China bate UE na tabela de exportações do Brasil

As exportações do agronegócio do Brasil atingiram um recorde de 99,97 mil milhões de dólares norte-americanos e podem subir ainda mais em 2014. A China contribuiu com quase 23 por cento, tirando o lugar à União Europeia como maior importador de produtos agropecuários do Brasil. É a primeira vez que tal acontece

 

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A produção brasileira está em escalada e as expectativas para 2014 são altas, já que existem grandes probabilidades dos grãos repetirem nova proeza produtiva, alcançando 196 milhões de toneladas. A acontecer, o aumento será de 5,2 por cento. Estas são previsões da Companhia Nacional de Abastecimento, um órgão ligado ao Ministério da Agricultura do Brasil.

As exportações do agronegócio do Brasil renderam 99,97 mil milhões de dólares norte-americanos no ano passado. Tal representa uma subida de 4,3 por cento relativamente a 2012. Os números são de Janeiro do Ministério da Agricultura do Brasil. A China adquiriu assim produtos no valor de 22,88 mil milhões de dólares, mais 4,91 mil milhões do que em 2012. Já a participação da União Europeia registou uma baixa de 23,6 por cento, em 2012, para 22,1 por cento, no ano seguinte.

Na base do aumento das exportações está a cada vez maior procura de grãos e oleaginosas, sobretudo milho e soja, por parte da China, que mantém o objectivo de produzir internamente pelo menos 90 por cento dos grãos que consome. As vendas externas de soja brasileira lideram mesmo o sector com 31 por cento das exportações. Outro recorde histórico foi obtido nas vendas ao estrangeiro de milho, que somaram 6,25 mil milhões de dólares, o que equivale a um crescimento de 18,2 por cento comparativamente ao ano transacto. Estes valores fizeram aumentar as exportações totais do Brasil para a China em 11,6 por cento.

Segundo analistas, as reformas que estão a ocorrer na China ao nível das infraestruturas têm feito aumentar o consumo de grãos. O gigante asiático, o maior importador global de soja, prefere comprar a oleaginosa em grãos, mas se a exportação fosse farelo e óleo os agricultores brasileiros lucravam mais. A China reduziu em 45 por cento as compras de óleo de soja, um produto que está entre os dez mais importados do Brasil pelos asiáticos.

No ano passado, a China comprou mais de 90 milhões de toneladas grãos e oleaginosas brasileiras. Este ano, prevê-se a venda de mais de 222 milhões de toneladas, com possibilidade de chegar a 274,8 milhões, para os próximos dez anos. A previsão para a safra de 2014 pode inclusivamente ser superada, porque a área plantada de soja aumentou 6,6 por cento em 2013, passando a ser 29,6 milhões de hectares. «Esperamos chegar a 95 milhões de toneladas, colando o Brasil como o maior produtor e exportador do mundo», refere o ministro da Agricultura, António Andrade.

Uma das regiões brasileiras que mais vai contribuir para o aumento da safra deste ano é Sorocaba, no interior do Estado de São Paulo. Os Estados brasileiros líderes na produção de soja são Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso do Sul.

 

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‘Agroespinhos’

De notar que nos três primeiros trimestres de 2013, a agricultura foi responsável por 23 por cento da riqueza gerada no país. Este aumento de produção deve-se a razões naturais que se prendem com o clima favorável que se tem feito sentir nas regiões do país onde são cultivados os grãos. Também a adesão a melhores tecnologias agrícolas tem contribuído para o sucesso das colheitas, porque se nota a utilização de fertilizantes e agro-químicos de qualidade e ainda a renovação da frota agrícola.

Mas neste mar de rosas brasileiro existem alguns espinhos: é bem provável que o preço dos produtos no mercado internacional não aumente tanto como era desejável. E pode ser a soja a sentir mais esse efeito. O motivo deve-se ao facto de países como os Estados Unidos terem já ultrapassado a escassez de estoque, derivada do mau ano de 2012. Apesar do preço poder vir a cair, existem garantias de que a soja continuará a ser um produto proveitoso para os agricultores. Isto por causa das compras da China que não param de aumentar.

Há ainda mais problemas a afectar o sector, como a má qualidade das vias de transporte e a carência de investimentos, que provocam a escalada dos custos de produção. Prova disso são os gastos produtivos da safra de 2014 já estarem acima do recorde de 2008. Com os preços internacionais a estagnarem e os custos de produção a manterem-se em patamares muito elevados, 2015 pode significar um ciclo de menor rentabilidade. Outra contrariedade é a burocracia, que tanto tem feito abrandar a iniciativa chinesa no Brasil. Ali encontram muitas dificuldades para instalarem as suas máquinas de produção e para obterem de licenças das entidades competentes.

 

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Carne para a China

Apesar do sucesso da soja, o ministro da Agricultura do Brasil garante que a prioridade do país é a carne. E quer aumentar “significativamente” a exportação destes produtos, que já em 2013 escalou sobremaneira na tabela de vendas. Por isso, se estima que a produção deste ano aumente 35 por cento. A carne bovina foi a que registou a maior subida: quase 16 por cento, alcançando valores de 6,6 mil milhões de dólares em 2013, segundo o mesmo ministério. Um dos principais mercados é Hong Kong, por onde passa grande parte dos produtos antes de entrar na China.

Esta prioridade do Governo brasileiro faz sentido se pensarmos na abertura do mercado dos Estados Unidos à carne bovina. A restrição com cerca de 15 anos, motivada por um surto de febre aftosa, está prestes a terminar com a implementação de uma nova medida técnica. De notar que estes vizinhos do norte são os maiores consumidores de carne bovina do mundo. São abastecidos anualmente com 11,6 milhões de toneladas e importam mais de um milhão de tonelada por ano.

Para além dessa promessa, os brasileiros comemoram os bons resultados das negociações “intensas” com a China, que visam acabar com o embargo que dura desde 2012, impedindo todas as unidades de produção de exportar para este país. Segundo o Ministério da Agricultura do Brasil, o país espera ainda a abertura do grande mercado da Coreia do Sul para a carne suína de Santa Catarina.