Dossiê MTC | Saúde Milenar

Assente em princípios que remetem para uma abordagem holística do corpo humano, a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) está longe de ser uma moda o passado. Se por um lado são cada vez mais os doentes que nela procuram auxílio, por outro há também cada vez mais peritos interessados em modernizá-la. Neste dossiê levantamos um pouco do véu sobre um sistema médico milenar de olhos postos no futuro

 

 

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Texto Sofia Jesus | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é “pioneira” numa série de intervenções baseadas numa “abordagem holística” em relação à saúde. Quem o reconhece é a Organização Mundial de Saúde (OMS), que dá como exemplos não só o uso de plantas medicinais e a acupunctura, mas também a dieta, o exercício físico e a “consciência dos efeitos do meio ambiente na saúde”.

Não se sabe ao certo quando é que a MTC começou a ser aplicada. Alguns documentos da OMS fazem recuar as suas origens 3000 anos; outras fontes apontam para um passado ainda mais remoto. O certo, em pleno século XXI, é que por um lado, na China, a MTC está integrada por completo no sistema nacional de saúde, e, por outro, são cada vez mais as pessoas no Ocidente que recorrem a esta alternativa para tratar ou prevenir certos problemas de saúde.

Pedir a um médico tradicional que defina a MTC é caso para lhe arrancar, no mínimo, uma gargalhada. Foi o que aconteceu com Wing Kuan, que avisou logo à MACAU que esta “é uma questão demasiado ampla”.

Médico de MTC numa policlínica privada em Macau, Wing Kuan começa por separar as águas no que diz respeito à “teoria” que está subjacente a este tipo de medicina – uma teoria que, diz, “é totalmente diferente” da que marca a medicina ocidental ou convencional.

 

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Princípios-chave

A Fundação Mundial de Medicina Tradicional Chinesa destaca, na sua página oficial da Internet, quatro princípios fulcrais da MTC. O primeiro é a ideia do corpo humano como um todo, um sistema integrado, complexo, alimentado pela “força da vida, ou energia” – o qi – , e em que tanto a mente como as emoções e as estruturas físicas têm um papel a desempenhar. Outra ideia chave é a de que o ser humano está “completamente ligado à natureza” e é afectado pelas mudanças que nela se operam.

A organização sublinha ainda o princípio de que todas as pessoas nascem com uma “capacidade natural de auto-cura” – o corpo como “um microcosmos que reflecte o macrocosmos” – e a ideia de que “a prevenção é a melhor cura”, pelo que é preciso saber interpretar os sinais transmitidos pelo corpo, antes que surjam problemas mais complicados.

A ideia de equilíbrio está no centro deste tipo de medicina e não é visível apenas na forma como são interpretados os sintomas ou prescritos os tratamentos. Segundo explica à MACAU Chen Xin, professor do Instituto de Ciências Médicas Chinesas (ICMS, na sigla inglesa) da Universidade de Macau, existe uma expressão chinesa que ilustra bem o tipo de recomendações tradicionais para um estilo de vida saudável: “A comida e a bebida consumidas de uma forma moderada, dormir e acordar a uma hora certa e não levar a cabo trabalhos de modo imprudente”.

Um conceito importante para se tentar compreender a MTC é o de Tao. Em Medicina Chinesa: Em busca do equilíbrio perdido, os autores Cecília Jorge e Rogério Beltrão Coelho explicam que, para os chineses, o Tao é “a via da Natureza, a lei primeira que regula tudo o que existe no Céu e na Terra”. Viver de acordo com o Tao, acrescentam, é “adaptar-se à ordem natural das coisas e comportar-se de maneira a não contrariar o seu percurso”.

Associada a esta ideia de adaptação às leis da natureza está a necessidade de seguir os princípios orientadores dos cinco elementos que influenciam o organismo humano – fogo, terra, metal, água e madeira. Por outro lado, a noção de equilíbrio pressupõe também a ideia de que, sobre o corpo humano, actuam duas energias cósmicas, o yin e o yang – duas forças opostas, que coexistem, que se complementam e que, se em harmonia, concedem saúde.

Entre os princípios filosóficos subjacentes à MTC está ainda a ideia de que no organismo, como em toda a natureza, há uma energia vital (qi), que percorre o nosso corpo através de uma rede de canais, ou meridianos. Desde que haja qi suficiente a fluir por estas vias invisíveis e órgãos a trabalharem em harmonia, o indivíduo mantém-se saudável.

Ao longo das páginas que se seguem, a MACAU procura dar a conhecer um pouco do que é a MTC. Além do contributo dado pelos especialistas contactados, a elaboração deste dossiê teve também por base a consulta de duas obras: A Medicina Chinesa, de Angela Hicks, co-directora do College of Integrated Chinese Medicine, no Reino Unido – publicado, em português, pela Editorial Presença; e Medicina chinesa: Em busca do equilíbrio perdido, dos investigadores de Macau Cecília Jorge e Rogério Beltrão Coelho – uma edição do Instituto Cultural de Macau.

 

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