Calçada portuguesa | Negócio da pedra

Apaixonado por Portugal desde 1989, Kou Wai viu na pedra portuguesa um potencial de negócio. Quase 20 anos depois de se ter tornado o único importador de calcário e basalto em Macau, o empresário diz que chegou a hora de levar o património da calçada portuguesa a outras paragens. Xangai é o próximo destino

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Texto Vanessa Amaro | F Gonçalo Lobo Pinheiro

 

Quando as primeiras grandes obras de calçada portuguesa ficaram concluídas no início dos anos 1990, Kou Wai não hesitou em fazer da pedra o seu negócio. Em parceria com um amigo português abriu, em 1995, a Simex Exportação e Importação e desde então passou a ser o único fornecedor de calcário e basalto português em Macau.

Pelas suas mãos passaram 80 por cento de toda a pedra que hoje forra o chão da região e apesar de haver material de qualidade similar e preço bastante inferior no Interior da China, Kou Wai não desiste da importação: “Se a calçada é portuguesa não faz sentido fazê-la com pedra chinesa”, diz.

O negócio conheceu os seus tempos áureos à medida que a calçada se ia expandindo por Macau. Antes de 1999, Kou Wai comprava dezenas de contentores cheios de paralelepípedos de calcário todas as semanas. Hoje em dia, continua a comprar às dezenas, mas só ao longo de um ano. Com a limitação de espaço em Macau, já não há muito mais calçada a nascer e, para não deixar o negócio ir abaixo, foi à procura de novos mercados. O Interior da China promete agora ser a sua galinha dos ovos de ouro.

“Os chineses não sabem como manusear este material e não sabiam das grandes vantagens deste tipo de pedra. Isto dura uma vida, é reutilizável e não precisa de grande manutenção”, explica. Numa das suas muitas viagens de negócios ao Interior do país, o empresário conseguiu convencer um empreiteiro de Xangai a avançar com uma espécie de ‘calçadão’ nas margens do rio Yangtze. Kou Wai vai buscar a pedra directamente a Portugal – principalmente nas Serras d’ Aire e Candeeiros, Porto de Mós, Albufeira e São Mamede – e vai dar formação a partir de vídeos com calceteiros portugueses a trabalhar.

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Mas o mercado da China não é novo para Kou Wai. As pedras que importa já foram parar a grandes obras de Hong Kong, Harbin e Zhejiang e numa série de cidades da Província de Guangdong, como Zhuhai, Zhaoqing, Shunde, Yunfu e Panyu. “Há muito potencial a explorar”, comenta, acrescentando estar já de olho numa série de projectos na Ilha da Montanha.

Os turistas, que aparecem aos molhos na sua loja da Rua da Barra, procuram-no sobretudo por causa dos azulejos portugueses que também aliou ao seu negócio. Pintados à mão em Portugal, já andam espalhados pelo Japão e Taiwan. “A minha loja está referenciada nos guias turísticos e aparece cá muita gente a querer comprar os azulejos, que é uma coisa que nunca tinham visto antes com esta qualidade. Os meus melhores clientes são japoneses e taiwaneses.” Mas há ainda quem queira levar como souvenir a calçada de Macau. Nem o preço elevado – um metro cúbico (cerca de 1300 quilos) da pedra branca ronda as 4000 patacas enquanto a rosa ascende aos 6800 – demove os apreciadores da ideia. “Há muita gente que quer fazer a calçada dentro de casa, mas o problema é encontrar quem faça bem e direito.”