O mundo milionário das infra-estruturas

Mais de mil delegados trocaram impressões, assinaram protocolos e memorandos num dos maiores encontros do sector das grandes obras a nível mundial, no início de Junho. As várias dezenas de acordos para projectos assinados pelos participantes do sexto Fórum Internacional sobre o Investimento e Construção de Infra-estruturas ascendem a 20 mil milhões de patacas. Entre os memorandos firmados constam empresas de Macau envolvidas na construção de estradas e habitação em Moçambique

 

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Apesar da anglofonia do nome, a Charlestrong Infrastructure é mesmo uma empresa de Macau, e é a lusofonia que tem concentrado o seu interesse – assinou um contrato chorudo para a construção de habitação pública em Moçambique. Este foi apenas um dos intervenientes que assinaram memorandos e acordos durante o Fórum Internacional sobre o Investimento e Construção de Infra-estruturas, que teve como palco a CotaiExpo do Venetian, em Macau,onde se reuniram nos dias 4 e 5 de Junho os representantes ministeriais de dezenas de países espalhados pelo mundo e de mais de 30 instituições financeiras internacionais, 15 organizações industriais e ainda empreiteiros, fabricantes de equipamentos e prestadores de serviços industriais de mais de 60 países e regiões, num total de mais de mil participantes.

O evento tem uma dimensão notável: os mais de mil delegados presenciaram a assinatura de 120 acordos para projectos que renderam nada menos do que 2,5 mil milhões de dólares (20 mil milhões de patacas). Desses memorandos firmados, quatro envolveram empresas de Macau. “Com apoio financeiro certamente estaríamos numa boa posição para entrar no mercado de infra-estruturas internacional”, sugeriu o empresário Tang Hong Cheong, presidente da Associação de Engenharia e Construção de Macau, na conferência de imprensa de encerramento.

O segundo dia do Fórum foi também ocasião para a realização do Encontro Ministerial sobre Infra-estruturas entre a China e os Países de Língua Portuguesa, evento organizado pelo Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, mais conhecido como Fórum Macau. No capítulo da cooperação mútua entre a China, Macau e os países de língua portuguesa, “há um grande potencial a explorar”, opinou Vítor Sereno, cônsul de Portugal em Macau e Hong Kong, destacando o papel que o Fórum Macau pode desempenhar nessa ponte.

O evento serviu também para Macau reforçar a sua posição como plataforma de internacionalização da China (nomeadamente entre os países de língua portuguesa, mas não só) e na integração regional da própria cidade, que quer ter um papel activo na estratégia de desenvolvimento da região. “O investimento e a construção de infra-estruturas a nível internacional são um factor imprescindível”, destacou o secretário para a Economia e Finanças de Macau, Lionel Leong Wai Tac.

 

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Supernegócios da China

Falar em grandes obras de infra-estruturas sem mencionar o nome da China está a ficar cada vez mais raro. A segunda maior economia do mundo tem sido nos últimos anos o país que mais investe nas suas próprias infra-estruturas e as suas empresas de construção têm acorrido em massa a grandes projectos noutros países em vias de desenvolvimento. Por toda a parte, não falta quem queira fazer negócios com o grande gigante do Império do Meio.

No fórum deste ano, cuja sexta edição foi subordinada ao tema “Integração Económica Regional – Promoção do Novo Desenvolvimento da Cooperação Internacional em Infra-estruturas”, estiveram representantes da Rússia, do Reino Unido, do Sri Lanka, do Equador, das Bahamas e de tantas outras paragens, todos desejosos de apertar a mão de empresários chineses e selar projectos conjuntos de construção de infra-estruturas. “A China tem investido mais do que qualquer outro país na sua própria infra-estrutura”, observou Hans Schulz, vice-presidente do Banco de Desenvolvimento Interamericano. “Isso faz dela um parceiro-chave para investimentos mútuos com as nações americanas em desenvolvimento”, acrescentou.

África tem sido também um dos maiores pólos de atracção para as empresas de construção da China. “Estamos muito contentes com a relação que temos mantido com empreiteiros chineses”, afirmou Christopher Yaluma, ministro da Energia, Minas e Desenvolvimento Hidráulico da Zâmbia. “Queremos continuar a ver os construtores chineses e o investimento da China a entrar no nosso país”, afirmou o governante do país da África Austral.

Em jeito de balanço do fórum, Sou Tim Peng, director dos Serviços de Economia, considerou que o evento foi especialmente positivo para o sector das exposições e convenções.

 

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De Macau para Moçambique

Nada menos do que 50 mil casas de habitação pública é a meta do projecto que já arrancou em Moçambique e de que faz parte, integrada num plano global de infra-estruturas, uma empresa de Macau – a Charlestrong Infrastructure. “Somos a primeira empresa de Macau a participar em grandes obras de infra-estruturas em Moçambique”, sublinhou Afonso Chan, vice-presidente da Charlestrong. Nesta fase, explicou o responsável, a empresa está a avançar com uma leva de 240 apartamentos, um projecto que arrancou em Outubro do ano passado, com prazo de um ano para a conclusão. “Garantimos ao governo de Moçambique entregar a chave no dia 31 de Outubro deste ano. Vamos conseguir cumprir, de certeza absoluta. Já acabámos as fundações e já estamos na fase estrutural. Contratámos quase 250 operários moçambicanos para trabalharem no nosso projecto”, referiu.

 

China a desenvolver estradas moçambicanas

O Governo moçambicano está apostado em desenvolver as suas infra-estruturas, em projectos que envolvem as rodovias, pontes e barragens, além da habitação social. O vice-ministro moçambicano das Obras Públicas e Habitação, João Machatine, veio a Macau para seduzir as empresas de construção e investidores chinesas a abrirem os olhos para esse mercado. O “rol de oportunidades de investimento” que o governante apresentou no fórum focou “sobretudo a componente de vias de comunicação – estradas e pontes –, gestão de recursos hídricos e sistemas de abastecimento de água e também habitação”.

Machatine aproveitou para saudar o trabalho de Macau nos contactos sino-lusófonos. “Reconhecemos o papel de Macau de plataforma entre a China e os países de língua portuguesa”, sublinhou. “Julgamos que Macau é o ‘interface’ para os países lusófonos no que concerne ao investimento chinês. Macau é a plataforma de ligação.”