Macau: Turismo e experiência

A Organização Mundial de Turismo estima que no ano de 2014 mais de um bilião de pessoas viajaram para fora do seu país. O número de turistas que pernoitou nos destinos atingiu os 1138 milhões em 2014, ultrapassando o número do ano precedente em cinquenta e um milhões, atingindo um crescimento de 4,7 por cento médio ao nível mundial.

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Texto Cátia Miriam Costa*

 

Para o ano de 2015, espera-se um crescimento na ordem dos três a quatro por cento, ou seja, prevê-se que a tendência actual se mantenha. Note-se que a evolução da indústria turística desde 1950 aponta para um incremento permanente e constante. Significa isto que a mobilidade humana aumenta, directamente relacionada com o usufruto de novas formas de recreio.

É na Ásia, com destaque considerável para a República Popular da China, que se encontra o maior aumento do número de turistas. Dada a expansão da economia chinesa, a OCDE (Organização Cooperação e Desenvolvimento Económico) prevê que a situação assim se mantenha, portanto, que o centro de crescimento nesta área se destaque para a Ásia, com relevo para a República Popular da China.

 

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Contudo, o significado de fazer turismo tem vindo a mudar, estando cada vez mais relacionado com a noção de experiência e com a comunicação desse momento. Estas novas tendências fizeram surgir uma propensão para a customização do serviço, de modo a assegurar competitividade e uma disposição natural para o turista partilhar as suas experiências, comunicando-as para um potencial público muito vasto.

Comunicação e experiência tornaram-se as grandes linhas orientadoras para o turismo e nesse sentido tanto operadores turísticos como clientes podem mais facilmente aceder a informação, seja através das páginas de internet sobre viagens (por exemplo, http://www.eatandtravelwithus.com/2014/02/10-things-to-do-in-macau/) ou dos sítios de empresas de viagem (como exemplo, http://www.lonelyplanet.com/china/macau). A competir com estas fontes, ainda as dos média tradicionais, agora também vertidos para formato digital, como no caso da CNN que dedicou uma página a Macau (http://edition.cnn.com/2013/10/02/travel/10-things-macau/).

 

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Macau experimentado e experiente

O impacto dos média sociais (Facebook, LinkdIn, Instagram, We Chat) é, paulatinamente, mais notório, influenciando escolhas de clientes e suas opiniões, mas também conseguindo o seu relevo junto dos média tradicionais. O sector do turismo foi um dos que mais mutações sofreu, devido às possibilidades que a sociedade em rede e intercomunicante oferece, seja através dos motores de busca direccionados apenas para a oferta turística, seja pela diversidade de elementos que são colocados em partilha depois de uma experiência turística. O Instagram, o Facebook e o Pinterest tornaram-se enormes redes de partilhas. A experiência deixou de ser apenas aquela que o turista tem no momento que visita o território seleccionado. Começa antes com a visualização de fotos e opiniões, prossegue depois com a partilha em tempo real, sobretudo, das fotos e termina apenas quando avalia a viagem ou publica a sua opinião online, finda a experiência.

 

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Hoje não interessa apenas contemplar ou observar, é preciso experimentar para contar. Nesse aspecto, Macau reúne elementos muito promissores dentro destas tendências. Elementos como a sua gastronomia, a fusão cultural seja na arquitectura, seja na sua música com modas em patuá ou mesmo os seus casinos, constituem importantes oportunidades de experiências novas e todas diferenciadas. Portanto, Macau tem já esse passado de atrair para experimentar. Basta agora potenciar o que naturalmente sempre possuiu.

É evidente que, dada a sua dimensão, Macau terá de preocupar-se com questões que são também desafios noutros contextos e territórios, como a gestão de espaços históricos (património da humanidade), promovendo a sua visita e comunicação ao mundo exterior, mas, em simultâneo, protegendo essas infraestruturas para evitar o seu colapso. Também o cuidado com a preservação ambiental de modo a evitar sobrecarga do ecossistema está na ordem do dia, numa época em a que a poluição tende a aumentar (ver caixa 1).

 

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Criatividade no sector de turismo macaense

Vários organismos internacionais, incluindo a OCDE (ver caixa 2) têm alertado para a estreita relação entre economia criativa e turismo, sugerindo a tomada de políticas públicas que fortaleçam essa conexão. No entanto, o sector turístico também pode ser criativo. Ancorando-se em alguns eventos e na longa tradição do jogo, poderá inovar nos serviços oferecidos. Isto é possível no caso de se aproveitarem os meios já à disposição, por exemplo, como a percepção da experiência reportada pelos turistas nos média sociais e associada aos vários serviços de hospitalidade (incluindo a restauração, recreio, alojamento). No Instituto de Formação Turística de Macau têm sido apresentados artigos muito interessantes para o caso macaense e que poderão orientar as pequenas e médias empresas macaenses na sua adaptação a estes novos tempos.

Afinal, os turistas procuram mais do que jogo. Querem usufruir de um espaço único, em que valorizam a comida, a cultura, a arquitectura e as compras, o que poderá dar o mote para ofertas diferenciadas e únicas. Significa, pois, que o turismo também se pode renovar e apresentar de forma criativa, usufruindo também dos produtos das indústrias culturais locais.

Macau, para além de proporcionar uma experiência, pode valer-se da sua experiência de território específico e apresentar propostas criativas. Basta para isso saber usar os recursos locais que, segundo a investigação académica e as análises de tendências transnacionais, apontam para um sucesso contínuo neste sector de actividade.

 

* Investigadora no Centro de Estudos Internacionais (ISCTE-IUL), colaboradora no Centro de Filosofia das Ciências (UL) e consultadora no DaST (Design a Sustainable Tomorrow)

 

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Novos Desafios para o turismo de Macau

A Organização Mundial de Turismo identificou os grandes desafios para os próximos anos. Das quatro publicações especializadas editadas, três têm particular interesse para Macau:

  1. Turismo nos Locais Património da Humanidade – Desafios e Oportunidades (Organização Mundial de Turismo, 2015): aborda a gestão sustentável destes territórios e a problemática envolvente à sua comunicação (interna, ou seja, com a própria comunidade) e externa (ao nível da projecção e reconhecimento do território). O turismo aparece como a actividade económica mais propensa para o aproveitamento das potencialidades das identidades culturais locais (para mais informação: http://publications.unwto.org/publication/tourism-world-heritage-sites-challenges-and-opportunities).
  2. Manual sobre o Turismo Acessível a Todos – parcerias público-privadas e boas práticas (Organização Mundial de Turismo e Fundação ACS, 2015): sublinha o valor da acessibilidade aos recursos culturais e patrimoniais, provendo o conhecimento para a construção de ambientes construídos e naturais mais apelativos (mais informações: http://publications.unwto.org/publication/manual-accessible-tourism-all-public-private-partnerships-and-good-practices-0).
  3. Resposta à mudança climática – Iniciativas turísticas na Ásia e Pacífico (Organização Mundial de Turismo, 2015): afere o impacto socioeconómico da mudança climática no turismo, tomando casos da Ásia/Pacífico. Propõe algumas respostas sobre alternativas para a actividade turística sustentável (para mais informações: http://publications.unwto.org/publication/responding-climate-change-tourism-initiatives-asia-and-pacific).

 

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Turismo e Economia Criativa

Em 2014, a OCDE (Organização Cooperação Desenvolvimento Económico) na sua publicação Tourism and the Creative Economy, reconhece a crescente relação entre economia criativa e turismo e a importância desta conexão orientar as políticas públicas geradas para o sector (mais informação: http://www.oecd.org/countries/democraticpeoplesrepublicofkorea/tourism-and-the-creative-economy-9789264207875-en.htm). Em Macau e ainda antes desta publicação, já tinha sido delineada uma política pública para esta área. Ver Programas de Subsídios para as Indústrias Culturais e Criativas de Macau: http://www.icm.gov.mo/dpicc/sps/defaultP.aspx