Jorge Barreto Xavier inaugura exposição individual em Macau, após estreia em Goa

Jorge Barreto Xavier apresenta, na próxima quarta-feira, em Macau “A mão, escrevendo sobre o olhar”, a segunda exposição individual de fotografia do ex-secretário de Estado da Cultura português, depois da estreia, em Dezembro, em Goa.

“Esta é uma exposição com fotografias, mas, no fundo, não é uma exposição de fotografia”, começa por dizer Jorge Barreto Xavier aos jornalistas, antes de explicar que o exercício que fez consistiu em “usar, de facto, a imagem para apresentar um projecto que é uma mensagem visual” que – como tal – “não está arrumada como uma exposição de fotografia”.

A mostra, composta por 72 imagens, divide-se em três conjuntos – denominados de “o código da fronteira”, “o código da estrada” e o “código do sentido” – que “no fundo visa disponibilizar uma ideia de discurso e de como são importantes nas nossas vidas”, explicou.

“Mesmo as imagens que parecem mais óbvias, elas são aquilo que queremos que elas sejam num dado contexto, numa dada cultura”, afirmou, sublinhando que “a preocupação não é transmitir uma bonita imagem”, mas “transmitir uma mensagem da qual a fotografia é um veículo”.

“Estas imagens fotográficas procuram falar de três formas de discurso”: “como nos vemos a nós próprios”, “como é que os códigos sociais nos limitam ou nos libertam” e “como compomos a nossa presença” a partir da maneira “como nos vemos e nos colocamos junto dos códigos sociais”.

Na terceira sala, por exemplo, as fotografias são “bastante abstratas”, porque o objectivo é “mostrar que a forma de olhar para aquelas imagens e de projectar qualquer coisa sobre elas depende da maneira como nós próprios queremos fazê-lo”, realçou.

Com dezenas de milhares de imagens, fruto de uma paixão pela fotografia que cultiva desde os 12 anos, Jorge Barreto Xavier concebeu a sua segunda mostra individual em função do espaço da exposição, mas também pensou em Macau como Região Administrativa Especial da China. “Uma das artes supremas na China ainda hoje é a arte da caligrafia, que associa o exercício da imagem ao poder do significado da imagem. Achei que seria interessante fazer a exposição em Macau fazendo, se quisermos, uma citação deste conceito caligráfico e transportando-o para um exercício fotográfico”, disse.

A mostra, com a curadoria do fotógrafo local Ben Leong, que vai estar patente ao público até ao próximo dia 28 na Galeria A2 do Albergue SCM, figura como a segunda ‘a solo’ de Jorge Barreto Xavier depois de “Campo de Chão Bom”, que apresentou, em Dezembro do ano passado, em Goa.

Embora tenha participado em diversas iniciativas fotográficas, como num movimento a favor de Timor-Leste que resultou numa exposição, Jorge Barreto Xavier nunca teve uma mostra individual em Portugal.

Inicialmente por causa do Clube Português de Artes e Ideias, que fundou para ajudar artistas em início de carreira e dirigiu de 1986 a 2002, porque estava “muito ocupado” e por entender que “não devia promover” o seu próprio trabalho ao mesmo tempo; e, depois, porque desde então ocupou uma série de lugares públicos e, “mais uma vez”, achou que “não tinha espaço” para o fazer.

“Finalmente, depois de muitos anos, quando em Outubro de 2015 deixei o Governo, pude estar numa posição de não ocupar nenhum lugar”, tirando o de ser professor no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, sublinha Jorge Barreto Xavier que “queria deixar passar algum tempo” entre a sua saída do Governo e a apresentação do seu trabalho artístico em Portugal.

“É provável que no próximo ano ou no ano seguinte faça uma exposição em Portugal”, diz.

Desde que saiu do Governo, Jorge Barreto Xavier publicou dois livros – um de ensaios e um de contos – e prepara um terceiro, desta feita de poesia, para sair no próximo ano.