China e Angola de mãos dadas em vários caminhos

A cooperação entre China e Angola é antiga e deriva muito mais do que da criação do Fórum Macau. O rápido desenvolvimento dos dois países tem contribuído para aproximar os Governos e utilizar os recursos de cada um para obter “mais-valias” do outro

 

 

Serviço especial Lusa

 

O petróleo angolano é absolutamente necessário para a China, bem como a mão-de-obra e a disponibilidade chinesa para investir é vital para a criação de infra-estruturas no país africano devastado por mais de duas décadas de guerra que, não só impediram o desenvolvimento como contribuíram para destruir aquilo que existia.

Ultrapassados todos os objectivos da China nas trocas comerciais com os países de língua portuguesa, Angola é o segundo “lusófono” no comércio com o gigante asiático, um país com quase 1,4 mil milhões de pessoas onde o consumo tem vindo a crescer de forma sustentada pelo próprio aumento da capacidade de compra de uma população cada vez mais metropolitana e consumista.

Entre Janeiro e Junho, os 13,1 mil milhões de dólares das trocas comerciais entre a China e Angola representam 25 por cento do total do comércio com a lusofonia e acima do país africano está apenas o Brasil, responsável por mais de 50 por cento das trocas comerciais com a China no primeiro semestre deste ano.

Os dados das trocas comerciais confirmam a China como o maior parceiro comercial e o maior investidor estrangeiro em Angola,  enquanto o país africano também não pode ser desconsiderado no seu relacionamento com Pequim, já que no contexto africano  é o maior parceiro de Pequim.

O win-win da cooperação, desde 2003 sustentado pelo Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau) e contando com o apoio de embaixadas e consulados de ambos os países, é agora também reforçado por visitas mútuas e cursos de formação organizados pela China, para que o mundo de língua portuguesa conheça melhor as suas características e a compreenda o seu desenvolvimento.

Mas, além da indústria petroquímica como oferta e as infra-estruturas como contrapartida, Angola tem também como prioridade na cooperação a agricultura, potenciando a grande extensão do território, como frisou Armando Manuel, secretário para os Assuntos Económicos do Governo de Luanda.

“Hoje temos acções dominantes na indústria petroquímica”, começou por salientar recentemente numa visita a Macau, a propósito do curso de formação para funcionários angolanos sobre zonas de desenvolvimento. “Angola é um país com uma grande extensão de terras aráveis e recursos hídricos”, acrescentou para justificar a prioridade nas questões agrícolas na agenda de cooperação.

O mesmo responsável salientou que o programa de desenvolvimento agrícola é “ambicioso”, prevê a “implantação de grandes centros de produção” e está a ser “desencadeado com o apoio do Banco de Desenvolvimento da China”, pelo que a meta estará centrada em “alargar e fortalecer” este tipo de acções.

Nas linhas mestras do contacto bilateral, o responsável pelos assuntos económicos do Governo angolano olha também para a língua portuguesa e salienta o papel de Macau no fortalecimento das relações comerciais e financeiras entres os dois países. “Estas acções de domínio financeiro e comercial serão sustentáveis quando a comunicação for fluida. Certamente Macau desfruta de uma vantagem significativa neste domínio, em poder ser um instrumento catalisador deste processo”, defendeu Armando Manuel, destacando o papel da actual região administrativa especial da China no contacto entre o poder político da China e os governos dos países de língua portuguesa.

Em “velocidade de cruzeiro” e sem qualquer questão que possa impedir o desenvolvimento, Angola não só marca presença no Fórum e defende a sua dinamização, como aposta numa presença física em Pequim e Macau. Dessa forma, valoriza-se o contacto directo com os empresários da região e desenvolvem-se canais de informação para dar a conhecer aquilo que vai acontecendo no país e as oportunidades que podem ser aproveitadas também por empresários chineses.

Nesse sentido, e apesar dos canais oficiais do Fórum Macau, um centro de discussão alargado e definidor de uma política comum e abrangente, Angola – tal como os outros “lusófonos” – desenvolve contactos directos com Pequim e, até ao final do ano, além das áreas já identificadas de comércio e cooperação, uma comissão mista dos dois países quer não só definir um dos centros a desenvolver na cooperação bilateral como encontrar um espaço concreto em que Macau assuma um papel de ponte na ligação entre os dois países.

Uma delegação empresarial organizada pelo Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) e uma outra pelo Fórum Macau estiveram entre 17 e 21 de Julho em Angola para promover relações, parcerias e oportunidades de negócio.

A delegação do Secretariado Permanente do Fórum Macau, chefiada pelo seu secretário-geral, Chang Hexi, reuniu com a ministra do Comércio de Angola, Maria Idalina Valente, a quem reiterou o compromisso do Fórum na concretização das novas medidas anunciadas pelo primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, relativamente à promoção da cooperação empresarial com os países de língua portuguesa.

As comitivas do IPIM e do Fórum Macau estiveram igualmente presentes na abertura da Feira Internacional de Luanda (FILDA), tendo depois participado no “Encontro de Empresários para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, onde estabeleceram contactos com a Câmara de Comércio e Indústria de Angola e com empresas angolanas.

O encontro de empresários, que decorreu entre 20 e 21 de Julho, teve por objectivo criar oportunidades de negócio com vista a reforçar a função de Macau como plataforma de cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa, aumentar as exportações para os mercados lusófonos e reforçar o intercâmbio comercial.

Na ocasião, foi assinado um protocolo institucional entre a Câmara de Comércio e Indústria de Angola e o Secretariado Permanente do Fórum Macau e outro entre uma empresa macaense e uma congénere angolana.

Na abertura do encontro empresarial, o vice-presidente de Angola, Fernando da Piedade Dias dos Santos, salientou que a realização dessa iniciativa testemunhava a importância que o Executivo de Luanda atribuía à necessidade de continuar a consolidar a cooperação, estabelecer parcerias e promover as relações comerciais.

O governante angolano lembrou que o espaço geográfico que compreende a China e os países de língua portuguesa representa um mercado com um número considerável de consumidores e constitui uma porta para o acesso a várias regiões económicas do mundo.

O comércio entre a China e os países de língua portuguesa aumentou 31,19 por cento nos cinco primeiros meses de 2011 face ao mesmo período do ano passado, para um total de 43,09 mil milhões de dólares.

Dados oficiais da alfândega chinesa indicam que, entre Janeiro e Maio, a China comprou aos oito países de língua portuguesa produtos no valor de 28,95 mil milhões de dólares contra vendas de 14,14 mil milhões de dólares, trocas que representam, respectivamente, aumentos homólogos de 34,81 e 34,74 por cento.

Macau, defendeu recentemente o presidente da Academia Internacional para as Autoridades Comerciais do Ministério do Comércio da China, Xi Jun, pode desempenhar um papel importante na ligação entre a China e os países de língua portuguesa através da cooperação na área informática e jurídica, aproveitando o tronco comum de sistemas jurídicos de cariz português espalhado pela lusofonia.