Investimento chinês em Portugal em alta

As empresas chinesas aproveitaram o arranque das privatizações em Portugal para investir em sectores como energia, banca, seguros ou imobiliário, com o país a servir de porta de entrada para a Europa e países de língua oficial portuguesa. Apesar do investimento chinês estar em constante crescimento, a comunidade chinesa residente em Portugal quer ainda mais

Texto Alexandra Luís, Mário Baptista e Ricardo Jorge Pinto 

O investimento de capital chinês em Portugal subiu 7,27 por cento no ano passado face aos valores de 2017, tendo sido investidos 5,24 mil milhões de euros (cerca de 48 mil milhões de patacas), segundo dados divulgados, em Fevereiro, pelo embaixador da República Popular da China em Portugal, Cai Run.  

Falando durante a sessão de abertura da conferência “40 anos de relações diplomáticas entre Portugal e a República Popular da China”, Cai Run vincou que o investimento chinês tem vindo a aumentar e disse esperar que as trocas comerciais aumentem ainda mais nos próximos anos. 

Na intervenção em chinês, com tradução simultânea para português através de intérprete, o embaixador da China em Portugal disse também que o investimento total ultrapassou os 9000 milhões de euros, vincando que o investimento português na China “também é muito significativo”. 

Chineses em Portugal querem mais  

O presidente da Liga dos Chineses em Portugal, Y Ping Chow aposta na criação de uma Câmara de Comércio China-Portugal para atrair mais investimento chinês, sobretudo porque Portugal é uma boa porta para investimento em África. Para Y Ping Chow, há ainda muito caminho para percorrer no que diz respeito à atracção de investimento chinês em Portugal, apesar das apostas que grandes empresas chinesas têm feito em sectores como a banca ou a energia. 

O líder da comunidade chinesa em Portugal considera que uma câmara de comércio é uma alavanca importante, sobretudo para atrair o investimento de pequenas e médias empresas chinesas (que serão sempre grandes empresas à dimensão europeia) que olham não apenas para o território português, mas também para a capacidade de influência que Portugal tem nos países africanos de língua portuguesa. 

Ping Chow acredita que é fácil estabelecer essa câmara de comércio em Portugal, mas aponta que a maior dificuldade será encontrar interlocutores na China para essa organização, já que é necessário sensibilizar um conjunto de empresas para a relevância desse investimento. 

“Tenho mantido alguns contactos a nível diplomático e, por isso, acredito que este projecto é viável e útilafirmou Y Ping Chow. “Há o interesse de muitas empresas estatais chinesas para esta câmara de comércio, principalmente as de infra-estruturas e de construção. Este interesse é um sinal da amizade entre Portugal e a China”, considerou, dizendo que “os portugueses aceitam bem o investimento chinês e os chineses sentem-se bem em Portugal”. 

Mas Y Ping Chow realçou o interesse na capacidade de influência das empresas portuguesas na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). “Portugal é uma porta da entrada para África. Portugal é importante, mas a CPLP é ainda mais importante”, confessa. Y Ping Chow referiu a recente visita do Presidente da China, Xi Jinping, a Lisboa como um momento importante que ajudou a criar condições para esta nova etapa de relações. “Com os muitos protocolos que foram assinados nessa visita, acredito que não faltarão empresas chinesas interessadas em apostar em Portugal e nos países de língua portuguesa”, disse o empresário chinês. 

Ping Chow disse que o número de chineses que procuram Portugal para viver e trabalhar estabilizou e que o programa de vistos dourados pode ser mais bem aproveitado para renovar a comunidade chinesa, sobretudo se for capaz de atrair empresários com bons contactos na China que seriam capazes de trazer novas pessoas. “Portugal continua a ser um bom país para chineses”, afirmou o empresário que pertence à terceira geração de chineses em Portugal e que está na região norte do país desde o início dos anos 1960. 

Para Y Ping Chow, o ensino e a divulgação da língua chinesa em Portugal podem contribuir para tornar a China um país mais relevante para os portugueses. “Não podemos esquecer que, dentro de alguns anos, a China será a maior potência mundial e aprender chinês será tão importante como aprender inglês”, disse o empresário. 

Por outro lado, notou, o facto de os chineses em Portugal estarem cada vez mais a aprender português é igualmente um factor para uma maior abertura da comunidade, bem como para um melhor entendimento entre os dois povos. 

O empresário acredita também que o turismo é o negócio que mais poderá aproximar a China de Portugal, nos próximos anos, pelo potencial de crescimento que revela. “Os chineses que procuram Portugal para fazer turismo são os reformados e o número de reformados na China está neste momento a aumentar muito”, disse. 

Os números oficiais referem este aumento de procura, tal como indicam que os chineses são os turistas que mais divisas gastam quando se encontram em Portugal. “Os turistas que nos visitam ficam apenas dois ou três dias. Geralmente, vêm à Península Ibérica num modelo de sete dias e ficam cinco dias em Espanha e dois em Portugal. É preciso encontrar pacotes turísticos que levem esses turistas a passar mais tempo em Portugal”, afirmou. 

PORTUGAL QUER ALARGAR COOPERAÇÃO  

Portugal pretende alargar a cooperação com a China “além dos sectores já explorados e também para outros territórios”, salientou o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias. Para o governante português, “as relações não se esgotam no mercado financeiro, energético e segurador mas começam a estar nos serviços, indústria e mobilidade elétrica”.  

O secretário de Estado considerou ser importante proporcionar um “investimento de tracção”, com o envolvimento das pequenas e médias empresas. Eurico Brilhante Dias disse ainda que é preciso, dentro do quadro dos acordos e parcerias, um “reforço no âmbito fitossanitário” e ainda “na exploração em conjunto de ligações por mar e aéreas”. “É preciso um reforço nos instrumentos de operacionalização”, dos tratados e parcerias entre os dois países, referiu. 

A parceria económica e empresarial entre Portugal e China, com os acordos assinados – nomeadamente a Parceria Estratégica Global Portugal-China, assinada em 2005 – “tem tido uma importância no desenvolvimento da internacionalização da economia portuguesa”, acrescentou. Eurico Brilhante Dias também destacou a cooperação luso-chinesa “em relação aos países de língua portuguesa”, que considerou ter um potencial de aprofundamento nas relações económicas, comerciais, culturais e de criação de conhecimento.