João Manuel Costa Antunes, O homem que faz

Em todas as suas funções, orientou sempre a acção para os resultados. Cumprindo prazos e entregando eficácia. Do desenvolvimento urbanístico à coordenação do Grande Prémio, a sua intervenção na melhoria de Macau tem a mesma marca há 30 anos: obra feita

 

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Texto Nuno G. Pereira | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

Ao falar sobre a carreira e as escolhas feitas no percurso de uma vida iniciada a 20 de Agosto de 1950, em Lisboa, João Manuel Costa Antunes transmite características claras: capacidade de liderança, repúdio pela mediocridade, necessidade permanente de aprender e, acima de tudo, método. Sublinha a importância de preparar projectos com rigor, para as eventuais falhas na concretização serem mínimas. A sua visão é límpida: definir objectivos, congregar a melhor equipa, cumprir o plano estabelecido.

A personalidade metódica formou-se cedo, mas a vida trocou-lhe as voltas. O plano original era seguir a tradição familiar, com actividade na Engenharia Civil. Inicialmente assim aconteceu. Conciliou estudos e trabalho nessa área, concluindo a licenciatura, no Ramo de Estruturas, a 20 de Abril de 1974. Ou seja, cinco dias antes de rebentar a Revolução dos Cravos, que alterou profundamente Portugal.

Foi a primeira finta do destino, que o obrigou a rever prioridades. Por outro lado, surgiram oportunidades que agarrou com entusiasmo. Como quadro do Ministério do Planeamento e Administração do Território, participou na criação de Gabinetes Coordenadores de Obras Municipais e Gabinetes de Apoio Técnico aos Municípios. Mudar a face do país, sedento de mudança e requalificação, foi o seu dia-a-dia entre 1975 e 1983. Neste ano, surge um convite aliciante para trabalhar em Macau. E tudo mudou outra vez.

Quando chegou a Macau, requisitado da Administração Pública portuguesa, veio para assessor do secretário-adjunto para o Ordenamento, Equipamento Físico e Infra-estruturas do Governo de Macau. Foi depois vice-presidente do Leal Senado e mais tarde assessor técnico dos Serviços de Marinha de Macau. Todas as funções estavam ligadas ao seu saber técnico, alicerçado na base da Engenharia, mas a cada novo desafio o leque de competências aumentava. Tal como o seu conhecimento de Macau, do ponto de vista urbanístico e das necessidades de infra-estruturas físicas, serviços e logística.

Em 1987, resiste a um convite para a área de Turismo, mas acaba convencido ao ser-lhe dada a coordenação de um projecto específico – o World Trade Center de Macau –, entrando como subdirector. Ambientou-se depressa, devorou informação sobre a área e deu por si a gostar de algo completamente novo. Em 1988 foi director-substituto e um ano depois era oficialmente director dos Serviços de Turismo. Só sairia por um ano, entre 1998 e 1999, quando foi nomeado coordenador do Gabinete de Coordenação da Cerimónia de Transferência. Logo depois de concluída com êxito a tarefa hercúlea, é convidado pela nova administração do território para se manter à frente do Turismo de Macau. Ficou no cargo até 2012.

 

Estrutura e lealdade

À primeira vista, ser engenheiro civil ou director de turismo são coisas muito diferentes, mas os pontos de convergência existem, só podendo ser realmente reconhecidos por quem ocupa os lugares. “O que me dá prazer é a criatividade. Criar a estrutura. O mais importante é criar coisas estruturantes. E deixar cair as zangas do amigo. Porque a gente não tem vida para isso.”

O destino empurrou-o para o Turismo, onde aplicou o rigor da Engenharia, mas também muita imaginação. Após 25 anos a impulsionar o desenvolvimento turístico de Macau, Costa Antunes trabalha agora em exclusivo como coordenador da Comissão do Grande Prémio de Macau, lugar que conhece bem, pois acumulou-o com a direcção dos Serviços de Turismo. Isto no que diz respeito à Administração Pública de Macau, pois a sua actividade é tão extensa que seria fastidioso enumerar todos os cargos. É, por exemplo, presidente da Asia Pacific Travel Association (PATA) e presidente da mesa da Assembleia Geral da Casa de Portugal em Macau.

Ao longo de muitos anos a liderar projectos, garante ter sido adepto do diálogo, mas sem ponta de conformismo. “Não sou de aceitar quando me dizem ‘é assim porque sim’.” E defende que é preciso pôr paixão no trabalho, com tudo o que isso implica. “Ou se faz ou não se faz. As pessoas pensam que sou um certo ditador, mas não. Eu delego, faço é o triple check. Por isso é que há pessoas que gostam muito de trabalhar comigo e outras nem por isso. Comigo é assim: lealdade, seriedade, verdade. Vou contigo até ao inferno. Vou-te lá buscar se for necessário. Brincadeiras de mau gosto pelo meio, tens um aviso. À segunda, cais.”

Em vésperas da 60.ª edição do Grande Prémio de Macau, Costa Antunes revela momentos marcantes da sua vida. Um perfil construído com as suas palavras.

 

Responsabilidade precoce

“Cresci em Lisboa. Desde pequenino que gostei de fazer coisas. E, por razões várias, sempre assumi uma grande responsabilidade. Fui guia dos escuteiros aos dez anos, fui chefe de turma e presidente da comissão de finalistas do Liceu Pedro Nunes, estive na direcção da Juventude Escolar Católica. Durante o curso assumi trabalho comunitário e apoiei colegas na preparação de material de estudo. Fui representante do curso, num período onde era necessário dialogar com os superiores. Tinha também uma grande consciência social, por uma questão de educação. O meu pai levava-me a visitar famílias carenciadas. Lembro-me perfeitamente que, em 1966, quando foi inaugurada a ponte sobre o Tejo, foram desalojadas barracas na Avenida de Ceuta e não quis férias porque estava empenhado no alojamento daquela gente toda. Isto forma uma pessoa.”

 

Betão nas veias

“O meu pai era engenheiro técnico de construção, tal como o meu avô e o meu bisavô. Cresci a brincar nas obras. Sou a quarta geração, dei uma grande satisfação ao meu pai quando lhe disse que queria ser engenheiro civil. Fui bom aluno, mas chumbei um ano. Estava habituado a outra forma de avaliação e chumbei a três cadeiras porque não fui ao exame. Não me sentia preparado. Vinha de um ensino liceal onde era muitíssimo acompanhado, com os melhores professores, mas onde tinha grande liberdade de interacção. O Técnico era um ensino distancial, onde praticamente ninguém tinha coragem de perguntar coisas nas aulas. Comecei a trabalhar em Engenharia Civil no 3.º ano. Tinha menos tempo para estudar, mas o que aprendia era muito mais sólido.”

 

Curso pré-revolucionário

“Devia ter-me formado em 1973, mas nesse ano a polícia política invadiu o Técnico e não há praticamente licenciaturas de 1973. Tinha tudo programado: acabar o curso e fazer um estágio de especialização na Bélgica. Para onde  fui à mesma. Conseguir um estágio remunerado em engenharia de construção era extremamente difícil, não quis perdê-lo. Depois o Técnico reabriu e voltei. Ninguém se formava em Abril, normalmente era em Julho. Eu formei-me a 20 de Abril de 1974, cinco dias antes da Revolução. Já estava empregado, num forte grupo económico, integrado em grandes projectos . A minha vida ganhou outra orientação, uma oportunidade que eu agarrei. O 25 de Abril veio repor as prioridades de Portugal. Claro que com 25 anos não tive capacidade de ver isso, mas fui empurrado (risos). Vi-me obrigado a envolver-me na estrutura sindical da empresa. Quando foi necessário organizar a comissão de trabalhadores da minha empresa, liderei e ganhei! A minha comissão não era comunista, coisa rara na altura. Se tive problemas? Claro que sim! Mas eu já tinha alguma experiência, ganha nas reuniões na universidade. Não estava ali para brincar às eleições, com gritos, braços no ar. E não houve saneamentos.”

 

Nova perspectiva

“O 4.º Governo provisório, pouco tempo depois do 25 de Abril, chamou empresas como aquela onde eu estava, que, por causa da nacionalização da banca, tinham ficado sem possibilidade de desenvolver grandes projectos. Participei em algumas dessas reuniões, ficando a saber que o Governo tinha criado os Gabinetes de Apoio Técnico às autarquias, os GAT. Iam servir para coordenar o desenvolvimento do país, que tinha grande falta de infra-estruturas. Abriu-se uma nova perspectiva profissional e fui como director do GAT para as Caldas da Rainha. Entre 1976 e 1983 trabalhei no desenvolvimento regional concreto: estradas, abastecimento de água, esgotos, parte eléctrica, mas também jardins de infância, lares de idosos e mercados. E tinha oportunidade de interacção com as pessoas, a implementação do plano era sempre discutida com moradores. Foi o meu primeiro desvio, da Engenharia de Estruturas para o planeamento regional e desenvolvimento urbano.”

 

Mestre de obras

“Tenho um enorme prazer pela obra, mas para estar correcta exige um grande esforço de planeamento. Prefiro perder dois meses do tempo de projecto a estudá-lo melhor do que perder seis meses em obra. O atraso em projecto é mais reduzido e custa menos dinheiro. Mas a obra é uma coisa especial. Quando vou, por exemplo, a uma grande betonagem, o cheiro do betão… não digo que é afrodisíaco, mas tem de facto outra dimensão. Porque a partir daquele momento não há outra oportunidade para recalcular. Nasceu!”

 

Apelo de Macau

“O trabalho que desenvolvi em Portugal foi aparentemente positivo. Graças a isso recebo em Dezembro de 1982 um telefonema do secretário-adjunto para o Ordenamento, Equipamento Físico e Infra-estruturas do Governo de Macau. Nem sabia que tinha secretários-adjuntos, achava que era um secretário de um adjunto (risos). Convidou-me para trabalhar em Macau. Eu tinha só 32 anos, fui para assessor no gabinete dele. O convite aliciou-me porque, depois de me informar, percebi que Macau vivia um grande desenvolvimento de infra-estruturas e era preciso fazer muita coisa. Ainda hesitei (também tinha boas perspectivas em Portugal), mas decidi vir por dois anos. Estou cá há 30.”

 

Disfunção pública

“Estive nove meses como assessor, o que me possibilitou aprender como era o desenvolvimento urbanístico de Macau, porque todos os projectos passavam pelo gabinete das obras públicas. Como eu vinha da privada, era pragmático. Havia processos a arrastarem-se há cinco anos que se resolveram com meia dúzia de penadas, a contento de todos e aumentando a eficiência. Estou há 35 anos na função pública, mas ainda não me adaptei, não sei trabalhar à função pública, desculpem lá (risos). E o pessoal que trabalha nesse estilo comigo geralmente pede para ir embora.”

 

No coração da cidade

“Vou dar um exemplo de um projecto que acompanhei pouco tempo depois de chegar a Macau. A Companhia das Águas, em 1983, apresentava perdas de 40 por cento porque os canos estavam rotos. Isto dá uma ideia da necessidade de desenvolvimento infra-estrutural. Nove meses depois de eu ter chegado, o Governador Almeida e Costa decide modernizar a estrutura da Câmara Municipal – o Leal Senado – e convida-me para vice-presidente, com os Pelouros Técnicos. Para presidente, escolheu o ex-comandante da polícia, que esteve cinco anos nessa função, portanto com um conhecimento real da cidade (risos). Uma pessoa íntegra, entendemo-nos perfeitamente. Trabalhávamos de manhã, à tarde e à noite, fizemos coisas muito giras. Lançámos o sistema de recolha do lixo, por exemplo, que não existia. Em 1985! Aí é o meu começar a gostar da cidade, a conhecê-la a fundo. Quando arrancou a recolha, ia muitas vezes com um colega à noite fazer circuitos atrás dos carros do lixo. Depois, no outro dia, havia relatório. Outro exemplo, eleições. Em 1983, votavam para a Assembleia cerca de 5000 pessoas. Enquanto membro do Leal Senado, fui nº 2 na Comissão Eleitoral, portanto sei montar umas eleições (risos). Desde desenhar as urnas até ao plano de transportes para deficientes, tudo isso foi feito por mim. Depois disso, nas eleições de 1985, passámos para um universo eleitoral superior a 50 mil pessoas.”

 

Contra os canhões, navegar

“Em 1986, o Governador foi-se embora. Veio uma nova equipa. Fui demitido, pum (risos)! Não vou entrar em pormenores. Fui convidado para ir embora para Portugal, mas quis ficar. Tinha miúdos na escola, a família instalada. Fui depois chamado por uma pessoa bastante competente – ficámos amigos – o António Vitorino. Disse-lhe que não ia embora. ‘Ou vocês me arranjam um lugar onde me sinta minimamente bem ou salto para a privada, porque sou engenheiro e faço obras e projectos. Não tenho medo de pôr a mão na prancheta outra vez. Nessa mesma noite arranjaram-me lugar. Assessor técnico dos Serviços de Marinha. E eu que nunca fiz tropa…”

 

Rumo ao turismo

“Na Marinha, em 1986, não havia computador. O comandante aceitou logo a minha sugestão e comprou um – fizemos a organização da base de dados de todas as pontes (os terminais) de Macau. Outra proposta que me deu imenso prazer foi a criação do Museu Marítimo. Ao fim de um ano, porém, achei que não tinha tanta graça, já havia pouca coisa para fazer. Fui de férias, aconselhei-me, pensei em ir para Portugal. Entretanto o Governador Pinto Machado tinha saído e viera o engenheiro Melancia, com nova equipa. Convidaram-me para director do Turismo, mas recusei porque nunca tinha trabalhado nessa área. Uma semana depois, ofereceram-me a coordenação de um grande projecto: o World Trade Center em Macau. Para tal, fiquei com o cargo de subdirector do Turismo. Isto foi em Novembro de 1987. Para director veio Nunes da Ponte, mas saiu em Abril do ano seguinte, por razões pessoais. Eu nessa altura já percebia o que estavam a fazer, comecei a viver os conteúdos, a entender o Turismo. Para não haver outra nomeação ao fim de tão pouco tempo, pediram-me para substituir o director até Dezembro. Sob essa condição, disse para contarem comigo. O bichinho nasce quando começo a interagir com a comunidade do Turismo. As iniciativas internacionais, a PATA, os eventos: Corridas dos Barcos-dragão, Miss Macau, Festival Internacional de Música, Grande Prémio. Tudo correu bem. Chegámos a Dezembro e o chefe diz ‘ó pá, ainda quer que eu vá buscar um director?’. Aí eu já tinha confiança e quis continuar. Passei oficialmente a director do Turismo. Também já me tinha apercebido do potencial turístico de Macau, sobretudo na área do Património Histórico. Conduzi então uma reestruturação profunda, trazendo uma nova dinâmica e libertando, mais tarde, alguns eventos para organização autónoma, como o Grande Prémio.”

 

A transição

“Na véspera do Grande Prémio de 1998, o Governador perguntou-me se me sentia preparado para ser o coordenador da Cerimónia de Transferência de Macau. Achei uma proposta interessante e comecei a trabalhar em Dezembro, logo a seguir ao GP. A cerimónia era dali a um ano. Hong Kong preparou a sua com três anos de antecedência. Começámos do zero, com dez pessoas, e terminamos com 11 mil, todas escrutinadas pela Interpol sem excepção. Apesar de ser um desafio extremamente estimulante e um momento histórico, quase atingi o meu limite. Não havia uma sala em Macau que comportasse 1500 pessoas, quanto mais as 2500 que estariam na cerimónia. Tivemos que idealizar o programa e depois construir as infra-estruras, incluindo três espaços com capacidade para 2500 pessoas. Além disso, tinha cinco chefes para respeitar e pôr de acordo uns com os outros: o presidente da República de Portugal, o Governador de Macau, o enviado de Pequim, o elemento permanente de Pequim em Macau e o representante da nova Administração de Macau. Nunca achei que as coisas fossem falhar, tive foi que pôr muitos gajos na rua (risos).”

 

A transição II

“Como consegui continuar em funções na Administração Chinesa? Muito simples: forçado. Não tencionava fazê-lo, mas ao ser convidado para coordenar a Cerimónia de Transferência tudo mudou. Só podia aceitar tal função se ficasse. ‘Não posso ir embora no avião com o Governador, ninguém vai confiar em mim. Porque se correr mal, o gajo foi-se embora… Se quero fazer este projecto, tenho de ter a confiança de todos os grupos.’ O meu raciocínio foi só esse. Depois tentei saber se era aceite eu cá ficar. Só quando tive essa confirmação é que disse sim.”

 

Ao volante do GP

“Tive a grande sorte de chegar em 1983 a Macau, ano em que arranca pela primeira vez a Fórmula 3 e o Ayrton Senna ganha. Todo o ambiente me galvanizou e tornei-me espectador assíduo. Quando passei para o Turismo, tive que aprender e ir buscar pessoas que percebessem aquilo que eu desconhecia. Para pôr a estrutura a funcionar. O meu primeiro GP foi em 1988. Correu tudo muito mal. Nunca me vi tão atrapalhado como na quinta-feira antes do GP, que é quando tudo começa. Quando chego a um sítio, a primeira coisa que faço é ver se as pessoas em funções são fiáveis. Disseram-me que sim, ‘há uma equipa do GP, não tem de se preocupar’. Não era assim e, ainda por cima, havia uma grande dependência de Hong Kong, da liderança aos RP, dos stewards aos técnicos. E chegavam cá que nem uns senhores, abriam a boca e era só ‘onde é que está isto, onde é que está aquilo?’. A única coisa que eu dizia era ‘garanto-vos que para o ano não vai ser assim!’. E não foi. Nos anos que se seguiram, construímos infra-estruturas, acabámos com a dependência de Hong Kong, formámos pessoas, desenvolvemos a comunicação e o prestígio internacional da prova.”

 

Humildade e afirmação

“A nossa postura tem de ser alicerçada por valores muito acima do dinheiro, do poder ou do faz-de-conta. Isso é tudo passageiro. As pessoas mais interessantes que conheci são as mais inteligentes e as mais simples. Sempre que um superior me dava os parabéns por um projecto bem sucedido, eu só dizia ‘tive a sorte de me darem a possibilidade de fazer isto’. Sou humilde no sentido em que oiço os outros, mas também sou afirmativo. Porque a humildade às vezes é um valor mal entendido na nossa sociedade, sobretudo em pessoas que, por terem dinheiro ou determinadas carreiras, salta-lhes a tampa. Aí, a humildade não dá, temos que ser firmes. Tenho uma grande dificuldade em aceitar o evangelho naquela parte de dar a outra face. Quando um gajo nos dá uma chapada, aí é muito complicado.”

 

A família

“Quando vim para cá em 1983, já vinha casado e com dois filhos pequenos. Ambos ficaram em Macau. A minha filha é advogada e o meu filho é chefia operacional no aeroporto. Casei-me pela segunda vez, a minha mulher é chinesa e temos um filho ainda pequenino. Além disso, tenho também dois netos. Devido à minha vida profissional, reconheço que fui estando pouco com os amigos e mesmo para a família houve períodos de pouca disponibilidade. Mas a grande vantagem de Macau, sobretudo quando se tem miúdos pequenos, é que o tempo gasto com transportes é quase inexistente. Isso permite, por exemplo, almoçar em casa. Vivo no centro da cidade há 30 anos, na mesma casa, a cinco minutos de qualquer lado. Dentro de dois anos e meio devo reformar-me da função pública. Não significa que ficarei um casa. Logo vejo o que farei. Muita pessoas vêm a Macau e dizem ‘há tanta coisa por fazer aqui’. Pois há. É preciso é fazer!”