“O turismo multi-destinos é uma nova tendência”, defende Fanny Vong

O Instituto de Formação Turística de Macau (IFTM) deu recentemente passos para se estabelecer na vizinha Hengqin e é co-fundador de um centro que pretende desenvolver o sector do turismo na Área da Grande Baía (AGB). Em entrevista à MACAU, a presidente do IFTM, Fanny Vong, fala do papel que o instituto espera ter no desenvolvimento regional do sector do turismo 

Texto Paulo Barbosa | Fotos IFTM 

Qual será o papel do IFTM no novo instituto focado para desenvolver o turismo na Grande Baía, a ser estabelecido em Zhuhai? 

Em Dezembro de 2019, o IFTM foi nomeado pelo Ministério da Cultura e Turismo da República Popular da China para ser a entidade ligada ao Governo da RAEM que terá a tarefa de desenvolver Macau no sentido de se tornar uma base para a formação turística na Área da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Para começar a ter um papel de liderança neste domínio, o IFTM estabeleceu o Centro de Colaboração em Educação para o Turismo da AGB (também conhecido como Centro de Colaboração do IFTM) em Zhuhai, como uma extensão da sua base em Macau. Isto foi feito para que os recursos educacionais na área de turismo em Macau possam irradiar para outras cidades da AGB com mais eficiência. Também estabelecemos um centro de formação em Hengqin para ir ao encontro da política inovadora da Ilha Internacional de Turismo de Lazer de Hengqin. Olhando para o futuro, com a orientação dada pelas autoridades relevantes, o IFTM usará o Centro de Colaboração e a sua base formativa em Hengqin como formas para integrar recursos com todos os parceiros e cumprir as metas que foram estabelecidas, nomeadamente nutrir talentos nas cidades da AGB, proporcionar uma integração do turismo nessa área e construir um destino turístico de classe mundial. 

O IFTM tem treinado recursos humanos para a indústria do turismo de Macau, que cresceu exponencialmente nos últimos anos. Com estes desenvolvimentos, o instituto irá partilhar recursos com toda a região. O que irão o IFTM e Macau receber em troca? 

A transferência de conhecimento, a mobilidade de especialistas e o efeito de sinergia na criação de uma marca AGB associada a um destino turístico de classe mundial estão entre os benefícios que o IFTM e Macau poderão obter em troca. O IFTM tem-se esforçado ao máximo para criar conhecimentos especializados no sector do turismo e agradecemos que os nossos esforços estejam a ser reconhecidos. No entanto, Macau é uma cidade bastante pequena e os nossos conhecimentos em termos de ‘turismo inteligente’ podem não crescer tão rapidamente como noutras cidades da Grande Baía. O termo ‘inteligente’ tornou-se vital na hotelaria e turismo. Todos gostariam de adquirir e integrar conhecimentos nessa área. As novas tecnologias podem melhorar significativamente a experiência do cliente e diminuir a mão-de-obra, o que é algo que interessa à maioria dos empreendedores. E essas tecnologias inteligentes estão a crescer muito rapidamente nas cidades da AGB. Assim, com este novo centro de colaboração, temos mais oportunidades de trocar informações com os operadores de turismo da AGB e ter acesso às últimas novidades. Esta troca pode servir para melhorar o padrão da indústria de turismo de Macau. Também aprendemos muito com a experiência de nossos parceiros de Guangdong. Eles são muito fortes em muitas áreas, como estudos de património, gestão de multidões e outras aplicações de tecnologia no sector do turismo. 

No âmbito deste novo centro, estão planeadas acções de formação a realizar em hotéis de luxo locais. Actualmente, a qualidade da indústria do turismo em algumas partes da AGB ainda está abaixo dos padrões internacionais e de Macau. Vê essa lacuna a diminuir no futuro? 

Um dos principais objectivos no estabelecimento desse novo centro é diminuir as diferenças entre os padrões de qualidade do sector entre a China – especialmente as cidades da AGB – e o que se verifica internacionalmente. Recentemente, inquirimos  as necessidades de formação das 10 cidades da AGB. Agora, começaremos a unir recursos dos institutos regionais para promover a cooperação e o intercâmbio na educação turística entre estas cidades, oferecendo cursos adaptados especialmente para cada uma. Na província de Guangdong, existem redes internacionais de hotéis, redes nacionais de hotéis e hotéis independentes. A qualidade dos serviços que prestam varia muito, pois alguns deles disponibilizam formação interna e têm procedimentos operacionais adequados. O que precisamos de fazer é diminuir a distância qualitativa entre esses hotéis. Isso é algo que temos feito em Macau nos últimos 20 anos, com algum sucesso, através da introdução do Sistema de Reconhecimento de Habilitações Ocupacionais. Podemos replicar isso em Guangdong. Para poder fazê-lo, em Dezembro passado montámos uma Aliança de Educação Profissional de Turismo da Grande Baía – os membros dessa aliança incluem escolas profissionais, institutos de ensino superior, associações de turismo e empresas de turismo. Um dos principais objectivos dessa aliança é trabalhar em conjunto para melhorar o padrão geral de serviço da indústria do turismo. O IFTM vai formar professores para esses institutos, associações e empresas de ensino. Dessa forma, o impacto dessa formação será muito grande e os resultados serão visíveis muito em breve. Como o material formativo é fornecido pelo IFTM e as avaliações são monitorizadas, a qualidade da formação poderá ser garantida.  

Além do Centro de Colaboração, o IFTM irá também desenvolver um novo projecto em Hengqin. Qual é a relação entre estes dois projectos? 

O Centro de Colaboração foi estabelecido em conjunto por três instituições: o IFTM, o Departamento de Rádio, Televisão, Cultura, Turismo e Desporto de Zhuhai e o Zhuhai Zhu Kuan Group Holdings. O centro de formação em Hengqin foi estabelecido entre o IFTM e o Comité Administrativo da Nova Área de Hengqin. 

Como vê o desenvolvimento de Hengqin como um destino turístico? Já foram lá construídas, ou estão em fase de construção, impressionantes instalações recreativas. Mas ainda não existem muitos hotéis e restaurantes de alta qualidade. Foi por isso que o IFTM quis estabelecer um centro em Hengqin? 

Hengqin é uma ilha bonita, com todo o potencial para ser transformada num destino turístico de primeira classe. A ilha possui muitas áreas intocadas, muito adequadas para o desenvolvimento do ecoturismo e do turismo de lazer. Instalações como o Sumlodol Camping Park e o Lionsgate Entertainment World comprovam a ambição de Hengqin em transformar-se num destino turístico para chineses e viajantes estrangeiros. Eles têm trabalhado arduamente na construção de infra-estruturas fascinantes para atrair vários tipos de viajantes. No entanto, o software de Hengqin, em termos de hotéis de qualidade e de profissionais no sector do turismo, ainda é fraco. Pelo que há uma elevada procura de formação. Por outro lado, devido à questão do visto entre fronteiras, por vezes, os formandos do Interior do País não conseguem vir muito a Macau. Nesses casos, Hengqin e o centro de formação do IFTM serão locais muito bons para superar essa limitação. 

De que forma irá Macau beneficiar da proximidade relativamente a este novo destino e também à maior conectividade com Hong Kong?  

Estão criadas sinergias entre cidades próximas. O turismo multi-destinos é uma nova tendência para visitantes que querem explorar várias cidades durante a sua viagem. Com a abertura da Fronteira de Lótus [em Henqqin, sob jurisdição das autoridades locais], o tempo necessário para viajar para Macau foi reduzido. Isto pode aumentar a atractividade de Macau para esse tipo turismo, especialmente quando têm um tempo limitado para fazer a viagem. Mas, para que isso aconteça, Macau precisa de estabelecer parcerias com regiões vizinhas, por forma a ter condições para oferecer pacotes de viagem mais atractivos. Não tenho dúvidas de que Hengqin pode acrescentar muito valor a esses pacotes, mas a mobilidade transfronteiriça tem que ser simplificada para que isto resulte. Não é um processo simples, dado que Hong Kong, Macau e Zhuhai têm jurisdições diferentes.  

Há mais parcerias planeadas com outras organizações por forma a melhorar a educação turística na GBA? 

Três entidades governamentais – Serviços de Turismo, Direcção de Serviços do Ensino Superior, Direcção de Serviços de Educação e Juventude – e todas as 10 instituições de ensino superior de Macau assinaram um acordo de cooperação em 2018 e estabeleceram uma aliança que vai reunir os recursos e juntar forças para que esse objectivo seja alcançado. Em acréscimo, o IFTM tem também uma aliança com a Universidade Politécnica de Hong Kong e com a Universidade Sun Yat-sen para produzir estudos relacionados com o sector turístico na AGB e constituir um think tank. Recentemente, este centro está a planear um projecto para analisar o impacto da epidemia da Covid-19 no turismo da AGB e as medidas que poderão ser tomadas para recuperar a indústria. Em 2019, com o objectivo de concentrar recursos de institutos vocacionais e promover a cooperação e trocas na educação profissional, o IFTM formou uma aliança para a educação profissional no sector do turismo na AGB.  

O IFTM estabeleceu recentemente um acordo com a empresa chinesa de tecnologia Tencent. De que forma é que esse acordo se poderá reflectir na experiência dos alunos? 

Esse acordo tem o objectivo de desenvolver conjuntamente programas de ensino inovadores nos campos da educação para o turismo inteligente, computação em nuvem e inteligência artificial.  

Quais foram os principais impactos da pandemia da Covid-19 neste último semestre? 

Devido ao surto epidémico e às restrições de movimentos implementadas, a maioria dos eventos relacionados com a AGB foi suspensa. Alguma da formação teve que ser feita online. Desta forma não pudemos garantir a interacção entre participantes nem organizar visitas de estudo, que são valiosas para que os participantes possam compreender os bastidores das operações. Também não foi possível trocar pontos de vista com líderes da indústria. Devido a esta situação, diversos cursos e actividades que estavam planeadas para a primeira metade do ano foram adiadas. Mas aproveitámos a oportunidade e o tempo disponível para converter alguns cursos para um formato digital. Também agendámos alguns cursos online dirigidos para profissionais do turismo da AGB, por forma a que pudessem enriquecer os seus conhecimentos e estarem melhor preparados para futuros desafios.  

Que novidades irá o IFTM introduzir para o próximo ano lectivo? 

Continuaremos a auscultar os nossos parceiros nas cidades da AGB por forma a oferecer cursos especializados baseados nas suas necessidades. A lista das nossas formações está em constante actualização.