege-se por um ritmo próprio, como próprias são as crenças, as regras, a língua e as memórias. As ruas do povoamento têm nomes como Sequeira (em memória de Diogo Lopes de Sequeira, o primeiro navegador português a aportar a Malaca, em 1509), Teixeira, Araújo e Erédia (em honra de Manuel Godinho de Erédia, autor da primeira história da cidade, escrita em 1615).
O arruamento que toma o nome a Afonso de Albuquerque divide o bairro em duas metades simétricas. Sensivelmente a meio, um portal festivo (uma “minhota” tropical e risonha deseja a quem chega votos de “Bong Natal” sob o céu claro de Março) demarca formalmente a entrada no perímetro do “Portuguese Settlement”.
A maior das artérias do bairro termina junto ao “pátio Português”, construído em meados da década de oitenta com o propósito de recriar em Malaca um cheirinho da distante Lisboa.
O espaço aloja três restaurantes, uma loja de souvenirs e um pequeno palanque onde os grupo de folclore “português”entretêm as hordas de turistas que demandam aquela que é a maior  curiosidade etnográfica de toda a Malásia.
É no “Restoran de Lisbon”, posse de um casal de chineses perakiman nascidos na Malásia, que Pedro de Silva, 72 anos, granjeia o pão dos dias.
Se os “portugueses” não fossem uma das principais atracções turísticas de Malaca, Kudush, o artista das ruínas da Igreja de Nossa Senhora do Monte diria que Pedro de Silva é cidadão de Goa, do México ou de Marrocos.
Não diria nunca que o velho empregado do “Lisbon” é um nacional malaio encartado, quase tão bumiputra quanto ele, não fosse uma mão cheia de genes de antanho que teimam em resistir.
Genes que explicam as feições redondas e o verde atlântico dos olhos de Pedro de Silva. O antigo pescador trocou as lides do mar pelas da cozinha e é pau para toda a obra no “Restoran de Lisbon”: serve, varre, limpa as mesas, recolhe os pratos, prepara petiscos e bebidas.
Pedro é também a estratégia de marketing mais fiável que os proprietários do restaurante engendraram para manter rentável o negócio. :é com Pedro de Silva que os turistas oriundos de Portugal que assomam ao “Bairro”, depois de feito o périplo pelo coração fulgurante de Malaca, costumam falar.
Pedro pápia, talvez por isso, um kristang (o velho linguajar crioulo em que se enraíza a identidade da comunidade) onde afloram alguns rudimentos do português contemporâneo. Agradece-me o convite para almoçar com um obrigado, quando um munta mercê era devido.
Quando se senta, para falarmos, traz consigo um copo de chá cristalino para matar sekura. Nunca esteve em Portugal ou em qualquer outro país que tenha o português como língua oficial. :é, no entanto, em português que nos entendemos “Portugal gostá di visitá, mas dinheiro nan teng”, acaba por lamentar.
Baixo e miúdo de corpo, de riso fácil e solto, Pedro de Silva é casado e tem três filhas. Não fosse a família e já há muito tinha aceite o convite do amigo Fernando, de Macau, para mudar de ares.
O amigo Fernando, assegura Pedro, já o tentou convencer várias vezes a trocar o “Restoran de Lisbon” pelo “melhor restoran de Macau, mesmo, mesmo frente à praia.” Pedro fala do território como se tivesse vivido anos a fio entre o Lilau e a Penha e lamenta que em Malaca, ao contrário do que acontece em Macau, não existam escolas que ensinem português, seja ele antigo, seja ele moderno.
Do outro lado do recinto, na mira da entrada abobadada do Pátio, está a única escola do bairro kristang. O edifício, de paredes amarelas, é dirigido por religiosas canossianas que ensinam o inglês e o malaio (o chinês é opcional) e prestam assistência espiritual aos católicos do kampung portugis.
Longe do fulgor de outros tempos, o edifício abriga agora uma mão cheia de religiosas mirradas e envelhecidas de origem chinesa. “Em Macau teng escola portuguesa. Em Malaca nan teng, explica Pedro de Silva. Fala portugis em casa, mas num teng escola pa aprendé.”

Folclore e turismo: as raízes da alma

 

O pápia kristang, crioulo que mistura a uma base gramatical malaia, vocabulário de origem portuguesa, é – mais do que as ruas do bairro, que a tradição católica e que o folclore – o fermento que mantém coesa a identidade da comunidade.
Cada vez mais confinado à intimidade do lar, o kristang passou de geração em geração como o idioma da idiossincrasia familiar, mas também como um instrumento de demarcação face às restantes comunidades em que se alicerça a identidade de Malaca.
“Quando não quero que as milhas filhas andem com alguém de quem não gosto, prego com elas em kristang para que os outros não me percebam: Anda e bai casa, fila. Nan juntá ese rancho”. Quem o diz é Anne de Melo. Ela e Pedro de Silva são dois dos mais de dois milhares de residentes do quarteirão português de Malaca. Ambos  nados e criados dentro do perímetro do Bairro, a dois passos do mar.
Anne pertence à terceira geração de residentes, tem trinta e nove anos e uns olhos sisudos, negros como a noite. Mora mesmo ao lado dos restaurantes do pátio Português, numa casa que o marido, Gerald de Costa, 43, comprou à família, imigrada na Austrália, de um antigo regedor.
Anne e Gerald têm três filhos, duas raparigas e um rapaz. Todos eles, mesmo Roseanne, de apenas seis anos, falam o kristang e dançam, tocam ou cantam na ‘Tropa de Malaca”, o mais antigo dos grupos de folclore do Bairro, fundado em 1968.
A música e o mar são, para além da língua, dois dos elementos considerados como parte integrante da identidade cultural dos portugueses de Malaca. Para além da ‘Tropa”, existe ainda o Grupo Folclórico San Pedro.
O Grupo, que é uma das imagens de marca do kampung portugis, foi fundado em 1974 por um padre nascido em Freixo-deEspada- à-Cinta (Trás-os-Montes).
O nome de Augusto Sendim, que faleceu num acidente de aviação no início dos anos noventa, é ainda hoje um nome de boa memória para os residentes do Bairro.
Foi o último pároco português a prestar serviço junto dos kristang de Malaca, depois do Vaticano ter decretado em Maio de 1981 o fim da jurisdição apostólica da diocese de Macau sobre as comunidades portuguesas da cidade e de Singapura.
A direcção espiritual do rebanho kristang está desde então entregue a sacerdotes franceses que conduzem, na Igreja portuguesa de São Pedro, no outro extremo da cidade, a eucaristia em inglês, a língua franca que permite aos cidadãos da Malásia um entendimento comum.
Poucos se lembram de como se reza em cristão.
Gloria kum Pai, Filu, assim kum Spiritu Santu Assi i nasensa, agora, até per sempri Mundu seng fing Amen.
Anne de Melo não se recorda das velhas orações portuguesas que os primeiros residentes do Bairro mastigavam ao toque das trindades, mas sabe de cor a letra do ‘Malhão”, da “Tia Anica”, do ‘Bailinho da Madeira” e do ‘Vira Valseado”.
Ela é uma das minhotas risonhas que trocam passos de dança quase genuínos com campinos tropicais, de barrete verde e calças negras, no pequeno palco montado do Medan Portugis, em exibições para turista ver.
Aos fins-de-semana são às dezenas, os visitantes que acorrem ao Bairro.
Provenientes de Singapura, de Kuala Lumpur e de outras paragens do globo, desaguam em Ujung Pasir levados pela curiosidade.
Os grupos folclóricos premeiam-nos, ao fim da tarde de sábado, com um arraial português em que os acordes do corridinho algarvio se misturam com o branyo local.
Pedro de Silva confirma um maior número de visitantes ao fim de semana, mas assegura que o negócio já conheceu melhores dias. O Restoran de Lisbon” conta com concorrência alargada desde que o pelado de futebol que servia de casa aos “Young Viniola”, a equipa do Bairro, foi substituído por uma espécie de drive in com vista para o mar.
São vários os restaurantes e as casas de pasto que prometem pratos “portuguese style”, especialidades cuja única ligação com Portugal radica no nome. Um – o De Costa – pertence a um irmão de Gerald.
Pedro nunca esteve em Portugal. Sabe contudo que entre os sabores portugueses e os sabores locais há um mundo de diferenças. “Portugal teng bacalhau, Malaca nan teng. Comida portugis mas comida portugis di Malaca, nan di Portugal. Macau teng bacalhau e teng comida portugis, nan teng?”

Pedro de Silva gosta de Macau. O território evoca o mesmo tipo de nostalgia e de respeito que os residentes continuam a nutrir por Portugal, uma pátria de antanho sumida no planisfério. ti em Macau que mora o amigo Fernando, o do restaurante à beira-praia.
Gerald de Costa, electricista, é dos poucos que já esteve no território. Participou, com a “Tropa de Malaca” nas cerimónias do 10 de Junho. Foi em princípios da década de 90 e já então Gerald ficou deslumbrado com os néons do Lisboa, com a frágil ossatura da Ponte Nobre de Carvalho e com a serenidade da já desaparecida baía da Praia Grande.
O Grupo manteve, durante anos o contacto com os agrupamentos e ranchos do território, aos quais pediu emprestados os modelos dos trajes e de algumas composições.
O reportório do grupo é eclético e variado, mas enche, ainda assim de estranheza, os sentidos de um ouvinte português.
A melodia conserva o mesmo ritmo e a mesma pujança que apresentam os ranchos e os grupos lusitanos de folclore.
A diferença, sórdida para quem sempre lidou com uma certa ortodoxia musical, radica na letra, adaptada ao linguajar local, o pápia kristang.
Na fusão – exótica quanto baste aos olhos dos malaios – radica a chave do sucesso do agrupamento. Desde que foi fundado, há trinta e nove anos, os músicos e os dançarinos da “Tropa” actuaram já por várias vezes em Singapura e correram de lés a lés a Malásia. Tocaram em Penang, em Kuala Lumpur, em Johor Bahru, em Taiping, em Kota Kinabalu, em hotéis e em casamentos, em congressos e em festas populares.
Tão grande é o sucesso e tantos os convites, diz Anne de Melo, que o grupo não é um, mas três. Enquanto uns entretêm eventuais turistas no Medan Portugis, outros, de acordeão na lapela e de barrete de campino enfiado na cabeça, actuam em hotéis e em recepções um pouco por toda a Malásia.
Uma das últimas ideias de Noel Felix, o homem à frente da “Tropa” quase desde a sua fundação, foi a criação de uma secção infantil. É na “Tropa” das crianças que dança Roseanne de Costa, a filha mais nova de Anne e Gerald. O grupo, fundado no fim do ano passado ainda não actuou, mas ensaia todas as semanas no pequeno palco plantado à frente do Restoran de Lisbon.
A existência do palco no coração do Medan Portu9is não é acidental. O espaço recria em Malaca os pátios lisboetas onde a gastronomia e a música se misturam em noites de antologia, regadas pelos acordes das guitarras e os versos tristes dos fadistas.
No bairro ninguém canta fado, mas o palco é utilizado todos os fins-de-semana por um ou por outro dos grupos de folclore do kampung.
O ‘Pátio Português” foi construído em meados da década de oitenta e financiado directamente pelo governo estadual de Malaca. As agências de viagens dirigem para lá, numa estratégia que visa validar o investimento feito, as hordas de turistas oriundas de Singapura, de Kuala Lumpur e de outras partes da Malásia.
O bairro é visto pelos turistas que chegam sobretudo como uma bizarra curiosidade.
Num país multi-cultural, é um exemplo de integração e de respeito por uma minoria étnica com tradições, algumas das quais remontam quase há quinhentos anos.
Para os que lá residem, o Bairro é o torrão nidades natal, mas também uma boa oportunidade de negócio. O segredo está em agradar a todos e em rentabilizar ao máximo cinco séculos de nostalgia.

Identidade reinventada

 

Quando, há quatrocentos e noventa e sete anos, à frente de um exército de 1200 soldados e mercenários, Afonso de Albuquerque subjugou Malaca e juntou, à então vasta listagem do património da coroa portuguesa, a soberania sobre a cidade e o estreito homónimo, as indicações que legou aos militares que o acompanharam na campanha dificilmente podiam ser mais claras: casem, amem e sejam tantos quanto as estrelas do céu.
Albuquerque, que a historiadora francesa Genevieve Bouchon considerava ser o homem de maior visão política a respeito do Oriente, quis fazer com que as suas conquistas fossem duradouras e se prolongassem pelos séculos dos séculos.
Intentou que assim fosse não pelas armas, mas pelas gentes.
O segundo vice-rei da índia, empreendeu, tanto em Goa quanto em Malaca, uma obra administrativa prudente, pautada por uma diplomacia pouco habitual para a época.
Quis que cada grupo, cada tribo, cada povo fosse governado por um dos seus e permitiu que os costumes e as tradições que os regiam continuassem a ser observados, desde que providos de moral.
Uma vez firmada a soberania portuguesa sobre Malaca e adquirido o monopólio do comércio e da navegação no Estreito do mesmo nome, Afonso de Albuquerque instou os seus comandados a adoptar uma política já em vigor nos fortes portugueses da índia: a da condução de casamentos com mulheres locais, pelos quais se consolidaria a fixação de populações portuguesas nas novas praças conquistadas.
Dos mil e duzentos homens que a 24 de Agosto de 1511 tomaram Malaca, quatro dezenas seguiram à letra as indicações do vice-rei, largaram as armas e assentaram arrais na cidade, a meio caminho entre a índia e a costa sudoeste da China.
São estes quarenta que estão na génese da quase mítica identidade portuguesa que continua hoje a ser reclamada pelos dois mil residentes do kampung portugis. Uma identidade que mistura traços genuínos e traços recriados e que tem como denominador máximo uma saudade estranha, quase mórbida, de um Portugal mais idealizado do que concreto.
Em todo o povoado contam-se pelos dedos aqueles que já estiveram em Lisboa. Josephine de Costa, matriarca da família homónima, nunca viajou até à capital portuguesa, mas preserva memórias cristalinas do dia em que Lisboa regressou a Malaca.
Josephine, 69 anos, tinha apenas catorze quando, em 1952, o então Ministro português do Ultramar, Sarmento Rodrigues, aportou a Malaca a bordo da fragata Gonçalo Velho.
Três séculos depois do fim da soberania portuguesa sobre a cidade, a visita de um dos mais altos dignitários do Governo português ligava de novo a comunidade dos luso-descendentes de Malaca a um mundo lusíada uno e indivisível. à luz da ideologia do então todo poderoso Estado Novo.
O Bairro engalanou-se para a recepção a Sarmento Rodrigues. O ministro foi presenteado com poemas declamados em kristang e com uma apresentação de danças folclóricas portuguesas especialmente ensaiada para a ocasião.
A ideia de colocar pescadores malaios a dançar a …. Tirana” e o “”Vira Minhoto”, teve-a Manuel Pintado, um sacerdote português que a Diocese de Macau enviara para Malaca quatro anos antes.
As músicas e os passos de dança foram em parte apreendidos a partir dos ensinamentos do pároco e em parte recriados tendo as páginas do livro “Folk Dances of Portugal”,da musicóloga inglesa Lucile Armstrong, por alicerce.
Uma outra musicóloga, a norte-americana Margaret Sarkissian (que viveu durante vários anos no kampun9 portu9is e estudou a importância do folclore na afirmação cultural da comunidade) defende no estudo “Being  Portuguese in Malacca: The Politics of Folk Culture in Malaysia” que a visita de Sarmento Rodrigues constitui o acto fundador da moderna identidade dos kristang.
A representação oferecida ao ministro foi tão bem sucedida que a comunidade acabou por se apropriar de tais expedientes e símbolos culturais de origem portuguesa (a música, a dança e os trajes garridos), incorporando-os num legado de cinco séculos que era até então constituído por uma língua periclitante, pela fé inabalável nos desígnios da cristandade e por um ou outro prato ainda com nome português.
Josephine de Costa foi, em Maio de 1952, uma das raparigas que dançou para Sarmento Rodrigues. “Sabe quem é Sarmento Rodrigues? O Padre Pintado disse que Sarmento Rodrigues vinha ao Bairro Português e nós propusemo-nos a dançar para ele. Veio de barco desde Lisboa e nós cantámos-lhe uma canção de boas vindas e depois dançámos.” O folclore é desde então parte do Quotidiano dos “portugueses”de Malaca e um dos principais rasgos de afirmação cultural da comunidade. Josephine integra com o filho Geral, com a nora e com os netos a “Tropa de Malaca”.
Dançar, já não dança, mas sempre que pode junta a sua voz ao coro de cantores do grupo e trauteia as modas longínquas importadas para o Bairro Português pelos padres Pintado e Sendim:

O malhang, malhang
O malhang aki
O malhang, malhang
O malhang aki
Sa dansá, dansé
O terin-tin-tin
Sa fugir, fugí

Filhos da nostalgia

 

Josephine tem no rosto indícios de outras latitudes e, tal como Pedro de Silva, poderia perfeitamente ser confundida com uma goesa. Fala um inglês pausado e insere esporadicamente no discurso uma ou outra palavra em kristang. Com Anne de Melo, a nora, só fala – garante – na língua que lhes foi legada pelos antepassados.
No kampung, para além dos “de Silva”, dos “de Costa” e dos “de Melo”, moram famílias que se chamam Pinto, Rosário, Albuquerque, Colares, Dias, Carvalho, Monteiro, Fernandis, Santa Maria ou Aranjo, uma corruptela de Araújo.
Para além da língua e do espaço, partilham ainda uma mesma incerteza quanto ao futuro.
Nem todos concordam, no entanto, em relação ao que é melhor para a comunidade no presente.
A destruição do antigo pelado de futebol, em finais da década de noventa, deixou metade da comunidade de costas voltadas para a outra metade. Hoje, é a construção de uma unidade hoteleira, na marginal marítima do Bairro, que dá azo a dissenções entre os portugueses de Malaca. Enquanto que uns encaram a entrada em funcionamento da unidade hoteleira como uma mais-valia para os residentes do Bairro, sinónima não só de mais dinheiro, mas também de mais emprego, outros temem que a valorização excessiva dos terrenos de Ujung Pasir onde estão instalados os “portugueses” possa atrair especuladores imobiliários e colocar em risco a coesão da comunidade.
Um novo hotel, mais volumoso, recebeu já luz verde das autoridades estaduais de Malaca para ser construído em pleno coração do “Portuguese Settlement”. Uma decisão que foi tomada, garante Josephine de Costa, sem que os moradores tivessem sido devidamente consultados.
A matriarca da família de Costa reconhece que a vida dentro do Bairro se tornou mais fácil nos últimos anos, de tal forma que a antiga comunidade de pescadores entende hoje a faina do mar mais como um desporto do que como um mister.
O mar, por onde os navegadores portugueses chegaram quase há cinco séculos, é dos poucos factores de concórdia absoluta entre os residentes. Temem-no, respeitam-no e abençoam-no todos os anos, a 29 de Junho, dia que a liturgia católica consagra a São Pedro, ele também um pescador.
O mar é o imenso cordão que os une a Portugal, uma memória tangível de odisseias extraordinárias e de epopeias antigas.
Alguns vestem a descendência lusa de alma e coração, dizem-se eles próprios portugueses, a prole de uma pátria gloriosa que deu novos mundos ao mundo.
Outros, mais realistas, sabem que integram uma tribo proscrita e reinventada, que sobreviveu à custa dos malabarismos da história e de um sentido oportuno de coesão.
Os mais pessimistas entendem que não há lugar no futuro para os portugueses de Malaca, que a comunidade não pertence a lado nenhum. Que são filhos do vento, do oceano e de um tempo de que já nada existe. Somente eles.

As crianças de Albuquerque

 

Cang di Padri. Este é o nome pelo qual os pouco mais de dois mil residentes do Bairro Português de Malaca designam os doze hectares de terreno que lhes servem de casa e que acolhem os “portugueses” da cidade quase há oito décadas.
O topónimo é de explicação fácil. O Bairro Português foi fundado No dos anos trinta do século passado graças à iniciativa e aos esforços desenvolvidos por dois missionários, um português e um francês.
Quando Jules Pierre François e Álvaro Martim Coroado chegaram a Malaca, os descendentes dos primeiros portugueses viviam em condições pouco salubres nas imediações da cidade.
Bandar Hillir e Kampung Tengah eram povoações de pescadores onde a insistência das marés e o carácter permeável dos solos se marinavam de forma destrutiva.
Os pedidos feitos à administração britânica para que uma solução pudesse ser adiantada foram dirigidos repetidas vezes, não apenas pela comunidade luso-descendente, mas também por outras comunidades que habitavam a marginal de Praya Lane. Apenas a insistente dedicação dos dois missionários conseguiu convencer as autoridades coloniais da cidade. Em 1926, François e Coroado, representantes respectivamente das Missões Francesa e Portuguesa em Malaca, propuseram a criação de um novo kampung nos arredores da cidade, para onde seria deslocada a comunidade.
O propósito era não apenas o de resgatar os ‘portugueses’ à miséria, mas sobretudo evitar que a comunidade mergulhasse na inevitabilidade do esquecimento. Católicos devotos e falantes de um linguajar arcaico, aparentado ao português da época das Descobertas, os ‘portugueses’ eram para os religiosos um garante da manutenção da fé cristã na região.
Fazia-se, por isso, necessário, do ponto de vista de Jules Pierre François e de Álvaro Coroado, evitar a assimilação da comunidade no seio das restantes comunidades que compõem o espectro da diversidade malaquenha.
Mais do que uma obra de caridade, a acção dos dois missionários está na base de uma experiência etnológica que se não repete em qualquer outro lugar da Malásia.
Com uma área de quase doze hectares, o local escolhido para o futuro Bairro Português, na zona de Ujung Pasir, é no início da década de trinta do século passado pouco mais do que um pântano onde um mangueiral bravio se expande.
Vários anos são necessários para que o departamento das obras públicas da cidade complete o arroteamento e a terraplanagem do terreno e dote o espaço de condições de habitabilidade.
Em 1935, dezassete famílias descendentes dos primeiros portugueses trocam Praya Lane pelo perímetro do kampung e por casas com o chão em terra batida pelas quais o mar já não entra.
Dez anos depois, finda a Segunda Guerra Mundial e a ocupação japonesa, o Bairro Português abriga já quase um milhar de pessoas, em torno de um ideal comunitário que se começa a estruturar à sombra de uma herança pouco definida e da nostalgia de um país situado a quatro séculos e oito mil quilómetros de distância.
O Bairro é gerido por um Conselho de Regedores que representa a comunidade junto das autoridades quer da cidade, quer do Estado de Malaca e que decide sobre todos os detalhes que importam à vida em comum dentro dos limites do bairro. Uma obra não é feita, uma árvore não é plantada e uma celebração não é organizada sem que o Conselho seja consultado e conceda o seu aval.
Durante os primeiros quarenta anos de existência do kampung, até 1973, aos residentes do Bairro era facultada apenas uma autorização temporária de permanência, a troco de uma renda pouco mais que simbólica.
Em 1973 o Governo anunciou que os residentes podiam comprar, caso o desejassem, o direito a residir de forma permanente no terreno onde tinham erigido as suas casas. A maior parte acabou por comprar a terra.
Trezentos e setenta ringgit foi quanto custou a cada um a concessão permanente dos terrenos onde os descendentes dos militares e mercenários liderados por Afonso de Albuquerque se recriaram como comunidade.
Hoje, o Bairro Português é um bairro típico de uma classe média suburbana malaia que não abdica do televisor, do computador com acesso à Internet e do telefone móvel.
Algumas vivendas têm à porta um jipe ou um carro de alta cilindrada.
Em quase todas, há um elo mínimo que liga as ruas empoeiradas ao distante Portugal.
Uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, um azulejo com São José. Um miúdo que enverga uma camisola com o nome de Figo. Outra, com o nome de Ronaldo, que seca num estendal. O galo de Barcelos empoleirado na prateleira do “Restoran de Lisbon”. Uma placa de mármore a dar as boas vindas à “vivenda de Melo”. O escudo, o verde e o vermelho da bandeira pintados numa parede.
Postais antigos de Lisboa e Sintra emoldurados como se fossem fotos ao lado de retratos de crianças cor-de-cobre com olhos impassivelmente verdes.
Portugal aqui e Portugal tão longe. Quatro séculos e oito mil quilómetros distante.

 

Portugueses, chettys e nyonias

 

Quando Tomé Pires aportou a Malaca pela primeira vez, mais de que com um empório comercial, o boticário, que foi o primeiro embaixador de Portugal junto do trono celeste do Império do Meio, deparou-se com uma encruzilhada de povos de culturas tão diversificada que nas ruas da cidade, dizia-se sem exagero, podiam escutar-se os sotaques de oitenta e quatro línguas diferentes. A localização estratégica de Melaka (o nome malaio da cidade tem origem numa árvore aparentada à canforeira, muito vulgar naquela zona do Estreito) cedo atraiu à região mercadores de origens tão díspares quanto a China, a Índia, a Insulíndia e a Península Arábica.
Procuravam sobretudo as especiarias das ilhas de Banda, Solor e das Molucas e transformaram a cidade num porto rico e cosmopolita, a meio termo entre as paragens do Oriente próximo e do Oriente extremo.
Quando Diogo Lopes de Sequeira tentou a primeira conquista da praça de Malaca, em 1509, a cidade fervilhava com mercadores chineses e tamil, com os quais os quais os conquistadores portugueses procuraram firmar laços diplomáticos.
Terão sido os mercadores chineses que comerciavam no estreito quem primeiro chamou a atenção dos navegadores lusos para a possibilidade de se explorar o comércio do Cataio e do Cipango.
Longe do fulgor de outros séculos, a Malaca de hoje persiste ainda como um hino ao passado e como um palco onde abundam os registos cosmopolitas. Para além da herança lusitana e da herança holandesa, a cidade acena aos turistas chineses com a epopeia do Almirante Zheng He.
O navegador, tido pela moderna China como o Colombo do Oriente, terá aportado a Malacaquase um século antes das naus portuguesas o terem feito e a cidade reserva, por isso um pequeno museu à memória da surpreendente Odisseia do almirante eunuco.
Zheng He não é, ainda assim, a única razão pela qual os turistas chineses demandam a cidade. Tal como os portugueses, muitos procuram compreender um pouco melhor a sua própria história e voltar a ancorar laços que uma diáspora multi-secular desatou.
Os kristang de Malaca estão longe de ser a única originalidade etnológica da cidade.
A comunidade divide as homas tanto com os chineses peranakan, quanto com os seus equivalentes tamil, os chettys.
Os primeiros, conhecidos em Malaca como os baba-nyonia, são os descendentes das primeiras comunidades chinesas que imigraram para a península malaia.
Uma vez no Estreito, adoptaram parcialmente os costumes da etnia predominante e desenvolveram uma língua própria – o Baba Melayu – em que se misturam vocábulos locais e chineses.
Subsistiram durante séculos à custa de uma política de segregação em que o casamento apenas era permitido ou dentro da própria comunidade ou com noivas importadas directamente do Império do céu (China).
A exemplo do que acontece com os babanyonia, os chettys falam também um patuá malaio que pede emprestado ao tamil muito do seu vocabulário. Conhecidos por peranakan indianos, são um grupo à parte dentro dos quase quinze por cento da população da moderna Malásia com raízes no subcontinente indiano. Muitos não falam fluentemente nem tamil, nem bahasa melayu. São hoje pouco menos de dois milhares e, tal como os kristang e os baba-nyonya, tidos mais como curiosidades antropológicas (que as autoridades da moderna Malásia acarinham a troco de turistas e de reconhecimento) do que propriamente como tribos deslocadas à espera do futuro e de definição.
A marca de uns e de outros está, no entanto, por todo o lado na cidade. É em Malaca que se localiza o mais velho templo chinês de toda a península, o templo de Chung Hoon Teng, erigido em 1645.
A dez minutos das antigas muralhas da “Famosa”, situa-se ainda o mais antigo cemitério chinês fora das fronteiras da China. Milhares de jazigos escalam as encostas do Bukit Cina, uma elevação que a população da cidade reaproveitou nos últimos anos para o jogging e para a prática desportiva.
Do topo do Bukit Cina, entre meias luas de pedra que assinalam o local de repouso de famílias inteiras, avista -se, quase a romper o horizonte, a silhueta do Sri Poyatha.