Umberto Eco e Macau

O editor Guilherme Valente, da Gradiva, que edita Umberto Eco em Portugal mostrou-se muito consternado com a morte do escritor italiano, mas optou por lembrar o homem “superiormente inteligente” e lembrou a sua visita a Macau, ainda durante a Administração Portuguesa. "O que me admira é que haja tão poucos portugueses a falar chinês”, disse o escritor na altura.

O editor disse à agência Lusa que em breve, ainda que a data certa não esteja definida, será publicada uma nova obra do escritor italiano, falecido em Itália na sexta-feira, com 84 anos. Trata-se de um livro que reúne um conjunto de ensaios, acrescentou. “Ainda que soubesse a idade que tinha e a situação em que estava, fico de algum modo surpreendido [com a morte de Umberto Eco] por ser um homem de uma vitalidade e força fantásticas”, disse Guilherme Valente à agência Lusa.

Ao frisar o intelectual polivalente (escritor, romancista, ensaísta, professor universitário), que o filósofo italiano foi, o seu editor em Portugal preferiu recordar o homem que conheceu quando trabalhou com o general Rocha Vieira, quando este foi governador de Macau.

Na altura, Umberto Eco passou por Macau e o então governador convidou-o a passar uma semana com a mulher nesse território. “Fui eu que tive esse privilégio de andar com ele uma semana, num convívio que se torna não completamente íntimo, mas em que nos colocamos mais à vontade, e foi uma experiência fantástica porque o Umberto Eco era uma pessoa superiormente inteligente”, frisou.

“Mostrei-lhe Macau, o português, o chinês e o luso-chinês. E ele rapidamente percebeu aquela realidade e se manifestou muito impressionado com ela, dizendo-me que aquilo era um tesouro que tinha de ser preservado e protegido”, lembrou.

O editor recordou também uma conferência de imprensa realizada no final da estada do casal em Macau e da resposta do escritor aos jornalistas portugueses quando estes lhe perguntaram o porquê de haver tão poucos chineses a falar português. “A resposta dele foi admirável porque é a de alguém que rapidamente percebeu o que era a realidade e que tem das relações inter-culturais a visão correcta. E a resposta foi: ´Não, o que me admira é que haja tão poucos portugueses a falar chinês`”, recordou.

“Número zero”, editado em maio de 2015, foi o último livro do escritor e filósofo italiano publicado em Portugal.

Traduzida por Jorge Vaz de Carvalho, trata-se de uma obra que coloca questões sobre jornalismo e as novas plataformas digitais, escolhendo como cenário narrativo a redação de um jornal diário.