Caligrafia | Regresso às origens 

O Instituto de Formação Turística oferece este ano lectivo dois níveis de caligrafia chinesa. A necessidade de conhecer mais sobre a própria cultura levou vários locais de regresso à escola.

 

 

 

Texto Catarina Domingues | Fotos Tiago Alcântara 

 

São seis e meia da tarde. Ho Lai Sim, professora de caligrafia do Instituto de Formação Turística (IFT), chega hoje um pouco mais cedo às aulas para falar à MACAU. Senta-se num banco baixo, daqueles que giram. “Por acaso, esta sala de aulas está mais adaptada ao desenho, às artes, a cadeira não é a melhor para praticar caligrafia, porque está sempre a mexer-se”, diz, referindo que, na sua opinião, a melhor posição para a prática caligráfica é em pé. “Quando escreves, tens de estar bem sentada ou em pé e respirar convenientemente, não podes estar muito agitada, excitada ou triste, mas deves manter-te calma”, acrescenta a professora.  

Alguns dos alunos vão, entretanto, começando a chegar. Pousam as malas em cima das mesas corridas, tampo branco. Ho continua: “Pode ajudar-te a acalmar, tens de ter paz de espírito”. 

Hoje Ho Lai Sim dedica-se exclusivamente à caligrafia, mas ao longo de muitos anos coordenou a actividade com um trabalho de escritório, que deixou apenas no ano passado. A caligrafia apareceu na vida desta mulher ainda durante a escola, mas foi só mais de uma década depois que se juntou a um curso oferecido pelo Centro de Estudos Permanentes Pós-Laboral, conta. 

A professora pendura uma folha branca no quadro de aula. A tinta preta, um poema de Meng Haoren, poeta da Dinastia Tang, que caligrafou para a aula de hoje. Explica: “Este é o estilo de escrita que aprendemos neste curso, que é a escrita regular. Quero também mostrar aos alunos que, quando escrevemos um poema, a composição da folha também é importante”, considera. 

De acordo com a professora, está a surgir um novo interesse na aprendizagem da caligrafia em Macau, em parte devido à iniciativa de várias escolas, associações e do Governo na promoção de cursos. “Mas se queres elevar a caligrafia até um nível mais alto, é necessária mais formação”, diz. 

E se, por um lado, os novos média vieram distanciar a população da escrita à mão, por outro, a responsável acredita que também “veio ajudar as pessoas que têm interesse pela caligrafia na procura de mais informações”. 

Sit Cheong Hong aproxima-se da conversa. Diz “olá”, em português. É estudante do curso de tradução e interpretação do Instituto Politécnico de Macau e é uma das 16 alunas que frequenta o primeiro nível do curso de caligrafia do IFT. À semelhança de muitos outros alunos, também ela já tinha algumas bases “adquiridas na escola”. “Eu gosto de aprender mais sobre a cultura chinesa e penso que, ao estudar mais, posso melhorar a minha educação.” 

Entretanto, na primeira fila da sala, já a professora está sentada a mostrar como se fazem alguns dos traços básicos dos caracteres chineses. À volta, vai-se juntando um grupo de alunos. “O mais difícil é que não podes colocar o braço na mesa”, diz Sit Cheong. 

Chan Ka Men, também aluna deste primeiro nível, acredita que o maior desafio é o controlo do pincel. “Frequentei o curso de Caligrafia Inglesa Antiga e descobri que utilizar o pincel é muito mais difícil [do que caneta de aparo]”, refere a estudante de 38 anos, admitindo que, como chinesa, sente a necessidade de estar mais ligada à sua cultura. “A caligrafia é uma arte, não podes comparar com a escrita rotineira. É completamente diferente, exige muita concentração em cada palavra.”