Macau galvaniza intercâmbio com Tailândia e Camboja 

O reforço da cooperação da RAEM com os países do Sudeste Asiático irá abranger áreas tão diversas como o turismo, a agricultura, a tecnologia e a educação. Sob os promissores auspícios gerados pelo programa transnacional de desenvolvimento de infra-estruturas liderado pelo Governo Central, os governos tailandês e cambojano consideram também tirar partido da posição de Macau como porta para os mercados de língua portuguesa.

 

Texto Irene Leong | Fotos GCS 

 

O Chefe do Executivo de Macau esteve num périplo de cinco dias pela Tailândia e pelo Camboja. De Banguecoque e Phnom Penh (as capitais dos dois países, respectivamente), Chui Sai On trouxe reforçadas as perspectivas de cooperação bilateral e o intercâmbio com as duas nações do Sudeste Asiático, envolvidas na iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”. 

Aproveitar o papel de Macau como plataforma entre a China e os países de língua portuguesa “e assim explorar mais oportunidades de desenvolvimento” foi o grande “cartão de visita” apresentado pela RAEM, ciente das vantagens oferecidas pela sua posição privilegiada, que devem estar na “base da cooperação profunda com os dois países”, de acordo com um comunicado do Gabinete de Comunicação Social (GCS) de Macau. 

O sector do turismo, mais precisamente nas vertentes da protecção do património cultural e da criação de um centro mundial de turismo e lazer, é para onde aponta a agulha da bússola da cooperação de Macau com Phnom Penh. Na capital do Camboja, o Chefe do Executivo assinou um memorando de entendimento com Prak Sokhon, ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação Internacional do país, precisamente nesse âmbito. 

Mas os laços de cooperação que se fomentam com o Camboja não se ficam por aqui, tendo havido também negociações sobre áreas como a agricultura e os recursos humanos e até o intercâmbio jovem, com o convite aos estudantes cambojanos para prosseguirem a sua formação em instituições de ensino na RAEM. 

Já em Banguecoque, Chui Sai On sublinhou a intenção de intensificar a cooperação e o intercâmbio com a Tailândia em várias vertentes, nomeadamente no âmbito da medicina tradicional chinesa, educação e mercados lusófonos. Mas a visita ficou marcada pelo avanço dado no plano de geminar Macau com Phuket, capital da província insular turística do mesmo nome, localizada no Sudoeste do país. 

Nesse sentido, o Chefe do Governo da RAEM chegou mesmo a pôr o “preto-no-branco”, assinando com o ministro dos Negócios Estrangeiros tailandês, Don Pramudwinai, um memorando de entendimento com vista à geminação. O documento atesta que Macau e Phuket “vão cooperar sob o princípio de igualdade e reciprocidade, com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento próspero dos dois territórios, e desenvolver, de forma abrangente, o intercâmbio e a cooperação em várias áreas”. 

 

Macau e Phuket, as gémeas inteligentes 

Na prática, a geminação implica oportunidades mútuas de cooperação entre as duas regiões em áreas como turismo e cultura, economia e comércio, mas também educação e medicina tradicional, com o incentivo do intercâmbio e visitas mútuas. O Governo tailandês quer aproveitar a oportunidade para, à imagem do que está a ser feito em Macau e aproveitando essa experiência, lançar também um projecto de “cidade inteligente”, integrado no plano económico nacional “Tailândia 4.0”, que conta entre os seus objectivos desenvolver as tecnologias de informação e criar um “corredor económico” no Leste do país.  

No que diz respeito ao turismo, a Tailândia é já um dos 10 mercados que mais visitantes traz a Macau, com as ligações aéreas asseguradas por duas companhias que operam um total de 60 voos directos de e para Banguecoque, Phuket, Chiang Mai e Utapao. Ao mesmo tempo a Direcção dos Serviços de Turismo de Macau (DST) afirmou-se empenhada em “cooperar com as companhias aéreas na oferta de pacotes turísticos para encorajar mais tailandeses” a visitar Macau este ano, acreditando haver “potencial para diversificar os mercados de visitantes de Macau”. 

Por sua parte, o primeiro-ministro tailandês, Prayut Chan-o-cha, espera que o número de turistas de Macau que visitam o país também continue e aumentar. Na reunião que manteve com Chui Sai On, o chefe do Governo da Tailândia defendeu o reforço da cooperação em “vários domínios”, sublinhando o “enorme potencial no sector turístico”, mas não só. Chan-o-cha considera haver outros “sectores em que Macau reúne condições vantajosas”, como a gastronomia, o vestuário e as indústrias criativas, nos quais as duas partes podem intensificar laços; e vê com muito bons olhos o impulso que a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” poderá dar a toda a região do Sudeste Asiático, nomeadamente com a construção de uma rede ferroviária de alta velocidade, que promete aproximar da China o Laos, a Tailândia e Singapura, oferecendo-lhes um acesso renovado às regiões e províncias do Grande Delta do Rio das Pérolas. 

Por outro lado, a galvanização das relações com Macau pode ter reflexos positivos também no que diz respeito à comercialização de produtos agrícolas, como notou, por sua vez, Somkid Jatusripitak, vice-primeiro-ministro da Tailândia, com a concordância de Chui Sai On, que observou ainda que o aumento da exportação de frutas frescas para Macau poderá abranger um ciclo ainda mais alargado, envolvendo também o bloco dos países de língua portuguesa. 

 

Camboja e os 60 anos de uma amizade 

Antes da frutífera passagem por Banguecoque, a comitiva de Chui Sai On já tinha visitado de forma igualmente bem-sucedida o Camboja, com quem a Tailândia faz fronteira a Sudeste. Em Phnom Penh, o Chefe do Executivo de Macau e o primeiro-ministro do Camboja, Hun Sen, deram passos inequívocos no sentido do reforço da cooperação dos dois territórios em diversas áreas, nomeadamente “no turismo, sector financeiro, comércio e cultura”. Um memorando de entendimento no âmbito do acordo-quadro de cooperação para a promoção da amizade bilateral foi assinado, materializando intenções de crescimento mútuo, com bastante simbolismo à mistura, num ano em que, coincidentemente a China e o Camboja comemoram o 60.º aniversário do estabelecimento das suas relações diplomáticas. 

De acordo com o memorando assinado, as duas partes vão reforçar o intercâmbio no sector do turismo, com Macau a retirar enormes benefícios, nomeadamente a nível da protecção do património cultural e com vista à criação de um Centro Mundial de Turismo e Lazer. O documento também inclui planos relacionados com o papel de Macau enquanto plataforma para a cooperação comercial entre a China e os países de língua portuguesa, abordando a promoção de produtos agrícolas cambojanos junto dos mercados daqueles países. 

Prevista no memorando está também a implementação de um programa de intercâmbio juvenil, direccionado não só para estudantes como também para jovens empresários, que visa disponibilizar oportunidades de aprendizagem e inclui mesmo a criação de uma bolsa de estudo. O documento vem complementar outro, assinado em Março entre Macau e a província cambojana de Siem Reap, visando o reforço da cooperação no turismo, cultura e comércio. 

Na opinião do Chefe do Executivo, as relações entre a China e o Camboja, que comemoram seis décadas desde o seu estabelecimento, atravessam a “sua melhor fase”, com o Governo cambojano a mostrar-se “muito receptivo” face à iniciativa transnacional de desenvolvimento de infra-estruturas liderada por Pequim. Relativamente às relações com Macau, “os dois territórios podem complementar-se nas suas vantagens, na facilitação da fluidez das trocas comerciais, nos serviços de intermediação financeira e na colaboração activa enquanto regiões abrangidas pela iniciativa da China ‘Uma Faixa, Uma Rota'”, observou Chui Sai On. 

Um balanço positivo rumo à diversificação 

No rescaldo da passagem de Chui Sai On pelo Camboja e pela Tailândia, o Governo considerou que o périplo serviu para dar avanços importantes, que acabarão por contribuir para a diversificação económica da RAEM. O Chefe do Executivo apresentou um balanço “positivo” dos encontros mantidos em Banguecoque e Phnom Penh, até pela forma como as medidas ali aventadas irão servir para “apoiar o crescimento profissional dos jovens”. 

Aliás, os jovens e o seu contributo para com a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” estiveram mesmo no centro do debate numa mesa redonda promovida na capital cambojana, e que juntou jovens de Macau e do Camboja. Chui Sai On anunciou que o Governo da RAEM irá apoiar os jovens cambojanos a prosseguirem os seus estudos em Macau e sublinhou a importância de todos os sectores para maximizar “o aproveitamento da inovação e o espírito de esforço da nova geração”. O responsável máximo do Executivo de Macau enfatizou o empenho da RAEM em aprofundar o intercâmbio para uma maior “fluidez das trocas comerciais”, com vista a uma “maior interactividade e oportunidades de emprego para ambas as populações”. 

No balanço das visitas, o porta-voz do Governo, Victor Chan, realçou os acordos de cooperação e amizade celebrados em Phnom Penh e Banguecoque – planos que visam projectar as vantagens de ambas as partes com os objectivos de “desenvolvimento mútuo, aprofundamento da colaboração, criação de quadros de cooperação e definição de orientações”. Victor Chan também sublinhou o papel que pode ser desempenhado pelos chineses ultramarinos em Macau e nos países integrados na iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, permitindo que Macau se possa “concentrar nas trocas comerciais de forma a proporcionar maior fluidez no financiamento no mercado capitais e consequentemente contribuir para o desenvolvimento dos seus participantes”. 

Na senda da diversificação económica, o Executivo da RAEM considera terem sido dados importantes passos no sentido de intensificar parcerias em áreas como o turismo, economia e comércio. E isto não sem contemplar também a devida atenção ao reforço das trocas nos campos da cultura, formação de recursos humanos, protecção do património cultural, intercâmbio de jovens estudantes e sector empresarial. “Com toda essa cooperação estreita pode-se criar mais condições vantajosas e novas possibilidades para o desenvolvimento a longo prazo da RAEM”, considerou Victor Chan. 

O balanço foi “extremamente positivo” também na opinião de Leonel Alves, ex-deputado da Assembleia Legislativa (AL), que acompanhou a maratona de encontros na qualidade de membro do Conselho Executivo, e para quem o panorama se vislumbra como uma oportunidade para Macau “se internacionalizar”. 

“Como região administrativa especial, Macau tem um grande parceiro que é Hong Kong e, no âmbito da política ‘Uma Faixa, Uma Rota’, já se preparou. E Macau também tem de acompanhar esse ritmo: dar-se a conhecer, conviver mais com os países do Sudeste Asiático, exibir as suas potencialidades”, advertiu, notando também a grande receptividade e até “um carinho muito especial com Macau” demonstrado por parte dos dirigentes governamentais cambojanos e tailandeses. “Todo este ambiente político, de conhecimento mútuo, de maior convívio e troca de opiniões enfatizando o aspecto cultural e histórico, promovendo o turismo e outros investimentos”, deve ser acompanhado, defendeu. “É extremamente importante este passo de internacionalização de Macau integrado na política nacional mais ampla porque obviamente, a seu prazo, irão trazer benefícios para todos nós”, frisou Leonel Alves. 

 

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Reforço das ligações aéreas Macau-Camboja 

Na passagem do Chefe do Executivo da RAEM por Phnom Penh, o reforço da cooperação bilateral na área do turismo foi um dos principais assuntos discutidos, tendo sido abordada, nomeadamente, a possibilidade de criar novas ligações aéreas entre Macau e o Camboja, uma possibilidade confirmada por Heng Samrin, presidente da Assembleia Nacional cambojana. O Chefe do Governo de Macau, por sua parte, assegurou que, assim que chegasse a Macau, iria “empenhar-se na análise da viabilidade” da introdução de novas ligações directas. O primeiro-ministro cambojano, Hun Sen, sublinhou que Macau e o Camboja já contam actualmente com várias ligações aéreas sem escala, enfatizando que esses voos directos “têm contribuído para o aumento das deslocações de turistas entre os dois territórios”.