PME | Como é que se desenha o sucesso?

Muitos empresários ficam ressentidos quando os seus melhores empregados vão embora. Os mais inteligentes não. Quando Mini Wong se despediu para abrir uma empresa de arte e design, o seu talento convenceu o patrão a apostar nos sonhos dela

 

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Texto Nuno G. Pereira | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

Quais os êxitos que espera atingir nos próximos cinco anos? “Ter uma grande equipa a trabalhar comigo, criar peças admiradas por cada vez mais pessoas e ser parte de uma família feliz.” Mini Wong, CEO da Prism Creative Macau, traça o futuro com objectivos claros. Porque assim os definiu, mas, mais do que isso, pela forma natural como o seu quotidiano os exige. No plano pessoal, constituir família será uma evolução lógica; no profissional, receber reconhecimento pela sua obra é também uma ambição de todos os artistas. Quanto ao desejo de partilhar o trabalho com uma grande equipa, é aqui que o dia-a-dia desta empreendedora mais suspira por mudança. De preferência bem antes de se passarem cinco anos. “É complicado ter de fazer tudo sozinha, arranjar tempo para todas as tarefas. O meu sócio é só investidor, deixa-me decidir como lidar com a maioria dos problemas e, por causa do nosso orçamento limitado, não é ainda possível contratar alguém. Essa é a parte mais difícil do negócio.”

Desengane-se porém quem pensar que Mini é mulher para se afogar nos mares do queixume. O nome até lhe dá mais graça, pela sua pequena estatura, mas torna-se apenas fugaz ironia quando ela, sempre sorridente, mostra a verdadeira face: um maxi-dínamo de entusiasmo e determinação.

Com 28 anos e uma licenciatura em Design feita no Instituto Politécnico de Macau, fundou a empresa no ano passado. Ao seu lado está Keith Chao, um dos donos da agência de publicidade onde ela trabalhava como designer gráfica, antes de abrir a Prism Creative Macau. Mini explica que, gerindo um negócio pela primeira vez, recorre à orientação do sócio, mais experiente nessas andanças. Contudo, só o faz quando é estritamente necessário – Keith Chao quer que ela seja o mais autónoma possível. Afinal, só aprende a nadar quem se afasta da terra firme.

 

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Processo de aprendizagem

A Prism Creative Macau tem três áreas de negócio, todas ligadas ao design e, num sentido mais abrangente, à expressão artística. “Vendemos o trabalho de artistas e pequenas marcas (a maioria é de Macau, mas também há de Hong Kong e outros locais da China); organizamos workshops com artistas, pois queremos encorajar as pessoas a envolverem-se directamente nas áreas criativas do seu interesse (e é também uma forma de ganharem mais consideração pelo acto de criar); somos ainda um espaço para exposições e pequenos eventos. Escolhi este negócio porque sou designer gráfica. Entendo o processo criativo e quero continuar a crescer nesta área.”

O amor à criatividade não justifica em pleno a decisão de abrir o negócio. Empreendedorismo obriga a tocar vários instrumentos, uma arte de polivalência que vai além do design. Então, porquê a vontade de dar tal salto? “O trabalho nas agências de publicidade em Macau é igual e eu estava cansada de fazer a mesma coisa. Precisava de um desafio mais estimulante. Como ainda sou nova, achei que era a altura ideal para correr riscos e abrir um negócio. É também um processo de aprendizagem, onde sou testada diariamente, descobrindo o que faço melhor e quais as minhas lacunas.” E um sonho realizado? “A empresa é uma parte dos meus sonhos realizados. Ao dar-me oportunidade de aprender todos os dias, permite-me ambicionar ir cada vez mais longe. Isto é fundamental para definir o meu futuro e continuar a perseguir objectivos.”

 

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Põe coração no que fazes

“Sempre adorei desenhar e pintar, mas também cantar. Cheguei a fazer parte do coro da escola. Até ao final do liceu, queria ser cantora, só depois é que decidi ir para a área do design. Mas continuo a gostar muito de cantar. A boa música vem do coração.” Se os bons negócios têm a mesma origem é discutível, mas uma certeza há: quem quer uma empresa necessita de cérebro, mas uma boa dose de coragem também é essencial. E até mesmo para uma mulher tão determinada como Mini, há alturas em que só apetece gritar “aguenta coração!”. Mesmo, como ela sublinha, contando com um sócio para dividir a pressão financeira. “Ainda assim temos de controlar muito os gastos.”

As dificuldades, iguais para tantos empreendedores, surgiram logo no arranque, onde foi necessário começar tudo do zero. “Todo o processo desde que decidimos abrir a empresa até concretizarmos esse objectivo foi bastante difícil. No início, pensava que seria fácil dar a volta aos problemas, fazendo-o pouco a pouco, mas estava enganada – depressa percebi que era impossível resolver tudo sozinha. É preciso contactar vários artistas, estabelecer parcerias, preparar exposições, tratar da gestão corrente e dos relatórios mensais, promover vendas, organizar workshops, enfim, muita coisa.”

Nas alturas mais tensas, como é que se afastam os pensamentos negativos? “Claro que sinto grande pressão, mas tenho a sorte de contar com os conselhos do meu sócio e a ajuda de muitos dos meus amigos. Mas o maior apoio é o meu namorado. Confesso que, às vezes, quando surge um problema que parece inultrapassável, penso em desistir. E é aí que ele puxa por mim, ajuda-me a limpar a cabeça, dá-me força e serenidade para continuar.”

Felizmente para Mini, a receptividade do público tem sido positiva, funcionando com um bom tónico de optimismo. “Sinto-me sempre muito feliz quando os clientes me dizem que adoram o feeling da loja e os nossos produtos. As vendas têm sido calmas, mas não param de aumentar, tal como o número de clientes. Ou seja, há um crescimento lento, mas contínuo, o que nos dá confiança para o futuro desta aposta.”

 

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