Português | Uma verdadeira porta de entrada  

Não são apenas os chineses que têm apostado na aprendizagem da língua portuguesa em Macau. Há também outros estrangeiros que por aqui passam que, graças ao contacto com a cultura portuguesa, descobrem uma nova língua a explorar.

 

Texto e Fotos Lucas Calixto 

 

Além da crescente oferta de língua portuguesa ao nível do ensino superior, há ainda muitos cursos não conferentes de grau disponíveis em Macau para quem quer aprender português. A edição do ano passado do Curso de Verão de Língua Portuguesa da Universidade de Macau (UM), por exemplo, reuniu mais de 450 estudantes de todo o mundo, incluindo alunos oriundos da Coreia do Sul, do Japão, dos Estados Unidos e até da Moldávia. 

O contacto com a língua portuguesa em Macau para os alunos estrangeiros vai além da sala de aula, pois há possibilidades de interacção, de conhecimento e de descobertas sobre a cultura portuguesa e a cultura macaense. E esses são benefícios de grande valor para os estudantes, conforme sustenta Roberval Teixeira e Silva, docente do Departamento de Português da UM. “O que esses alunos asiáticos encontram em Macau é uma possibilidade de interagir e experimentar culturas em língua portuguesa, especialmente, a cultura portuguesa e macaense”, aponta.  

O académico diz ainda que, “na realidade, os alunos têm a possibilidade de interagir com pessoas de todos os países e regiões de língua portuguesa”, o que acrescenta ainda mais à experiência de quem escolhe Macau como destino de estudo. 

Os cursos de curta duração, como é o caso daquele que acontece todos os Verões na UM, acabam por criar oportunidades para que mais alunos possam visitar Macau e estudar a língua durante um mês ou mais. Alunos de diversas nacionalidades têm marcado presença, o que demonstra o posicionamento de Macau como centro do ensino do português na Ásia. “Há muito interesse por parte de estudantes de outros países asiáticos. Costumamos receber coreanos, japoneses, vietnamitas, timorenses ou indianos, por exemplo”, indica Roberval Teixeira e Silva.  

O professor aponta ainda que também há alunos japoneses que, através de bolsas dadas no seu país de origem, passam um ou dois semestres em Macau a frequentar cursos regulares de licenciatura. Este é o caso de Gabriel Naomichi, de 21 anos, que conta que escolheu estudar português em Macau para regressar ao seu país com uma maior bagagem cultural e depois prosseguir com uma licenciatura em língua portuguesa.  

O facto de ter toda uma estrutura em língua portuguesa foi essencial para a escolha de Gabriel por Macau. “Na minha universidade no Japão eu tinha apenas uma aula de português por semana, mas aqui posso ter 10 se eu quiser.” Um dos pontos positivos de fazer parte dos estudos na RAEM é também poder praticar a língua estudada com vários lusófonos pela cidade. “Posso falar português com muitas pessoas em Macau, o que faz com que eu tenha muito contacto com a língua.” 

Antes de Macau, Gabriel passou uma curta temporada (três semanas) em Portugal, o que o ajudou a confirmar a sua escolha pelo português como língua de trabalho. “A maioria dos japoneses não sabe falar português, mas eu sei, por isso sinto-me diferente dos outros japoneses”, acrescentando que a sua meta é candidatar-se a empregos na área diplomática.   

Natália Jisook-Jung, sul-coreana de 20 anos, veio a Macau frequentar o Curso de Verão da UM, e estava no primeiro ano da licenciatura de língua estrangeiras no país natal. A experiência em Macau correu tão bem, que Natália desistiu da sua universidade na Coreia para levar a aprendizagem do português mais a sério na RAEM. Inscreveu-se na licenciatura de Estudos Portugueses e tem como grande objectivo trabalhar como tradutora ou hospedeira de bordo quando regressar a Seul.  

Apesar de haver três universidades sul-coreanas a oferecerem a cátedra em língua portuguesa, Natália sentiu que em Macau teria um contacto mais intenso com a língua. “Como há muitos lusófonos aqui, tenho muitas oportunidades para praticar o português, coisa que não acontecia na Coreia. Por isso esta foi uma decisão muito acertada”, diz.  

 

Até para nativos 

Miriam Akiyama nasceu no Brasil, neta de japoneses que emigraram para o país sul-americano nos anos de 1940. Cresceu numa pequena comunidade japonesa no interior do Estado de São Paulo e as primeiras palavras que lhe saíram da boca foram em japonês. Tornou-se bilingue dado o contacto intenso tanto com a comunidade japonesa como a brasileira, e com muito apoio da família. “Os meus pais sempre se comunicaram comigo em português, mas era necessário que eu me expressasse nas duas línguas, dependendo da situação”, conta.  

A curiosidade pela língua portuguesa começou só nos tempos em que estava a cursar a licenciatura em línguas estrangeiras inglês-português no Brasil. “Antes, na escola, as aulas de gramática e literatura eram muito maçantes para mim”, diz a rir-se. “Foi só quando eu estava a tirar a minha licenciatura que comecei a me apaixonar pela língua portuguesa. Quanto mais eu estudava inglês, mais eu gostava de português.” 

Miriam deixou o Brasil há alguns anos e mudou-se com a família para o Japão. Apesar da distância, a língua portuguesa continuava a fazer parte dos seus planos, por isso passou a cultivar a ideia de inscrever-se num mestrado de linguística, uma disciplina que mudou a forma como olhava para o português. “Em 2014 vim a Macau para participar num congresso linguístico. Fiz uma apresentação sobre a língua portuguesa no Japão, e fiquei impressionada com os professores que conheci por aqui. Como vivia no Japão e Macau é muito próximo da minha casa, resolvi vir para cá depois deste primeiro contacto”, explicou assim as razões que a fizeram a ser mestranda em linguística portuguesa na Universidade de Macau.  

A escolha de Macau nunca surtiu dúvidas. “Gosto muito de Macau, especialmente por ser um local tão singular na Ásia. Um local com culturas orientais e ocidentais e imigrantes de outros países, o que o torna tão único. Para aqueles que estudam e pesquisam os pidgins e crioulos de base portuguesa na Ásia, é um lugar excelente.” Em breve, Miriam tenciona regressar ao Japão e lá ensinar uma das línguas que lhe roubou o coração.