Tudo a postos para assumir o papel de país parceiro na MIF

Moçambique é o “país parceiro” da 23.ª edição da Feira Internacional de Macau (MIF), organizada pelo Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), que decorre nos dias 18, 19 e 20 de Outubro. A Agência para a Promoção de Investimentos e Exportação (APIEX) de Moçambique tem tudo a postos para aquela que considera ser “uma grande oportunidade” de o país utilizar Macau como plataforma para a China

Texto Dalton Sitoe      EM MOÇAMBIQUE

Mais de 30 empresas moçambicanas com interesse no mercado chinês estão a preparar a sua participação na 23.ª edição da Feira Internacional de Macau (MIF), a decorrer de 18 a 20 de Outubro. O número final de empresas, no entanto, ainda não está completamente fechado e poderá chegar às 50, tendo em conta a previsão da Agência para a Promoção de Investimentos e Exportação (APIEX) de Moçambique, instituição governamental responsável por organizar a presença de Moçambique na MIF. 

A participação do país africano dá-se na sequência do convite formulado em Março para que se fizesse presente na maior feira de negócios da RAEM, na qualidade de “país parceiro”. O director-geral da APIEX, Lourenço Sambo, afirmou que as empresas foram seleccionadas tendo em conta as necessidades da província de Fujian. “Fizemos um trabalho que consistiu na identificação das necessidades do mercado chinês, em particular da província de Fujian, e posteriormente endereçámos convites a empresas moçambicanas que melhor respondem às necessidades identificadas. Igualmente, divulgámos o evento através das nossas câmaras de comércio e associações económicas”, explicou Sambo à MACAU. 

A participação moçambicana vai ter em conta os quatro sectores prioritários para o presente quinquénio governamental naquele país africano. O Pavilhão de Moçambique foi pensado para apresentar um design com informação multissectorial sobre agricultura e agroprocessamento, infra-estruturas, energia e turismo. “Paralelamente, iremos organizar seminários temáticos, com um público especializado, onde iremos apresentar e discutir propostas concretas de investimento. Para os seminários serão definidos temas tendo em conta o potencial e o interesse da província parceira de Fujian”, acrescentou o dirigente. 

Moçambique irá ainda privilegiar encontros de negócio para potenciar o estabelecimento de parcerias entre empresários chineses e moçambicanos. Aliás, a ambição levada para a MIF é a de atrair investimentos nas áreas prioritárias para Moçambique, bem como estabelecer parcerias estratégicas com empresários chineses.  

Sambo considera um grande privilégio e uma responsabilidade a oportunidade de tomar parte de um evento como a MIF, na qualidade de “país parceiro”. “Ser o país parceiro é um enorme privilégio, pois a Feira serve de plataforma para o acesso a vários homens de negócios em várias áreas. É também uma grande responsabilidade, porque o nível de exigência do mercado chinês, e do asiático no geral, é maior. Mas acreditamos que Moçambique estará muito bem representado e poderá atrair vários investimentos e estabelecer parcerias”, aponta Lourenço Sambo. 

 

Mais investimento para Moçambique 

O primeiro-ministro de Moçambique, Carlos Agostinho do Rosário, garantiu que o seu país tem todo o interesse em desenvolver as relações com Macau na sua qualidade de plataforma na relação comercial entre a China e os países de língua portuguesa, com o objectivo de atrair mais empresas interessadas em investir em Moçambique. 

O primeiro-ministro falava durante um encontro que teve em Maputo, em Março deste ano, com uma delegação do IPIM, que esteve na capital moçambicana para promover a MIF. Glória Batalha Ung, vogal executiva do IPIM, reuniu-se também com Liu Xiaoguang, conselheiro económico e comercial da Embaixada da República Popular da China em Moçambique, que assegurou que a representação diplomática chinesa mantém contactos estreitos com a APIEX, com vista a explorar vias de cooperação na facilitação do comércio, e manifestou o desejo de que um maior número de empresas chinesas possa desenvolver oportunidades de negócio em Moçambique. 

Segundo dados do Conselho de Ministros de Moçambique, a economia do país cresceu a uma taxa de 3,2 por cento no primeiro semestre de 2018, um acréscimo de 20 pontos base relativamente ao valor apurado no período homólogo de 2017. De acordo com as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), a perspectiva de curto prazo da economia de Moçambique é de uma recuperação gradual na actividade económica e uma inflação controlada, prevendo-se um crescimento real do Produto Interno Bruto de 3,5 a 4 por cento em 2018, que deverá crescer para 4 a 4,5 por cento em 2019. 

 

Apoios e formação 

As relações diplomáticas entre a República Popular da China e Moçambique foram formalmente estabelecidas a 25 de Junho de 1975, aquando da independência do país africano. No início de Setembro, durante a terceira edição do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, classificou a cooperação entre Moçambique e China como uma relação sólida que ninguém vai derrubar. “A árvore plantada com amor é a verdadeira amizade entre Moçambique e China porque ninguém a vai derrubar”, referiu, citado pela Agência de Informação de Moçambique (AIM). 

Segundo os números apresentados pelo chefe de Estado no fórum de negócios que antecedeu o FOCAC, a China tornou-se num dos maiores investidores no país: no período entre 2013 e o primeiro semestre deste ano, foram aprovados 149 projectos correspondentes a 751 milhões de dólares norte-americanos de investimento directo estrangeiro, susceptíveis de criar cerca de 20 mil postos de trabalho. 

Nyusi destacou a presença da China nos sectores do turismo, ecoturismo, agricultura, agro-indústria, mineração, produção de energia e infra-estruturas. “A República Popular da China é o maior investidor na indústria hoteleira e está também na aquacultura e pescas onde os volumes de produção têm estado a crescer anualmente”, sublinhou. 

O presidente moçambicano teve ainda a oportunidade de reunir-se com representantes de 11 empresas chinesas, entre as quais algumas já presentes em Moçambique e outras que pretendem ir se estabelecer no país. Entre os entendimentos estabelecidos por entidades dos dois países, o banco “Millennium bim” assinou um memorando com a Fosun International, empresa que opera na área de finanças, seguro, turismo e saúde. 

Em Junho, os dois países anunciaram que a China vai disponibilizar um total de 100 milhões de dólares norte-americanos para apoiar quatro projectos nas áreas de infra-estruturas e educação em Moçambique. O anúncio foi feito após a assinatura de acordos entre a vice-ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, Maria Lucas, e o vice-ministro do Comércio da China, Qien Keming. 

Segundo o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, Belmiro Malate, no primeiro memorando, o Governo chinês compromete-se a construir um instituto técnico-profissional na Gorongosa, no centro de Moçambique, uma instituição que se espera possa formar 740 pessoas por ano. “A intenção é que a escola beneficie a juventude da zona centro de Moçambique”, explicou Belmiro Malate. 

No segundo memorando, ainda segundo Malate, a China vai apoiar Moçambique na assistência técnica a quadros para a manutenção do Estádio Nacional de Zimpeto, num projecto em que se prevê que o país asiático envie engenheiros para formar profissionais moçambicanos por um período de três anos. 

O terceiro memorando diz respeito ao sector agrário, em que o Governo chinês se compromete a enviar profissionais para formar quadros de instituições moçambicanas em matérias ligadas a investigação e produção na área de agricultura, também por três anos. 

O último acordo da continuação ao projecto de construção do Aeroporto de Xai-Xai, no sul do país, depois de o país asiático ter anunciado um financiamento de cerca de 25 milhões de euros para a infraestrutura, apoiando agora Moçambique na aplicação.