Shen Haigou, vendedor de amendoins

O meu nome é Shen Haigou, tenho 58 anos e sou dono de uma banca de amendoins na Rua do Infante. O meu negócio, Si Heung, existe desde 1962.

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Fotos Locanda Films

 

Comecei a ajudar no negócio do amendoim quando era um miúdo. A banca só passou para as minhas mãos em 1977, mas já existe desde os anos 60. É um negócio de família e está nas minhas mãos há quase 40 anos. São 40 anos da minha vida aqui, nesta banca. Foi o meu pai quem começou com isto. A minha irmã mais velha ajudava-o e hoje eu tenho a minha filha a dar-me uma mão. Naquela altura, a minha irmã era uma menina, tinha sete ou oito anos. À medida que o nosso pai envelhecia, eu comecei a interessar-me mais pelo negócio, até que fiquei à frente de tudo. Não queria que esta banca desaparecesse com o meu pai; nem a banca nem a sabedoria do amendoim. O meu pai trabalhou duro a vida inteira para manter este negócio e eu decidi fazer o mesmo.

 

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A maioria das pessoas neste negócio ficaram para trás desde que Macau intensificou as relações comerciais com a China. Muitas famílias mudaram de área, mas no meu caso não valia à pena deitar tudo ao ar. Os custos operacionais são mais elevados hoje em dia. Antes encontravas amendoins e fábricas para processa-los com muita facilidade, mas agora até o produto bruto de qualidade já é difícil de arranjar. O nosso lema sempre foi vender amendoins de qualidade e é por isso que temos muitos clientes leais. Foi assim que o meu pai me ensinou. A qualidade é o mais importante neste tipo de negócio.

 

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Os meus filhos não têm interesse pelo meu negócio. Não ajudam nem querem fazer disto o futuro deles. Por isso, a minha mulher, a minha irmã mais velha e eu mantemos o negócio enquanto podemos. Não haverá uma próxima geração. E eu entendo a opção dos mais novos. É um trabalho cansativo, não há feriados nem férias.

 

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Hoje em dia há muitas opções para se ganhar dinheiro, há mais diversidade de empregos. Eu até consigo viver deste meu negócio, mas não tenho a mesma liberdade que as outras pessoas têm. Não trabalho das 9h00 às 18h00; passo aqui os meus dias, são muitas horas. Muitas vezes fecho a loja só de noite, às tantas horas, especialmente naqueles dias em que tenho entregas para fazer. O fim do ano, por exemplo, é uma altura de muito negócio e eu não posso deixar o trabalho para o dia seguinte. Entendo que muitos jovens não queiram fazer isto. Mas isto é a minha vida; aquilo que tenho vem só deste meu trabalho.

 

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*Este retrato é um dos episódios da série documental Os Resistentes: Retratos de Macau, da autoria do realizador António Faria.