Forget the G: banda orgulhosamente de Macau

Uma das bandas mais experimentalistas de Macau, os Forget the G, preparam o seu quinto disco e regressaram agora de uma digressão bem-sucedida ao Japão. O fundador do grupo, Eric Chan, descreve os principais momentos da já longa carreira da banda local

Texto Paulo Barbosa | Fotos DR/Divulgação da banda

Os Forget the G, banda de rock alternativo de Macau, lançaram recentemente o seu quarto álbum original e preparam já um novo trabalho. Misturando post-rock com som experimental e improvisação, o grupo tem vindo a ganhar seguidores ao longo dos anos. Fruto de várias digressões, o seu público vai muito para além desta cidade e estende-se por locais como Japão, Taiwan e o Interior do País.

A banda tem uma longa história, que começa em 2005 na Austrália, onde Eric Chan estudava sonografia. Foi naquele país que o guitarrista e vocalista protagonizou os primeiros concertos dos Forget the G.

Natural de Hong Kong, Eric veio trabalhar para Macau em 2006 e aqui procurou músicos locais para continuar o projecto. Começou então a encarnação local da banda, que ganhou dois novos músicos, a pianista Frog Wong e o baterista Fi Chan.

Ao primeiro álbum, Prologue (2010), sucederam-se I See You Watching Me While I’m Watching You, Further e, já este ano, Dark Times.

Quando actuam fora do território, os Forget the G apresentam-se sempre como banda de Macau. Entrevistado pela MACAU, Eric comenta que a região ganhou notoriedade em anos recentes. “Quando tocávamos em 2009 no Interior do País, achavam que Macau era um sítio muito exótico. Mas agora sabem que tem um lado muito turístico. Ficou melhor, embora em termos culturais ainda haja muito a fazer”, diz, acrescentando que só existe um palco permanente para a música alternativa no enclave.

Trata-se da sala de concertos da Live Music Association (LMA), situada na Avenida Coronel Mesquita. “Mas esse não é o principal problema”, comenta Eric, que também é promotor de concertos em Macau e Hong Kong (onde organiza o festival de música experimental “Kill the Silence”). “O problema é o público, que é escasso. Num espectáculo com uma banda local consegue-se ter 30 pessoas. Isso é muito pouco, os promotores têm que alugar o espaço para realizar o concerto.”

O fundador descreve o som da banda como um rock gótico e alternativo, com letras sempre em inglês. “Não é tão pop como o grunge, tem uma mistura de coisas experimentais. Eu sou um artista do noise enquanto artista a solo, usando guitarras, voz e piano. Faço muito isso e incorporo isso na banda. Temos o nosso set de rock convencional e, para além disso, também fazemos apresentações mais experimentais, às vezes com som ambiente.”

Álbuns são ponto alto

Questionado sobre o ponto alto da carreira dos Forget the G, Eric Chan diz preferir o processo criativo da concepção dos álbuns aos concertos e digressões. “Temos evoluído a forma como fazemos música, incorporando a ideia da improvisação e manipulando o som até produzirmos o álbum.  O que tentámos conseguir em cada álbum foi diferente. Cada um foi concebido como uma peça de arte.”

O músico recorda com especial orgulho o segundo álbum do grupo, que foi feito na base da improvisação e ao vivo. “Transformámos uma das salas dentro da Casa de Vidro da Praça Tap Seac num estúdio. Estivemos lá dois dias, a gravar e a compor 10 horas por dia, enquanto o público assistia. Foi uma performance incluída no Festival Fringe. As pessoas eram convidadas para o estúdio para ver como estávamos a compor.”

O resultado dessa actuação única e irrepetível foram os nove temas do segundo álbum da banda, I See You Watching Me While I’m Watching You, co-produzido por Manny Nieto, que trabalhou com bandas como The Breeders.

Quanto a concertos, a digressão mais recente levou os Forget the G ao Japão durante o mês de Outubro do ano passado. “Não fazemos muitas tournées, mas tentamos sair sempre que podemos. Estivemos no Interior do País, em Taiwan, na Malásia e em Singapura. No Japão, esta foi a segunda vez e fomos muito bem recebidos, voltámos a algumas salas de concertos onde tínhamos estado, o que é sempre bom para uma banda de Macau”, descreve Eric Chan.

Em concerto, a banda geralmente apresenta-se com um repertório menos alternativo, tocando temas de rock convencional. Essa, diz o vocalista, é a maneira mais fácil de conseguir marcações para novos espectáculos. Mas há excepções onde é dado azo ao experimentalismo, como no Festival Fringe, onde a banda local marcou presença em cinco edições.

Aí, por exemplo, fizeram apresentações multimédia e projecções vídeo enquanto tocavam atrás da cortina. O público local mais atento recordará também um concerto em 2014 com o famoso artista performativo Olivier de Sagazan. Os Forget the G fizeram uma espécie de banda sonora para uma das performances que celebrizou Sagazan, “Transfiguration”.

“Tempos sombrios”

Este ano, os Forget the G lançaram o álbum Dark Times, escrito ao longo de três dias em Macau, com a colaboração do guitarrista convidado Ed Poon, que se juntou em improvisação com a banda no LMA.

De acordo com Eric Chan, “o álbum reflecte o seu nome e é o mais negro da carreira da banda, sendo também uma reflexão pessoal sobre uma certa falta de esperança na sociedade e na humanidade”.

A banda trabalha já num próximo disco a lançar no próximo ano. A edição é apoiada pelo Instituto Cultural, no âmbito de um programa de apoio à edição de álbuns originais. Com novos temas em carteira, esperam iniciar uma digressão que passe pelo Japão, onde já têm alguma popularidade.

Para além do Japão, o conjunto local tem seguidores em Taiwan, onde estiveram presentes em 2012 no Ho Hai Yai Festival, considerado o maior evento de música rock daquela região, e também no Beastie Rock Festival.

***

Artista multifacteado

Eric Chan é o mentor de uma editora que produz artistas locais, de Hong Kong e Taiwan. A editora tem a peculiaridade de fazer lançamentos em CD, e também em formatos clássicos, como as velhinhas cassetes magnéticas e o disco vinil. Chan é também autor uma carreira a solo com o nome artístico e:ch, tendo já lançado dois álbuns. A pianista Frog Wong é igualmente autora de dois álbuns a solo.