Tantos deuses por onde escolher…

Dayron Robles, Asafa Powell, Yelena Isinbayeva, Michael Phelps, Roger Federer, Justine Henin, Kaká, Messi, Yang Wei, Irina Karavaeva, Timo Boll e Ryoko Tamura. Nomes que vão, certamente, brilhar em Pequim

 

É no atletismo que nascem, normalmente, os mais fantásticos deuses do estádio na história dos Jogos Olímpicos. A tradição vai continuar a ser o que tem sido. E talvez o clímax de Pequim se faça em menos de 12 segundos – no electrizante duelo entre Liu Xiang, recordista mundial dos 110 metros barreiras, e o cubano Dayron Robles, o homem do futuro. Não menos emocionante promete ser a luta nos 100 metros entre o americano Tyson Gay e o jamaicano Asafa Powell. E porque verdadeiramente notícia seria ela não ganhar – estrela maior há-de ser Yelena Isinbayeva, que se treina em Itália e é fã de… Cristiano Ronaldo, no salto à vara, tentando o seu segundo título olímpico, depois de tudo ganhar, de ter sido a primeira mulher a mais de cinco metros.

 

Dream Team quer desforra

 

Em Atenas, houve escândalo no basquetebol – com a vitória da Argentina. Que com Emanuel Ginobili e Fabrício Oberto (San António Spurs), Luís Scola (Houston Rockets), Andrés Nocioni (Chicago Bulls), Carlos Delfino (Toronto Raptors) e Walter Herrmann (Charlotte Bobcats) há-de ir de novo de esperança larga a jogo. Os americanos já juraram vingança da desfeita de há quatro anos e por isso apostam de novo num Dream Team – com Kobe Bryant (Los Angeles Lakers), Lebron James (Cleveland Cavaliers), Carmelo Anthony (Denver Nuggets), Amare Stoudamire (Phoenix Suns), Dwight Howard (Orlando Magic) e Jason Kidd (Dallas Mavericks). Por fora correrá a Espanha, campeã mundial, com Pau Gasol (Los Angeles Lakers), José Manuel Caldéron e Jorge Garbajosa (Toronto Raptors) – de olho sempre no papel de outsider que a Rússia, actual campeã da Europa, comandada por Andrei Kirilenko (Utah Jazz), pode ter.                                                                                         Nas mulheres, apesar da Austrália de Penélope Taylor se ter sagrado campeã mundial de 2006, no Brasil, as americanas mantém o maior quinhão na bolsa de apostas juntando duas faiscantes estrelas Sylvia Fowles e Lauren Jackson a Lisa Leslie que sonha com a quarta medalha de ouro consecutiva, pois esteve nas vitórias de Atlanta, Sydney e Atenas.

 

Phelps em novo ataque 

 

Incontornável, na natação há-de haver, magnético, o efeito Michael Phelps. Há quatro anos não conseguiu igualar a proeza das sete medalhas de ouro de Mark Spitz em Munique (1972), saiu da Grécia com seis de ouro (100 e 200 metros mariposa, 200 e 400 metros estilos, 4×200 metros livres e 4×100 metros estilos) e com duas de bronze (200 metros livres e 4×100 metros livres) vai insistir no desafio. E com isso o mais certo é ofuscar o brilho de gente como os seus compatriotas Ryan Lochte (é bom que decore este nome…), Randall Bal, Kate Ziegler e Natalie Coughlin, dos australianos Eamon Sullivan, Grant Hackett e Libby Lenton, do sul africano Roland Schoeman, dos franceses Alain Bernard e Laure Manaudou…

 

De Federer a Sharapova…

 

E, durante largos anos, porque os Jogos viviam o romantismo e a hipocrisia do amadorismo geneticamente puro, os grandes nomes do ténis nunca rimaram com os grandes nomes do olimpismo. Só sucedeu a partir de 1988 – quando Steffi Graf ganhou a medalha de ouro em Seul. André Agassi fez o mesmo em Atlanta – e em Sydney (2000) Venus Williams venceu a prova individual e a de pares com a sua irmã Serena. Em Atenas, se no sector feminino Justine Henin impôs a lei da mais forte, no masculino houve campeão… acidental, o chileno Nicolás Massú – que em pares, com Fernando Gonzalez, também venceu, para que o espanto fosse maior ainda. Desta vez, baixa é a probabilidade de acontecer semelhante coisa – porque Roger Federer, a decepção de há quatro anos, já avisou que não vai cometer o erro de então, não se vai hospedar na Aldeia Olímpica, pois todo o tempo que por lá passou foi tempo sem grande descanso, com toda a gente pedindo-lhe autógrafos, querendo tirar fotografias consigo – e reafirmou que só pensa numa coisa, na medalha de ouro. E como nisso pensam também em quentíssima ilusão Rafael Nadal, o espanhol que é sobrinho de Nadal, defesa do Barcelona nos anos 80 e 90, e Novak Djokovic, o sérvio que conquistou o seu primeiro grande torneio no Estoril Open e que é adepto do… Benfica, imagina-se como a emoção há-de estar. Sim, Henin quer tornar-se a primeira bicampeã – e Maria Sharapova não quer passar por Pequim deslumbrando só pela sua beleza. E por tudo isso – o ténis terá impacto e frenesim como nunca antes teve na história olímpica.

 

Brasil com Kaká, Argentina com Messi

 

Ah! E desta vez, mesmo com o futebol em versão sub-23 – tudo aponta para que haja nos Jogos alguns daqueles nomes que tudo agitam. Por exemplo, o Brasil que, apesar de já ter usado Bebeto e Romário nunca foi… campeão olímpico, o melhor que conseguiu foi prata em Los Angeles e em Seul, quer que seja, enfim, a hora de ganhar o único título que lhe falta e Dunga, o seleccionador, até já revelou que vai levar Kaká como um dos não-sub 23. A Argentina que em Atenas ganhou a medalha de ouro contando com… Lucho Gonzalez – parece que vai apostar em Riquelme. E tudo aponta para que não prescinda de Messi e de  Aguero, colega de Simão Sabrosa e grande revelação no Atlético Madrid. No feminino, talvez se reedite a final do Mundial, entre Alemanha e Brasil – e mais do que luta entre as duas melhores equipas da actualidade, empolgante deve ser a luta entre a alemã Birgit Prinz e a brasileira Marta para se saber quem é mesmo a melhor jogadora de futebol do Planeta.

 

Na ginástica, Yang Wei com ou sem erro…

 

Sempre altamente mediática, a ginástica artística – por onde hão-de passar deslumbrantes fenómenos: as americanas Shawn Johnson e Anastasia Liukin, o chinês Yang Wei, o alemão Fabian Hambüchen, o brasileiro Diego Hypólito (isso se recuperar totalmente do ataque de dengue que o atirou para a cama de um hospital, uma semana depois de ter regressado aos treinos, após operação cirúrgica de urgência…) e Paul Hamm. Lembram-se? Sim, Hamm foi o americano que em Atenas ganhou medalha de ouro porque os juízes se “esqueceram” de contabilizar um décimo da nota de partida do coreano Tae-Young Yang, que por isso ficou com o bronze. Farta foi a polémica – mas o resultado não sofreu alteração. Após os Jogos, Hamm decidiu reformar-se. Há menos de um ano sentiu saudades da competição – voltou e… conseguiu apurar-se para os Jogos. E acha que pode contrariar a ideia de que o título já está entregue: “Não, não é loucura pensar que não posso derrotar Yang Wei, mas sei que isso só acontecerá se ele cometer algum erro…”  Na ginástica rítmica, grande é a expectativa em torno da batalha em que a ucraniana Anna Bessonova e a russa Vera Sessina  e nos trampolins Irina Karavaeva pode fazer em Pequim o que fez em Atenas: esmagar toda a concorrência.

 

As novas águas do brasileiro

 

… E porque os Jogos são na China, o ténis de mesa há-de ter protagonismo como nunca antes. Com Wang Liqin, campeão de pares em Sydney e bronze individual em Atenas, buscando o seu primeiro título. Para isso terá de se desenvencilhar do seu compatriota Wang Hao , vice-campeão em título e nº 1 do ranking mundial – e de outsider chamado Timo Boll, o alemão que é campeão da Europa e o único capaz de afrontar o poder chinês que se estenderá, decerto, às senhoras, onde emocionante será a luta entre Guo Yue, campeã mundial 2007 e Zhang Yining, nº 1 do ranking e campeã olímpica individual e de pares em Atenas-2004.                                                                                                        O brasileiro Robert Scheidt, campeão em Atlanta (1996) e em Atenas (2004) e vice-campeão em Sydney (2000), mudou da classe Laser para a classe Star  –  e com Bruno Prada como companheiro vai chegar a Pequim como campeão mundial e candidatíssimo a fazer ainda mais história na vela. E o mesmo poderá acontecer com o britânico Ben Ainslie, campeão olímpico de Laser em 2000 e de Finn em 2004 – além de incontestável vitória no Campeonato do Mundo de Finn de 2008.

 

Ryoko Tamura na eternidade do judo

 

No judo, Atenas criou um mito: Ryoko Tamura. Com 1,46 metros de altura chegou lá já casada com um dos heróicos campeões de sumo do Japão: Tani. Em menos de 48 quilos, ganhara medalhas de prata em Barcelona (1992) e Atlanta (1996) e ouro em Sydney (2000). Ouro ganhou de novo competindo já como Ryoko Tani. Campeã mundial em 2007, tudo aponta para que continue a alargar a saga, arrecadando quinta medalha. Ah! E quinta medalha pode levar também a cubana Driulis González, campeã mundial 2007 na classe de menos 63 quilos, depois do ouro em Atlanta (1996), da prata em Sydney (2000) e do bronze em Barcelona (1992) e Atenas (2004).