De ilha recôndita a centro mundial

Os trabalhos que irão pôr a Ilha da Montanha (Hengqin) no mapa do turismo internacional começaram a todo o vapor em Dezembro do ano passado, com a construção do maior parque aquático do mundo. As maiores montanhas-russas lá estarão. Prevê-se que todos os anos mais de 15 milhões de turistas passem pelo território vizinho a Macau

 

Na zona Sul, o maior parque aquático do mundo. Na parte Leste, o novo campus da Universidade de Macau, para onde professores e estudantes se devem mudar no fim de 2012. Estes são dois dos projectos que estão a mudar por completo a fisionomia de uma das ilhas do Delta do Rio das Pérolas antes intocada. O objectivo é transformar a Ilha da Montanha num refúgio turístico, educacional e empresarial até 2020, com a população a crescer mais do que 50 vezes, passando dos actuais 5000 habitantes para os 280 mil.
Apesar do acelerado desenvolvimento, uma garantia está lançada. “Será um modelo de ilha ecológica”, frisa Zhao Zhenwu, subdirector da divisão de trabalhos do Comité Administrativo para a Nova Zona de Hengqin (HNAAC, na sigla em inglês). “Dos seus 106 quilómetros quadrados, 78 não serão desenvolvidos ou terão uma intervenção bastante limitada. Não haverá poluição, nem ares condicionados. O sistema refrigerante será movido a gás natural, o que impulsionará a qualidade de vida”, explica o responsável.

É chegada, portanto, a altura para o investimento, como aconselha Zhao Zhenwu. Se as pessoas de Macau quiserem comprar uma casa na Ilha da Montanha, devem fazê-lo o quanto antes. Com a qualidade de vida que vamos ter, os preços vão disparar, alerta.
A área total da Ilha da Montanha é três vezes a de Macau, que ganha, com o desenvolvimento do território adjacente, um complemento para a sua própria expansão, com mais ofertas de habitação e serviços que na região administrativa especial não teriam espaço para serem alojadas.
Foi em Agosto de 2009 que o Conselho de Estado deu luz verde para que Hengqin ganhasse o estatuto de distrito económico especial, o terceiro local na China a entrar para essa lista – já lá constavam Pudong, em Xangai, e Binhai, em Tianjin. Uma decisão tomada no topo da hierarquia demonstra por si só a importância que o Governo Central atribui à ilha e o seu papel estratégico no futuro do Delta do Rio das Pérolas.
Pequim quer agarrar a oportunidade de transformar este território inexplorado em algo completamente novo – uma ilha de árvores, lagos, com baixa densidade populacional e um índice reduzido de emissões de gases poluentes. A Ilha da Montanha está agora pensada para ser, em todo o Delta, o sítio mais ecológico para se querer estar.

Nova universidade

Um dos principais projectos – e também o primeiro – é a construção do novo campus da Universidade de Macau em lotes que, na sua globalidade, somam 1,09 quilómetros quadrados e estão voltados para a Taipa. Em Junho de 2009, a Comissão Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN) aprovou um diploma a transferir a jurisdição dos terrenos à Região Administrativa Especial de Macau. Durante 40 anos, a RAEM terá de pagar um empréstimo de 150 milhões de dólares (390 mil milhões de patacas) a Zhuhai. Somam-se ainda os gastos de 6000 milhões de patacas estimados para concluir o novo campus.
O ìempréstimoe irá permitir ainda que estudantes, professores, equipa técnica e visitantes possam entrar e sair do campus sem ter de passar pelo controlo de imigração. É a primeira vez que tal decisão é tomada pela APN em relação a um território vizinho de Hong Kong e Macau, desde a transferência–- em 1997 e 1999, respectivamente. A evidenciar o apoio de Pequim, o presidente Hu Jintao, participou na cerimónia da primeira pedra do novo campus no dia 20 de Dezembro de 2009.
Prevê-se a conclusão das obras em dois anos. Um grande cronómetro a indicar o prazo final – 19 de Dezembro de 2012 – fica à porta do escritório do construtor, o Grupo Guangdong Nan Yue. A cada dia que passa, o relógio assinala a proximidade da data limite.
Um porta-voz da companhia referiu que se tem enfrentado dois grandes desafios. Um deles é o nível baixo do terreno, que requer a drenagem de quantidades astronómicas de água do subsolo. Concluída essa primeira fase, é altura de estabilizar a terra e conseguir firmá-la de forma a erguer sobre elas os edifícios.
O outro desafio prende-se com o facto do projecto estar circunscrito a duas jurisdições legais, o que significa, em outras palavras, que o processo deve ser acompanhado e fiscalizado por departamentos da província de Guangdong e de Macau. A empresa Nan Yue está também responsável pela construção de um túnel subaquático para pessoas e mercadorias da Ilha da Montanha até a Taipa – um duplo desafio de engenharia devido à pouca rigidez do solo e à curta distância de entrada no lado de Macau.
O chefe da obra do novo campus é o arquitecto He Jingtang, vice-presidente da Sociedade de Arquitectos da China e projectista do Pavilhão chinês na Expo Xangai 2010. A Universidade terá dez residências para estudantes, cada uma com capacidade para 500 pessoas. Espera-se que dez mil alunos frequentem ao mesmo tempo a instituição, face aos actuais seis mil que sobrelotam o actual campus na Taipa. A nova escola ocupará uma área 20 vezes maior do que a presente. Lagos, jardins, passeios pedestres e motivos arquitectónicos e representativos da cultura do Sul da China e do Sul da Europa irão encher os olhos.

Reino das águas

Na zona Sul da Ilha da Montanha irá nascer um outro projecto de grande envergadura – o Reino do Oceano, um investimento de dez mil milhões de yuans (cerca de 12 mil milhões de patacas) por parte da empresa privada Chimelong International, de Cantão. O parque temático irá abrigar as maiores montanhas-russas do mundo, com 218 metros de altura, e um vasto leque de atracções que incluem um circo aquático, mais de 40 locais de observação subaquática, safari nocturno, teatro 5D e zona de golfinhos e baleias brancas. A primeira fase, que abrange o Parque Reino do Oceano e o Hotel Oceano, estará concluída até o fim de 2012, quando as atracções vão abrir as suas portas. O complexo terá um hotel temático de golfinhos com 1888 quartos disponíveis.

Ye Wenqing, subdirectora do Comité para o Desenvolvimento Industrial de Zhuhai da HNAAC, afirma que os golfinhos, os leões-marinhos e outros animais aquáticos serão levados para a ilha a partir da Rússia, do Japão, dos Estados Unidos e da Austrália, e estarão de quarentena até a sua completa adaptação ao novo habitat.
O foco do turismo vai além dos chineses do continente. A estratégia é tornar o parque um centro de lazer internacional. “No início, esperamos ter principalmente turistas do Interior do País, mas acreditamos que, com o tempo, mais e mais visitantes de outros países virão conhecer-nos”, aponta, acrescentando os benefícios para Macau. “Irá, com certeza, ajudar Macau a diversificar o seu turismo familiar. Enquanto o marido joga no casino, a mãe e os filhos vêm para o Parque Reino do Oceano.”
Outras infra-estruturas turísticas na Ilha da Montanha vão incluir marinas para iates, campos de golfe, instalações médicas – focadas principalmente na vertente estética e da beleza com a possibilidade de um hospital -, galerias de artes e residência de artistas estrangeiros.
Zhao Zhenwu refere que o Delta do Rio das Pérolas poderia atrair mais turistas se houvesse uma maior variedade de actividades para toda a família. “No futuro, podemos oferecer um ou dois dias em Hong Kong, outros dois dias em Macau e mais dois na Ilha da Montanha. Os visitantes terão o que fazer e poderão cá ficar por mais tempo. Iremos complementar o turismo de Macau”, assinala.
Na zona Norte da ilha, nascerá uma “área residencial de calibre internacional”, com casas ecológicas e com uma baixa densidade populacional. Zhao acredita que, apesar da alta qualidade, as casas serão mais baratas que em Macau, o que irá atrair residentes do território vizinho a se estabelecerem em Hengqin. “A configuração do meio ambiente será mais atractiva e haverá mais oportunidades de recreação. Com a fronteira aberta 24 horas todos os dias, será bastante conveniente viver na Ilha da Montanha e ter um emprego em Macau.”

A abrir caminho

O governo local de Zhuhai está a investir cerca de 12,6 mil milhões de yuans (15 mil milhões de patacas) na criação de infra-estruturas necessárias para alojar os 280 mil residentes previstos na Ilha da Montanha até 2020. Uma estrada de 52 quilómetros irá cobrir toda a circunferência da ilha e será toda ela decorada com árvores e flores. Ye Wenqing afirma que o local será ideal para provas de bicicleta e maratonas internacionais.
Serão construídas ainda duas pontes a ligar Hengqin com o resto da cidade de Zhuhai, incluindo uma de acesso directo ao aeroporto da cidade, dois túneis, uma ponte para Macau e pavimentação dentro da ilha. Os residentes de Macau serão autorizados a circular com os seus carros no território vizinho.
A energia será gerada a partir de estações eólicas e gás natural transportado do Mar do Sul da China. A China Power Investment Corporation está a construir um projecto de produção de energia avaliado em 12 mil milhões de yuans (14 mil milhões de patacas).

Distrito empresarial

Na parte Nordeste da ilha, nascerá o Distrito Empresarial Shizimen, cuja primeira fase de construção arrancou em Julho de 2010. O investimento total ronda os 100 mil milhões de yuans (118 mil milhões de patacas), dos quais 38 mil milhões virão do Grupo Huafa, a maior empresa imobiliária de Zhuhai. O bairro ocupará uma área de 5,77 quilómetros quadrados e levará cinco anos a ser completamente construído.
Fazem parte do projecto dois hotéis de cinco estrelas a serem geridos pelos resorts St. Regis e Sheraton e o Centro de Convenções Internacional de Zhuhai, com 25 mil metros quadrados e capacidade para dez mil visitantes. Ao lado do centro ficará uma torre de 300 metros de altura, o maior edifício de Zhuhai e Macau, com escritórios de alto luxo e o hotel St. Regis.
O distrito, que irá criar 11 milhões de metros quadrados, está pensado sobretudo para negócios ligados ao sector bancário, de seguros e comércio, com enfoque para convenções e feiras. Investidores de todo o mundo serão bem-vindos, mas prioridade será dada a empresas da província de Guangdong, de Hong Kong e Macau. O edifício da Corporação da Indústria de Aviação da China (AVIC, na sigla em inglês) já está garantido no bairro, para dar apoio à sua nova fábrica na cidade de Zhuhai.

Indústria

O projecto inicial para a Ilha da Montanha inclui também uma área industrial de alta tecnologia e pesquisa científica na ponta Nordeste da ilha. Zhao garante que as indústrias em Hengqin ficarão restritas àquelas não-poluentes, como as da área de electrónicos.
O governo está também a avançar para a construção do Parque da Medicina Tradicional Chinesa no espaço de 1,5 quilómetros quadrados, com investimento conjunto de Macau. O projecto está pensado para servir de plataforma para pesquisa, desenvolvimento e formação de profissionais, com a participação de investidores estrangeiros.

O que será da Ilha da Montanha em 2020

  • Aumentar a população das actuais 5000 para 280 mil pessoas. Em 2015, espera-se já 120 mil habitantes

  • Alcançar o Produto Interno Bruto (PIB) per capita de 200 mil yuans em 2020, com um ponto intermédio de 120 mil em 2015

  • Preservar os espaços verdes de forma a que representem pelo menos 50% da ilha

  • Toda a água utilizada será tratada e o lixo será eliminado sem provocar poluição