Morreu Ana Maria Amaro, investigadora de Macau e da China

A professora e investigadora Ana Maria Amaro, antiga presidente da Comissão Científica do Observatório da China e do Instituto de Sinologia, morreu na terça-feira, em Lisboa.

A informação foi confirmada à agência Lusa pelo presidente do Observatório da China, Rui Lourido, e pelo editor da Livros do Oriente, Rogério Beltrão Coelho.

Professora catedrática jubilada, Ana Maria Amaro nasceu em 1929. “A professora foi uma profunda conhecedora de Macau e da civilização chinesa, tendo-se distinguido no ensino dos Estudos Chineses. Deu-nos a honra de ser sócia honorária e presidente da Comissão Científica do Observatório da China. Foi igualmente presidente do Instituto de Sinologia, tendo organizado um conjunto de reuniões e fóruns científicos que tiveram um papel importante na divulgação do conhecimento sobre a China em Portugal”, referiu o presidente do Observatório da China.

“Era uma pessoa por quem tínhamos grande admiração pelo espírito íntegro e carácter humano, e por deixar uma obra de grande valor para o conhecimento da cultura de Macau e da própria China e por ter apoiado o Observatório da China, desde o seu início, há dez anos”, disse Rui Lourido, que enquanto presidente do Observatório da China e historiador trabalhou com Ana Maria Amaro “em vários momentos e em vários projectos”.

Segundo o blogue Macau Antigo, “Ana Maria Amaro Viveu cerca de 15 anos em Macau (chegou em 1957), onde foi professora de várias gerações de portugueses e macaenses. Regressou a Portugal em 1972 e mesmo não tendo mais regressado ao Oriente, dedicou toda a sua vida a estudar a China, tendo sido a primeira mulher a doutorar-se com uma temática chinesa”.

Rogério Beltrão Coelho destacou o legado deixado por Ana Maria Amaro “sobretudo nas áreas da etnografia e antropologia”. “Deixa uma vastíssima obra publicada em artigos e livros, e em revistas culturais e científicas. É uma figura incontornável e uma fonte fundamental, que vai ter sempre de ser citada quando se trata de estudos sobre Macau”, afirmou.

Ana Maria Amaro viveu em Macau no período em que era governador o general Nobre de Carvalho, de quem viria a ser crítica num manifesto então publicado, recordou Beltrão Coelho.

Sobre Macau publicou, entre outros títulos, “O Traje da Mulher Macaense” e “Filhos da Terra”. E já sob a chancela da Livros do Oriente, publicou também “Das Cabanas de Palha às Torres de Macau”, que trata do desenvolvimento urbano da cidade desde o estabelecimento dos portugueses até ao fim do século XX, destacou o editor.

Ana Maria Amaro deixa também dois volumes sobre os jogos e brinquedos de Macau, com base numa recolha que abrange as comunidades portuguesa, macaense e chinesa, em “Jogos, Brinquedos e Outras Diversões Populares de Macau”, referiu Beltrão Coelho.

O editor recordou que foi por iniciativa da investigadora que o governo adquiriu aos herdeiros o jardim Lou Lim Ieoc – descrito como o mais tipicamente chinês de todos os jardins de Macau, mandado construir no século XIX pelo mercador Lou Lim -, o qual viria a ser restaurado e aberto ao público.

Beltrão Coelho recordou ainda que Ana Maria Amaro realizou dois trabalhos sobre a medicina chinesa e sobre as hortas de Macau, as quais aguardaram publicação no Instituto Cultural “pelo menos duas dezenas de anos”.

Além disso “fez uma incursão na literatura – com o livro de contos “Aguarela de Macau (1960-1970)” – e promoveu a publicação de trabalhos de outros autores do território, como Ondina Braga”, acrescentou o editor, para quem Ana Maria Amaro deixa um “espólio valioso” em artefactos e materiais que foi recolhendo e coleccionando ao longo dos anos.