Fundo China-Países de Língua Portuguesa | Cadeia de investimento

As empresas de Macau podem explorar parcerias com o Interior do País para investir nos países de língua portuguesa com o apoio do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa, defendem responsáveis por esta plataforma de financiamento

 

 

Texto Catarina Domingues

De que forma é que as empresas de Macau – na maioria de pequena e média dimensão – podem receber apoio do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa para investir em África? Esta foi uma das questões colocadas durante a primeira sessão de promoção do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa. “Para fazer um investimento destes é preciso muita coragem”, completou a interveniente durante o seminário organizado em Outubro pela Direcção dos Serviços de Economia (DSE) do Governo da RAEM.

Em resposta, Song Yunsong, presidente da direcção do Fundo, começou por dizer que estão a ser “exploradas novas oportunidades” e a ser estudados “os riscos que podem surgir” pelo caminho destas pequenas e médias empresas. O responsável sugeriu aos empresários de Macau que unam forças e “formem uma cadeia de investimento”: “Ou seja, investimos em conjunto noutros países e reduzimos os riscos”, explicou.

Li Na, directora-executiva desta plataforma de financiamento, acrescentou que os empresários de Macau devem procurar estabelecer parcerias com “empresas estatais ou outras empresas no Interior da China”, para chegar aos países de língua portuguesa.

“E de que forma é que este fundo poderia apoiar o ensino superior de Macau?”, quis saber ainda durante a sessão de perguntas e respostas o representante de um dos estabelecimentos universitários da RAEM. Este mecanismo de financiamento não contempla a área do ensino, frisaram os responsáveis presentes na sessão, onde foi ainda referido que a agricultura, a energia e a indústria mineira são as principais áreas de investimento apoiadas pelo organismo.

A sessão de promoção do Fundo de Cooperação de Desenvolvimento China-PLP reuniu cerca de uma centena de pessoas e deu a conhecer os destinatários do apoio e os principais critérios, bem como modelos e condições de investimento nos países de língua portuguesa.

 

 

“Subida drástica” da cooperação

Com um capital social de mil milhões de dólares norte-americanos, o Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa foi criado oficialmente em Junho de 2013. No ano passado, o primeiro-ministro Li Keqiang anunciou, durante a 5.ª Conferência Ministerial do Fórum Macau, a transferência da sede do Fundo para a RAEM. A mudança da sede acabou por acontecer em Junho deste ano e, numa primeira fase, está localizada no Centro de Apoio Empresarial, do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), prevendo-se a sua deslocação para o futuro Complexo de Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

A instalação do Fundo deste lado da fronteira “não tem apenas um papel significativo para a construção, pela RAEM, da plataforma de serviços para a cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa”, mas vai também contribuir para “a participação das empresas locais em projectos realizados no universo lusófono”, disse o director da DSE, Tai Kin Yip, durante a abertura da sessão de promoção. O responsável acrescentou que espera que as empresas de Macau possam “produzir vantagens multiplicadoras em conjunto com as suas congéneres do Interior da China”, de forma a explorar os mercados de língua portuguesa.

Na ocasião, a subdirectora do departamento para os Assuntos Económicos e encarregada da divisão de Comércio do Gabinete de Ligação em Macau, Chen Xing, notou que, desde a criação do fundo, houve uma “subida drástica” da cooperação económica entre a China e os oito países de língua portuguesa. “Muitas empresas de países de língua portuguesa abriram sucursais na China, que também está a realizar muitas obras em países de língua portuguesa, no valor de 9000 milhões de dólares [norte-americanos]”, revelou.

Também presente nesta acção de promoção, Jin Guanze, representante do Fundo, chamou a atenção da plateia para os desafios no trabalho desta plataforma de financiamento, nomeadamente no que diz respeito às dificuldades na gestão do mecanismo e à falta de recursos humanos. “A tarefa não é assim tão fácil”, concluiu.

 

 

Exemplo de África

O Fundo de Desenvolvimento China-África poderá servir de inspiração para o Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa, disse o presidente da direcção deste mecanismo de financiamento para a lusofonia, Song Yunsong, para quem o contexto de investimento dos dois fundos apresenta semelhanças. “Temos uma vasta área em termos de países de língua portuguesa, uma população numerosa e, além disso, a maioria dos países localiza-se em África”, detalhou.

O Fundo de Desenvolvimento China-África, criado por Pequim em 2007, é administrado pelo Banco de Desenvolvimento da China e visa apoiar o investimento de empresas chinesas em África. Na última década, referiu Song Yunsong, esta plataforma investiu em cerca de 90 projectos em 36 países africanos e em sectores como as infra-estruturas e a agricultura.

Song Yunsong fez ainda uma breve apresentação de alguns dos projectos chineses em países africanos, como a Nigéria, o Egipto ou o Gana. Entre os exemplos referidos, o presidente da direcção do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa referiu a criação da companhia aérea Africa World Airlines, no Gana. Trata-se de uma parceria entre a empresa chinesa Hainan Airlines, o Fundo de Desenvolvimento China-África, a agência governamental ganesa SSNIT (Social Security and National Insurance Trust) e o grupo financeiro SAS. A criação desta nova companhia aérea, em 2012, permitiu um “reforço da interligação entre as nações do Oeste africano”, disse Yunsong durante a apresentação, constatando que este modelo de negócio poderá servir a Macau: “A Air Macau também tem muitas linhas que ligam o Interior da China e assim pode promover e aumentar o movimento humano, logístico e financeiro”, vincou.

Ainda de acordo com Yunsong, outro exemplo de negócio que obteve apoio do Fundo de Desenvolvimento China-África e que pode servir de modelo é a Zona de Cooperação Económica e Comercial do Suez, no Egipto. Através de uma parceria com a TEDA (Tianjin Economic-Technological Development Area), este parque industrial já atraiu 68 empresas, um investimento total de mil milhões de dólares norte-americanos e criou cerca de 2000 postos de trabalho. “Creio que este projecto consegue servir de referência para empresas que tenham potencial, por exemplo, para investir na área da medicina tradicional”, frisou Song Yunsong.

 

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Estágios na área financeira

“A instalação da sede do Fundo também traz novos destaques para o desenvolvimento do sector financeiro com características próprias de Macau e, assim, promove o desenvolvimento diversificado adequado da economia de Macau”, disse Tai Kin Yip, director dos Serviços de Economia de Macau, durante a sessão de promoção do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa. O responsável revelou ainda aos cerca de cem participantes na sessão que a plataforma de financiamento vai “prestar o serviço de formação de profissionais”. Um grupo de funcionários do sector privado e público será seleccionado para estagiar em empresas do Interior da China. O objectivo, reforçou o responsável, é “elevar a qualidade dos profissionais financeiros locais”.

 

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O que é o Fundo de Cooperação e Desenvolvimento

O valor do capital social do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa é de mil milhões de dólares norte-americanos e tem a participação conjunta do Banco de Desenvolvimento da China e do Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização de Macau.

Os projectos podem ser recomendados pelo Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau) ou por departamentos governamentais dos países membros. Além de projectos a cargo da equipa de gestão do Fundo de Cooperação, empresas e instituições de investimento podem ainda apresentar propostas. A decisão é tomada por um grupo de financiadores e uma comissão formada por profissionais da equipa de gestão do Fundo.

 

Principais áreas de investimento

Agricultura

Indústria

Energia

Indústria mineira

Áreas encorajadas pelos governos dos países membros, de acordo com as características de cada país.

 

Critérios de investimento

A empresa deve estar legalmente registada, operar num dos países membros, empregar tecnologia industrial avançada, ter experiência no sector, capacidade de investimento e uma equipa de gestão experiente e de confiança.

O projecto deve promover o desenvolvimento económico local e melhorar a qualidade de vida das pessoas; deve ter capacidade de gerar um fluxo satisfatório de receitas e ser rentável financeiramente.

A escala de investimento para um único projecto deve situar-se entre cinco e 50 milhões de dólares norte-americanos; o investimento para um único projecto não deve ser superior a 15 por cento do capital total do Fundo (mil milhões de dólares). A proporção do investimento do Fundo não deve ser superior a 30 por cento do capital total do investimento do projecto. O Fundo não deve ser o maior accionista do projecto.

Fonte: Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa