De olhos postos na China

Líder mundial na indústria da cortiça, a Amorim está satisfeita com o acordo que assinou este ano para reforçar o segmento dos revestimentos na China. A garantia é de Carlos de Jesus, o director de marketing da empresa, cujas fábricas em Portugal abriram as portas à revista Macau

 

 

Texto Patrícia Lemos

Fotos Paulo Cordeiro, em Portugal

 

A Corticeira Amorim conta 140 anos de história e uma produção anual que já ultrapassa os três mil milhões de rolhas para um consumo de 12 mil milhões destes vedantes a nível mundial. Pela sua linha de produção passam ainda outros produtos, como juntas para automóveis, peças para penas de badminton e revestimentos. E é nesta última área que está a sua última grande fé no mercado chinês. No ano passado, a empresa portuguesa abriu uma fábrica em Xian, na Província de Shaanxi. O objectivo era aumentar e muito o volume de negócios que já ascendia aos dez milhões de euros por ano (menos de dois por cento da facturação anual com cortiça em todo o mundo).

O director de marketing da empresa, Carlos de Jesus, garante que a Amorim está satisfeita com a aposta na China, onde regista um volume de vendas actual de mais de 12 milhões de euros. Na passada Primavera, reafirmou o seu interesse ao celebrar um acordo com a Hi-Step para a distribuição exclusiva dos produtos Wicanders na China, porque é a maior sociedade retalhista desse país, especializada em revestimentos de cortiça premium para piso e parede. Esta operação fortalece a liderança da empresa no segmento dos revestimentos de cortiça para pavimentos e paredes no mercado chinês.

Se na área das rolhas a Amorim tem uma longa tradição na exportação, onde se inclui a China – “Nos anos 60 já exportávamos para lá”-, no que toca a revestimentos, um produto que é diferente por também ser orientado para o consumidor, a corticeira só está presente no país desde 2003. Por isso sentiu necessidade de ter um aliado no país. “É importante ter um parceiro local”, aponta Carlos de Jesus, ao considerar que a China não tem uma logística fácil.

O director de marketing da empresa não tem dúvidas de que a sustentabilidade associada à cortiça é importante para a China, um país com as preocupações ambientais do mundo mais desenvolvido. Além desse factor, dois outros momentos têm contribuído para a crescente popularidade da cortiça na China. Carlos de Jesus explica que a campanha institucional internacional para materiais de construção e de design, levada a cabo pela Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR), foi muito importante nesse sentido. O mesmo se poderá dizer do Pavilhão de Portugal na Expo 2010, em Xangai.

Outras iniciativas da Amorim têm ainda pesado na cada vez maior familiaridade dos chineses relativamente a este produto nobre português. “Todas as garrafas servidas na Aldeia Olímpica dos Jogos de Pequim, em 2008, tinham as nossas rolhas.” Certo é que o aumento do nível de vida dos chineses, aliado a uma maior curiosidade sobre o estilo de vida ocidental, também tem feito aumentar o negócio das rolhas, como por exemplo as de champanhe, que registam “uma das maiores taxas de crescimento a nível mundial, pelo que a China também se inclui.”

A corticeira aposta assim no mercado chinês de forma consolidada, aproveitando as oportunidades reais sem ambições desmedidas. E claro, “Macau é a ponte natural entre os dois países”, assegura o responsável.

 

Em périplo pelas fábricas

É em Coruche, perto dos sobreiros, que arranca a produção da casca de sobro. Na Amorim Natural Cork, S.A. saltam à vista as pilhas de pranchas de cortiça. Parecem carcaças de crocodilos ao sol. Ali ficam em repouso pelo menos seis meses, a torrar no cimento, longe da madeira e outros materiais para evitar a contaminação. Nesse enorme estaleiro apanham o sol do Verão e a chuva do Inverno.

Àquele tablado cinzentão em brasa chegam todos os dias muitos camiões para carregar de pranchas de cortiça já tratadas. Um a um são pesados já com a carga de dez toneladas, não vá o material “perder-se” no caminho até às fábricas do Norte, onde os veículos passam de novo pela balança.

No interior da fábrica a temperatura cai, mas não no interior dos tanques, onde a cortiça mergulha na água a 95°C. Todos os dias são cozidas 40 toneladas de cortiça. Antigamente, a cortiça ficava de molho, agora, rebola na água que é constantemente filtrada. Quando saem das enormes gaiolas de aço, as pranchas já estão secas. Ao longo de uma hora aquela matéria-prima perde as impurezas e a microflora, expande-se em cerca de 20 por cento e obtém uma textura mais macia. Porém, as pranchas só perdem o feitio arredondado do tronco no repouso que se segue e que dura algumas semanas.

Assim se estabiliza a cortiça que depois é transformada: cortada em tiras e perfurada com uma broca para obter o formato cilíndrico que caracteriza a rolha. O que sobra é, por exemplo, transformado em aglomerado, sendo variadas as aplicações.

Em Coruche produzem-se rolhas e a linha de montagem inclui mesmo robôs que cospem milhões de discos de cortiça por dia para fazer as rolhas twintop (com um disco no topo e outro na base). Porém, a maioria da matéria-prima segue para o Norte do país. Aí se encontram mais fábricas da marca Amorim, cada qual numa área, das rolhas de champanhe às capsuladas, passando pelas rolhas naturais, as twintop. Mas há mais: em Santa Maria de Lamas encontra-se ainda um museu da cortiça, que era a antiga casa da família Amorim, e um laboratório onde são testados novos produtos e realizadas 12 mil análises à cortiça todos os meses.