Loja das Conservas abre em Macau

A Loja das Conservas abriu em Macau, embarcando numa primeira experiência além-mar, com a indústria a apontar a mira ao curioso e exigente turista da Ásia e a preparar terreno para o imenso mercado da China.

“Os asiáticos procuram cada vez mais produtos diferentes dos que estão habituados a ver nos seus próprios mercados. São bastante curiosos e cada vez mais exigentes na qualidade e nós vimos aí uma oportunidade de apresentar o nosso produto”, afirmou Sérgio Real, presidente da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP), que apadrinha o projecto, que agrupa 19 empresas conserveiras portuguesas.

A inauguração oficial em Macau constitui uma dupla estreia para a Loja das Conservas: trata-se da primeira loja fora de Lisboa e o primeiro espaço fora da Europa (existem actualmente apenas ‘corners’ em cidades como Paris ou Viena).

A escolha de Macau para a primeira experiência internacional prende-se com “razões históricas”, com a indústria conserveira portuguesa a procurar lançar o anzol aproveitando o perfil dos milhões de turistas que anualmente escolhem o território como destino. “Esperamos que seja do agrado do povo asiático”, realçou Sérgio Real, à margem da inauguração oficial da Loja das Conservas, de portas abertas no “coração” da cidade.

O objectivo é “atingir não só o mercado de Macau e de Hong Kong, mas também, claro, entrar no mercado da China”.

Embora sem dados concretos sobre as exportações para Macau, um mercado onde peixe português em lata deu à costa há largas décadas, Sérgio Real, cujo avô “provavelmente terá sido das primeiras pessoas a trazer as conservas portuguesas para o mercado asiático no início dos anos 50”, tem a perceção de que têm aumentado: “Pela nossa experiência [Sérgio Real é administrador da conserveira A Poveira] e pela dos meus colegas estão a crescer”.

A indústria conserveira portuguesa tem actualmente como principais mercados de exportação na Europa países como França e Inglaterra e também Espanha, sobressaindo-se no resto do mundo em destinos como Estados Unidos, África do Sul e o Canadá.

Com mais de 160 anos de história, a indústria conserveira portuguesa, que actualmente emprega directamente mais de 3.500 pessoas da Póvoa de Varzim a Olhão, “teve sempre os seus momentos de glória e os seus momentos de crise”, e apesar de hoje ter menos unidades fabris do que em finais dos anos 30, por exemplo, produz muito mais, encontra-se melhor apetrechada e “em constante expansão”, avaliou Sérgio Real.

“Estamos já com projectos para abrir outras lojas noutros mercados”, indicou, avançando a intenção de abrir um espaço no mercado americano, talvez ainda este ano, com Nova Iorque a surgir no horizonte.

Embora inicialmente a ideia subjacente à Loja das Conservas em Lisboa assentasse no consumo externo, o presidente da ANICP nota que “o povo português também está a começar a redescobrir as conservas”, deixando de a ver como “prato de recurso”.

Tanto que “muito em breve” a Loja das Conservas vai abrir portas no Porto, adiantou Sérgio Real. “O próprio mercado português está a crescer imenso e um dos nossos objetivos é também, de certa forma, substituirmos as importações por produto nacional”, afirmou.

Embora a importação no caso da sardinha seja “bastante residual”, no caso do atum – o produto enlatado que mais se consome – é “enorme”: São quase cem milhões de euros, o que é um número assustador e que bem poderia ser substituído pela indústria nacional”.

A Loja das Conservas, que conta com mais de 300 produtos, abriu com uma cerimónia tradicional entre o Oriente e o Ocidente, em que o folclore português se cruzou com a tradicional dança do leão, antes de terminar com um leitão trinchado à maneira de Macau.