Tradições | Festa da Lua

O Festival do Meio do Outono Chong Chao Chit (中秋節, 中秋节) um dos festivais que celebram a vida, como tantas outras festas e festividades chinesas, remete as suas origens para uma cultura tradicionalmente agrária, regida pelos ciclos da natureza, pelas faces e posições lunares, pelas estações do ano, marcando ciclos comunitários, num calendário de afazeres de sobrevivência e de subsistência, de esperanças, alegrias, tristezas, sofrimentos e agradecimentos à natureza, e às forças que a regem

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Fernando Sales Lopes

Historiador, Mestre em Relações Inter-culturais

 

 

O Chong Chao, Festa da Lua ou do Bolo Lunar, que se comemora no 15.º dia da 8.ª Lua (calhando, neste ano de 2014, no dia 27 de Setembro do calendário gregoriano)[i], assinala nas suas origens o Equinócio do Outono, quando as colheitas terminavam e a longa noite do Inverno trazia o descanso aos corpos, para lá, das preocupações dos espíritos.

Pode afirmar-se que esta é a segunda maior festividade chinesa a seguir ao Ano Novo Lunar. As famílias reúnem-se nesta data, tal como o fazem naquela, é o regresso à terra mãe, à casa-mãe, um ímpeto ying, maternal, feminino, como a Lua que nesta data é maior e mais brilhante do que nunca, e que, por isso, também nesta data tem a sua festa.

Todas as características que enformam a festividade levam, também, a designações diversas com diversos objectos principais. Para além das já referidas, destaque-se a Festa do Bolo Lunar – ou do Bate-Pau[ii] – bolo que ganhou relevo na revolta contra os mongóis; da Reunião Familiar, talvez a mais importante da quadra (refira-se que em tempos idos a mulher era autorizada a visitar os seus pais antes de festejar com o marido e família); das Lanternas, o que leva a confundi-la com ao verdadeiro festival das lanternas que tem lugar no 15.º dia da primeira Lua, e das Crianças pela proliferação de animais e vegetais transpostos para as formas das lanternas que fazem as suas delícias, a que se acrescentam os modernos heróis da banda desenhada, de fabrico industrial, onde, o papel ou a seda dão lugar a materiais plásticos e as pilhas substituem as velas de cera que as iluminavam na noite.

 

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Os festivais da vida

Na cultura chinesa são três os festivais que celebram a vida: o da Primavera (Ano Novo Lunar), o Barco-Dragão, e o do Meio de Outono. Todos eles assinalam tempos marcantes para uma cultura onde ainda permanecem traços profundos das fortes raízes agrárias em que se gerou e se desenvolveu. Plasmando-se sobre primordiais mitos e lendas, as comemorações acumulam com elas por vezes outros sentidos. Senão vejamos o que assinala cada uma destas datas:

– O Ano Novo Lunar marca o início da Primavera chinesa, por isso se chama também de Festival da Primavera: Tempo do desabrochar da semente lançada à terra, tempo de multiplicação dos frutos da terra e dos animais.

– O Barco-Dragão anuncia a chegada do Verão, época dos grandes calores, e das chuvas. Um tempo que merece da parte dos homens redobrados cuidados com a sua saúde, mas também com o controle das águas nos campos, estando de alerta de modo a evitar cheias e inundações devastadoras.

– A Festa da Lua[iii], a meio do Outono lunar, e bem próximo do início do solar, festeja as colheitas, que se querem boas, sendo tempo de guardar provisões para o Inverno que se aproxima, reservas alimentares e sementes.

Contudo todas estas datas que desde tempos imemoráveis eram comemoradas festejando ciclos da natureza, ou ritos de passagem, acabam por assinalar também, (por anexação posterior) feitos, mais ou menos patrióticos. É o caso da Festa da Lua quando celebrada como a data da libertação da China do jugo Mongol.

 

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A lenda da libertação para lá da Festa da Lua

A Cultura chinesa está repleta de celebrações em honra de factos e feitos heróicos individuais ou colectivos, na construção de uma História, onde se destacam actos de bravura no combate pela libertação de governantes déspotas, ou invasores, às forças malignas, à defesa e luta pela justiça, e outros sentimentos como os da fidelidade e do amor ao povo. Acontece que as comemorações destes actos heróicos se celebram em datas já anteriormente festejadas. Fazendo uma comparação com o que acontece no cristianismo, onde as festas pagãs foram substituídas pelas religiosas sobrepondo-se às datas daquelas, mas mantendo réstias de paganismo em folguedos populares, também na cultura tradicional chinesa a ligação patriótica se sobrepõe em data à festividade tradicional ligada à ruralidade, sem que a sua expressão lúdica seja absorvida pelo novo elemento.

Quando os revolucionários pretendem utilizar o Bolo Lunar como veículo de mensagem para a acção contra os Mongóis[iv], tal significa que estávamos no Festival do Meio do Outono, na festa que se celebrava, a da Lua, com o tradicional Bolo Lunar, sendo que este, pelo papel que terá representado no acto heróico, se autonomiza ganhando um outro relevo. Não se eliminam as festas mas dá-se um significado patriótico à lenda, mito, ou acontecimento levando a que no futuro ao celebrar a festa ela passe a conter a mensagem que interessa preservar para as gerações futuras.

 

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A Feminina Lua e o Culto da Fertilidade

Se a mulher é a outra metade do céu, é porque a Lua, por ser yin também o é, partilhando esse infinito com o yang Sol. É feminina a Lua em quase todas as culturas, talvez não só por dar brilho à noite, sendo companheira de poetas e amantes, mas porque nela se regulam os ciclos da fecundidade e da vida. O culto à Lua é muito antigo como um culto reservado à mulher. Só um homem podia sacrificar à Lua, e esse era o Imperador, pois sendo ele filho do Céu tinha com ela uma relação fraternal.

Na China o rejuvenescimento está estreitamente ligado à Lua e à água. Um e outro elementos encontram-se na mulher fértil, que mensalmente o revela através da “água mensal” ou “água da Lua”. Por tal razão o culto da Lua, praticado pelas mulheres, engloba sempre a concepção, a maternidade e a protecção filial.

Tida por casamenteira (e não o será?), as famílias cujos filhos ainda não tinham parceiros, queimavam incenso à Lua e a ela pediam que o amor nascesse, tais práticas ainda subsistem em zonas rurais. Também se aconselha a que se uma mulher quiser engravidar deve banhar-se silenciosamente à luz da lua na noite da Festa da Lua. Às mulheres há muito casadas mas inférteis, a crença diz que devem sair de suas casas e banharem-se com a luz da lua, pedindo para gerarem crianças bonitas e saudáveis.

Em algumas partes do Interior do País, a Lua e o Sol são tidos como um casal, cujos filhos são as estrelas. Filhos que mensalmente a Lua dá à luz. Gravidez que se observa olhando para as suas faces – quando está cheia, bem redonda, está grávida, começando a crescer depois do nascimento de mais uma estrela. Sol e Lua simbolizam a família.

 

A Lua Imperial

O culto “oficial” à Lua parece remontar à dinastia Shang () (1600 – 1046 a. C.) altura em que os imperadores a ela oficiavam no Outono pedindo por boas colheitas, contudo referências ao festival do Meio de Outono surgem já nos célebres Ritos de Zhou (周禮,周礼) (Dinastia Zhou do Oeste) altura em que entre a nobreza e os ricos vingou o hábito de sacrificarem à Lua no 15.º dia da 8.ª Lua. Tornar-se-ia uma festa popular já na Dinastia Tang (唐朝)(618 – 907) com referências variadas nos versos dos grandes clássicos chineses [ver caixas com poemas].Contudo é na dinastia seguinte, a Song (), que a tradição se enraíza permanecendo até aos nossos dias.

Mas há sempre uma lenda para dar uma outra cor à realidade levando a explicação das coisas para o mundo do maravilhoso, e a Festa da Lua, não poderia ficar de fora. Embora a lenda não negue a introdução do culto imperial à Lua na Dinastia Tang, precede tal prática de um acontecimento transcendente que terá sido uma visita do Imperador ao Palácio da Lua. O Imperador que terá introduzido o culto é Li Longji (李隆基) ou Xuanzong) que terá feito essa visita pela mão do mestre Taoista Lo Gong Yuan, que o conduziu através de uma ponte que unia a terra à lua através dos céus. Uma outra versão descreve esta viagem como feita através do sonho mas que, para o efeito tanto faz, já que a validade é a mesma se sancionada pela crença.

 

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Seong Ngó, a Deusa da Lua

A história de Seong Ngó está intimamente ligada à mitologia chinesa da criação[v], são muitas contudo as versões da lenda. Das muitas que tenho ouvido resumo aqui uma das que parecem não se distanciar muito do mito do archeiro que derrubando os nove sóis salvou a humanidade da destruição e da fome, assim como de Seong Ngó cuja curiosidade sobre o elixir da longevidade provocou o desenrolar da história. “Song Ngó voa até à Lua”, assim se denomina esta lenda: Depois deter destruído os nove sóis Hau Gnai conhece Song Ngó grande admiradora sua, apaixonam-se e casam-se. O archeiro continua a ensinar a sua arte aos mais necessitados dos seus seguidores para que estes pudessem com a caça sobreviver e para se defenderem. Um dos seus discípulos começou a convencer Hau Gnai de que pelo seu acto heróico merecia ser recompensado, nomeadamente com a construção de um templo a ele dedicado. Song Ngó fica triste com esta ideia e pede ao marido para continuar a ser modesto. Hau Ngai vai aconselhar-se com a imperatriz que lhe oferece o elixir da imortalidade. O archeiro regressa para casa para o poder tomar com a esposa. O discípulo descobre o que se passa e ao tentar roubar o elixir a Hau Gnai acaba por o matar. Triste, Seong Ngó não querendo dividir o elixir com o assassino do marido toma-o e voa até à Lua. O discípulo esconde-se para não ser apanhado pelos habitantes da aldeia, mas estes perante a escuridão decidem ir biscar lanternas para o encontrarem mais facilmente. A nossa contadora de histórias concluía, então, que esta é a explicação para o aparecimento das lanternas na Festa do Bolo Lunar, e que a lua se encontra mais cheia e brilhante pois o coelhinho, o cortador de árvores e as fadas fazem, nessa noite, a limpeza da Lua. Esta é uma das muitas versões da lenda, contada por uma jovem adulta de Macau.

São diversas as versões da lenda envolvendo o archeiro (Hau Gnai, ou Houyi (后羿), o imperador, o traidor, e a deusa da Lua (Seong Ngó,ou Chang`e (嫦娥). Tantas as versões que por vezes se contradizem. Chang´e, por exemplo, nalgumas dessas versões surge como uma beldade da corte do Imperador de Jade, aia de sua esposa a Rainha-mãe do Oeste e Hau Gnai como um imortal Noutra, Hau Gnai chega a ser um governante déspota e cruel e Seong Ngó, rouba-lhe a pilula da imortalidade (ver caixa) para que acabe a tirania e crueldade de Hau Gnai…Também o coelho tem diversas versões, ou é ajudante de Seong Ngó no fabrico da pilulas da imortalidade, ou uma transformação da própria deusa da Lua, assim como a rã de três patas…Também Hau Gnai tem um fim diferente conforme a lenda, numa delas estará a viver no Sol, aproveitando a lua cheia em cada mês para fazer uma visita à Lua tentando encontrar a sua amada.

 

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Macau e a Festa da Lua

Macau fica engalanada para a festa com lanternas multicoloridas, de todos os tamanhos e feitios, espalhadas pelas ruas da cidade e Ilhas, nos jardins, divisórias de estradas e rotundas. Multiplicam-se as tendinhas de venda de artefactos próprios da época onde os maiores “clientes” são as crianças atraídas pelas lanternas que passeiam pelas ruas ainda dias antes da festa da noite da Lua. Cestos de frutas, caixas de bolos lunares, e outros doces acepipes, “correm” pela cidade numa azáfama que lembra o Ano Novo Lunar, congratulando aqueles que se quere distinguir, familiares, amigos ou colegas de profissão. O movimento constante de turistas e residentes em Macau aumenta nesses dias com o vaivém nos postos fronteiriços, pois a reunião familiar é um dos principais traços da festa. Em Macau onde as iluminações nocturnas eclipsam com brilho e cor o próprio firmamento, à falta de largos campos onde apenas a luz das estrelas e o brilho da lua se possam impor, a população procura as zonas ribeirinhas para observar a festejar a lua, quer na cidade de Macau quer nas ilhas, com a praia de Hac-Sá a ser, ainda, um dos locais preferidos.

Esta Lua, cheia que se quer ver brilhante na noite deste dia, encerra mistérios, lendas que se recordam, práticas que se repetem, com multiformes e multicoloridas lanternas e petiscos onde não pode faltar o Bolo Lunar, também ele com formatos característicos, sabores para vários gostos, e lendas que lhe afirmam o estatuto e importância.

 

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Os Bolos Lunares de Macau

Têm fama os bolos lunares do Guangdong, considerados dos melhores de toda a China. E os de Macau em particular. As pastelarias mais tradicionais, e características, encontram-se na Rua dos Mercadores e vizinhanças.

Do bolo caseiro preparado por mãos entendidas, ao da pastelaria, mais ou menos industrializado, mas ainda clássico, aos novos tempos da profusão do bolo lunar para todos os gostos, de todas as cores e sabores, deixando apenas como símbolo da tradição – nem todos – para lá do formato redondo ou quadrado, as inscrições-mensagem na cobertura, e a gema de ovo no seu interior, fica a recordação da escondida mensagem revolucionária, e da Lua no ovo simbolizada.

Mas há a nova geração de bolos lunares acompanhando novos gostos, texturas e temperaturas, gelado e com novos recheios como café, chocolate, frutos secos, nozes, líchias… bolos da lua fat-free de iogurte, gelatina, ninhos de andorinha, de baixo teor de açúcar, etc… Diz-se que a moda surgiu por “uma maior consciência pela saúde”, pois reduzem açúcares e gorduras. Diz-se que são melhor recebidos por todos, diz-se muitas coisas, e as grandes marcas transnacionais agradecem…

O que marca a diferença em Macau é a qualidade da confecção do clássico Bolo Lunar. Aqui se encontram padarias e boleiras com quase um século de existência que conservam a qualidade e são conhecidas pelo mundo que nos rodeia, e mais além, como referem os fabricantes que nos dão conta da quantidade de clientes que pela época procuram o produto de excelência, vindos do Interior da China, de Hong Kong, de Taiwan. Mas também do muito destes especiais Bolos Lunares que exportam para vários países acolhedores a diáspora chinesa, nomeadamente Malásia, Singapura, Estados Unidos da América ou Austrália.

Característica, também, deste Festival em Macau é como já anteriormente desenvolvemos a permanência – e o esforço para a sua continuidade – das tradicionais lanternas manufacturadas por artesãos sábios com motivos lendários “esculpidos” a seda ou papel.

 

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Coelhinho representa Macau na Expo 2010

O pavilhão que representou Macau na Expo 2010 de Xangai foi um gigantesco coelho-lanterna da autoria do arquitecto macaense Carlos Marreiros, conhecido como “Lanterna Imperial Coelho de Jade”. Conjunto arquitectónico carregado de significado permitia, através dos seus elementos enviar várias mensagens: O coelho, em lanterna tradicional, mostrava a preservação da tradição em Macau, ao mesmo tempo que lhe transmitia as suas características (velocidade e fertilidade), terra em constante e rápido crescimento e desenvolvimento.

Embora em Macau ainda se encontrem alguns (poucos) artesãos de lanternas clássicas, a recuperação e o desenvolvimento das antigas técnicas de construção de lanternas alusivas ao Chong Chao, muito devem à ideia – concretizada – do Arquitecto Carlos Marreiros no seu projecto para o pavilhão de Macau na Expo 2010 de Xangai. Não só porque o pavilhão se impôs, como a própria associação cultural a que preside (Albergue SCM) passou a ser mais um local de celebração da festividade em Macau exibindo lanternas clássicas, e outras que sendo de técnica clássica já apresentam motivos diferentes e arrojados. Tal se deve ao funcionamento com continuidade de diversas oficinas de aprendizagem que tem tido lugar no Albergue SCM desde aquela data dirigidas por mestres artesãos clássicos que tem transmitido os seus conhecimentos aqueles que assim poderão preservar a herança cultural, contribuindo para a imagem própria de Macau.

 

 

Pílula da Imortalidade

A procura da pílula da imortalidade, a par da transmutação dos metais, são dois dos grandes princípios da Alquimia Taoista (Dragão Verde e Tigre Branco). É da união destes dois seres que representam o feminino e o masculino, o Yin e o Yang que se produz a energia criadora para a “fornalha” alquímica em que as transformações se produzem. O coelho, que na quase totalidade das versões das lendas é o manufactor daquela pílula, transporta com ele a força reprodutora por excelência, aliás característica que lhe dá o atributo de símbolo da fertilidade, da renovação, em muitas e diferentes culturas.

 

 

O Bolo Lunar

A origem do Bolo Lunar, normalmente atribuída ao episódio da revolta contra os Mongóis (ou até à lenda de Seng O) parece esfumar-se no tempo com variadas versões. Numa delas se conta que um rico Uyghur terá oferecido ao imperador Taizong (reinou de 626 a 649) na sequência da sua vitória sobre os Mongóis no 15.º dia da 8.ª Lua uns bolos redondos. O imperador ao pegar nos bolos e apontou para a lua, e exclamou: Convido-os a provarem estes bolos. Taizong terá distribuído os bolos pelos ministros. Assim que tal constou, a prática ter-se-á espalhado pela China de então, começando o costume de se oferecerem os bolos lunares. Na lenda sobre a ida de Li Longji – que reinou entre 712 e 756 – ao Palácio da Lua, onde se conta que o imperador foi recebido com – entre outras delícias – bolos da lua.

A revolta contra os mongóis decorreu durante a dinastia Yuan (元朝1280-1368).Por ironia do destino parece ter sido durante esta dinastia que o hábito de degustar, e partilhar, o Bolo da Lua se terá popularizado

 

 

Do Crisântemo ao Osmantos

O chá de crisântemo é a bebida tradicional para acompanhar o Bolo da Lua. Para além do significado da própria flor (saúde, prosperidade, felicidade e longevidade) com cujas pétalas se faz a infusão, este chá tem efeitos medicinais evitando constipações e curando a tosse quando o tempo muda. Ora estamos em tempo da transição do Verão para o Outono, com a chegada de tempo mais frio, pelo que será, também, aquele o efeito pretendido.

Beber vinho aromatizado com osmanthus é um hábito chinês com mais de dois milhares de anos. É bebida típica da Festa da Lua, pois é nesta época que as flores daquele arbusto estão no seu máximo esplendor.

 

 

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[i] Tão importante é o Bolo Lunar que também por ele se designa a festividade, e porque a festa é à noite, e se pode estender pela madrugada, o feriado oficial em Macau é gozado no dia a seguir à data. Poderá parecer estranho para quem não conheça os costumes, e aqui chegando se depare com um feriado que se designa como o do Dia seguinte ao Chong Chao, ou o Dia seguinte ao Bolo Lunar, o dia do descanso da festa.

 

[ii]Bate-pau, assim se denomina entre a comunidade macaense esta festividade, por ser barulhenta a confecção do Bolo Lunar, já que os formatos e motivos que os caracterizam se devem a uma forma de madeira que os tem em negativo baixo-relevo, onde são moldados ainda em massa, por mão forte de pasteleiro, obrigando para o desenforme a pancada forte e seca sobre a rija mesa, num bate-pau, repetidamente ritmado por dias e noites que antecedem as comemorações.

 

[iii] A Festa da Lua ocorre entre a segunda semana de Setembro e a segunda semana de Outubro. Consultando o antigo Calendário Solar chinês, que divide o ano em 24 termos lunares, verifica-se que a data ocorre entre o 15º termo (Bailu, 白露) 7-8 de Setembro, e o 17º termo (Hanlu, 寒露) 8-9 de Outubro.

 

[iv] Conta-se que o Bolo Lunar terá sido o veículo utilizado pelos revoltosos conta a dinastia Mongol, para transportar no seu interior a mensagem que deu a senha para o levantamento popular.

 

[v] Em edições posteriores da RM desenvolveremos o tema dos mitos clássicos chineses.