Tradução | O aprendiz que veio da China em 1975

Lei Heong Iok aterrou em Macau há exactamente 40 anos. Chegou nos tempos idos de 1975, inserido num grupo de cinco jovens enviados pela China para aprender português e, por um triz, não teve o ilustre Luiz Gonzaga Gomes como professor.

Lei Heong Iok_GLP_05

 

Texto Diana do Mar e Fátima Valente | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

Para ilustrar o ponto de partida, o actual presidente do Instituto Politécnico de Macau (IPM), recua até meados do século passado, quando a China não tinha nenhum tradutor-intérprete profissional de língua portuguesa. A reviravolta acontece já no início dos anos 1960, “quando o vice-presidente da República Federativa do Brasil, João Goulart, foi convidado para fazer uma visita oficial à China, obrigando o Ministério dos Negócios Estrangeiros a pedir ajuda de uma empresa chinesa de Macau para mandar um intérprete para Pequim”.

Nessa altura, experimentavam-se “duas vias de formação de intérpretes-tradutores. Em Pequim, através de institutos, e, em Macau, aproveitando os que já tinham base e cultura de língua europeia”. Lei Heong Iok, que tinha chegado a Macau com uma licenciatura em língua inglesa e que aqui foi baptizado de “Luís”, fez-se professor de português em 1979. Regressou a Pequim para dar aulas no Instituto de Línguas Estrangeiras, mas, em 1984, foi de novo chamado a voltar a Macau para assumir o papel de intérprete-tradutor durante as negociações luso-chinesas. “Trabalhei ao lado de ambas as partes como oficial de ligação. E depois, concluídas as negociações, começou o período transitório, foi publicada a Declaração Conjunta [em 1987] e a minha missão estava cumprida”, realça.

Decide voltar à carreira docente e, no ano de 1993, ingressa nos Serviços de Educação, saindo dois anos depois. No Instituto Politécnico foi sendo sucessivamente promovido, até que na véspera da transferência de administração – em 1999 – passa de vice-presidente a presidente daquela “casa” até hoje. Não tem dúvidas de que os tempos são outros quando olha para os jovens que cruzam o IPM com vontade de serem um dia essa ponte entre chineses e portugueses. “Têm melhores condições para aprender e também gozam de maior apoio à aprendizagem da língua e cultura portuguesas por parte do Governo. Além disso, há mais oferta de cursos e mais e melhores materiais”, recorda Lei Heong Iok, mostrando orgulho num dicionário antigo preparado por um grupo de missionários extremamente bem conservado a que deu uso nos tempos de aprendiz em Macau.