Dossiê MTC | O diagnóstico

O diagnóstico médico na Medicina Tradicional Chinesa tem por base quatro passos essenciais

Diagnóstico

 

 

Texto Sofia Jesus

 

Como explica o médico Wing Kuan, o diagnóstico tem por base quatro passos essenciais, realizados com base nos princípios teóricos da MTC:

 

望Wang (observar)

Este passo consiste em “observar a aparência do paciente” – por exemplo, observar o rosto (“se está corado ou pálido”), a estrutura (“se é magro”), se caminha numa posição especial. Inclui também a observação da língua. Segundo explica Angela Hicks, em A Medicina Chinesa, “a cor, a forma, o grau de humidade, o movimento e o revestimento da língua” são usados para diagnosticar o estado dos órgãos internos. A língua tem várias zonas, cada uma delas correspondente a um determinado órgão do corpo, “uma espécie de roteiro para o mestre tradicional”, como escrevem Cecília Jorge e Rogério Beltrão Coelho. Há ainda vários tipos de línguas – o Espelho da Língua para as Enfermidades Induzidas pelo Frio, “um dos mais importantes tratados sobre esta matéria”, contém 120 desenhos de tipos diferentes de línguas, lembram os dois investigadores.

 

聞Wen (ouvir/cheirar)

É a análise que o médico faz através dos sentidos do olfacto – por exemplo, verificar se a pessoa tem algum odor menos agradável – e da audição – por exemplo, ver se o paciente fala muito alto ou muito baixo.

 

問Wen (perguntar)

Consiste numa espécie de interrogatório. O médico faz uma série de perguntas para conhecer os hábitos, queixas e sintomas do paciente.

 

切Qie (sentir o pulso)

Este é, no entender de Wing Kuan, o passo “mais importante”, que “mostra o estado dos órgãos”. “É muito difícil explicar como [funciona]. É uma espécie de sentido. Pode ser muito forte, muito suave, toda a gente é diferente”, comenta o médico. Angela Hicks explica que o pulso “é tomado com três dedos [indicador, médio e anelar] ao longo da artéria radial e cada posição corresponde a um dos 12 órgãos”.

 

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Seis malefícios

Os tratados de MTC identificam “seis malefícios” ou “seis influências perniciosas”, explicam Cecília Jorge e Rogério Beltrão Coelho: a humidade, o vento, a calidez, a secura, o frio e o calor estival. Estes factores – que, segundo os investigadores não podem ser interpretados sob uma perspectiva ocidental, ou seja, “exclusivamente climatérica” – estão presentes quer na atmosfera, quer no corpo humano. No entanto, só actuam como malefícios “quando o organismo, por via de uma desarmonia qualquer, se torna vulnerável e deixa penetrar uma dessas influências”.