Antigo Hotel Estoril de Macau sem valor patrimonial para ser classificado

O edifício do antigo Hotel Estoril de Macau não será classificado, decidiu o Conselho do Património Cultural da região.

Um dos conselheiros, o arquitecto Carlos Marreiros, disse aos jornalistas que 13 elementos do organismo votaram contra o início do processo de classificação do edifício como património local e apenas dois votaram a favor.

A votação foi feita numa reunião do Conselho do Património Cultural que apreciou o pedido de um grupo de cidadãos para que o edifício, abandonado desde os anos 1990, fosse classificado.

O pedido foi feito depois de o Governo de Macau ter convidado o arquitecto português Álvaro Siza Vieira para reconverter a estrutura, com vista a transformar o espaço num centro de artes e escolas artísticas.

Segundo Carlos Marreiros, a questão gerou uma “discussão muito aprofundada e alargada” no seio do Conselho do Património Cultural, mas o resultado foi uma “maioria esmagadora” contra a classificação do edifício.

O arquitecto disse que foi recolhida “muita informação e documentação” pelas autoridades e pelos conselheiros e que a estrutura que existe actualmente, na praça do Tap Seac, no centro de Macau, é o resultado de acrescentos a uma construção modernista original dos anos de 1950 que “tinha grande qualidade”.

No entanto, “tudo isso se desfez” a partir do início dos anos de 1960, quando Stanley Ho ganhou a concessão do jogo em Macau e iniciou essa actividade no Hotel Estoril, com o edifício original a ser acrescentado e a ter “várias versões” desde então. “O que resta hoje é um somatório de um edifício com vários postiços sobre uma pré-existência que era bonita”, afirmou Carlos Marreiros, explicando que foi sofrendo adaptações até aos anos de 1990, “não tem qualquer qualidade” e está também “descaracterizado por dentro”.

“A equipa projectista” e o Governo têm agora liberdade para decidir o que fazer com a estrutura, incluindo com o mural que está na fachada, explicou.

O presidente do Instituto Cultural de Macau, Ung Vai Meng, disse aos jornalistas, por seu turno, que para decidir sobre a abertura do processo de classificação foi recolhida informação sobre a história do edifício, não havendo necessidade de, nesta fase, consultar outros especialistas.

O Governo de Macau anunciou em Abril do ano passado a intenção de reconverter o antigo hotel e o projecto chegou a ser entregue a Siza Vieira, que defendeu publicamente a demolição e a não manutenção da fachada.

Surgiu então um debate sobre a requalificação do edifício e o seu eventual valor patrimonial e histórico, tendo o Governo de Macau lançado uma consulta pública e encomendado um inquérito.

Em Setembro, a associação de urbanistas de Macau Root Planning lançou uma petição para pedir a avaliação do valor patrimonial do antigo hotel Estoril e piscina adjacente.

Ao longo dos anos, foram vários os projectos pensados para aquele espaço, incluindo o acolhimento da Escola Portuguesa de Macau, mas todos foram abandonados.